Foi uma noite difícil. A febre cedeu um pouco após o efeito do antitérmico. Mas durante a alta madrugada, a temperatura do corpo de Will subiu novamente. Passei horas fazendo compressas frias com uma toalha em sua cabeça.
_ Onde eles estão? _ Will sussurra.
A cabeça vira de um lado para o outro com os olhos fechados.
_ Meu Deus, ele está delirando. _ Comento baixinho.
Brutus ergue a cabeça em sinal de alerta.
_ Onde eles estão?! _ Dessa vez, o grito ecoa pelo quarto em silêncio.
O cão pula da cama assustado.
Will ergue um pouco o tronco. Seguro seus ombros suados.
Um choro desesperado brota do fundo do peito fazendo todo o corpo convulsionar.
_ Adam! Onde você está?! _ Will abre os olhos por alguns segundos ao gritar, mas volta a fechá-los.
Lágrimas escorrem pelos cantos dos olhos. Tento secar mesmo cega por minhas próprias lágrimas.
_ Calma, Will. _ Digo, ciente de que não está me ouvindo.
_ Mãe! Me perdoa! _ Will agora chora feito criança.
As mãos se fecham no lençol e o corpo se retorce na cama.
Meu coração se aperta no peito. Nesse momento, a dor de Will é também minha. Mas me sinto impotente, sem saber o que fazer.
Em algum momento da noite, ele se acalmou. A febre foi embora de vez e eu adormeci ao seu lado.
Acordo com uma fresta de luz incidindo em meu rosto. Abro os olhos devagar e observo a janela que dá vista para as montanhas.
Está claro lá fora e parou de nevar.
Olho para o lado onde Will esteve deitado. O lugar está vazio, sem sinais do travesseiro e do lençol.
O relógio da cômoda marca onze e vinte e cinco da manhã.
Levanto e saio do quarto à procura de Will. Desço a escada e antes de olhar nos outros cômodos da casa, vejo-o do lado de fora, na varanda.
Abro a proteção de tela da porta.
_ Você acordou. _ Ele se vira assim que piso na varanda.
Um arrepio atinge meu corpo coberto apenas pelo camisão que dormi. Cruzo os braços para proteger-me da brisa fria. Dou um chiado de reclamação.
Imediatamente, Will tira um dos casacos e coloca-o sobre meus ombros.
_ Não devia sair assim. _ Segura as golas da peça bem maior que o meu tamanho, puxando-me para perto.
Parece outra pessoa. Bem disposto como sempre. Os cabelos castanhos claros estão bagunçados de quem acabou de lavar. Os únicos sinais da noite passada são as leves olheiras embaixo dos olhos.
_ O que está fazendo aqui fora? Era para estar em repouso.
_ Já estou bem. Descansei o suficiente. _ Will repuxa um canto da boca, solta-me e se vira em direção à floresta em frente à cabana.
As mãos que seguravam o casaco agora apertam o cercado da varanda deixando os nós dos dedos esbranquiçados.
_ Já ia levar o café da manhã, mas preferi deixá-la dormir mais. Sei que deve ter sido uma noite difícil. _ As mandíbulas se apertam em sinal de tensão.
_ Não estou com fome ainda. Mas gostaria de conversar.
Ele está na defensiva. Deve lembrar de alguma coisa que disse.
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Uma cabana na montanha
RomanceMaria Lúcia Brandão está prestes a se consolidar na carreira jornalística, tornando-se "âncora" do noticiário mais assistido em todo o país. Malu, como é conhecida na TV, seguiu os passos do pai, Dalmo Brandão, ex-atleta de basquete e atual comentar...