Capítulo 48 - Brutus - Parte 3

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Tenho dormido na cabana desde o incidente com Brutus. Primeiro para ajudar Will com o cão e segundo porque ele insiste que a casa de meu tio não é segura. Alguém quer muito algo que está lá e provavelmente voltará.

Will tem sido muito forte nas últimas semanas. Tanta coisa aconteceu e mesmo assim não deixou de frequentar as consultas com a doutora Allana, nem de fazer terapia. Mas sei que seu emocional está abalado, porque o sono tem estado agitado e algumas vezes, fala dormindo.

Esperei os dias críticos com Brutus passarem para falar sobre a revelação de Ross...

_ Muita coisa se explica do comportamento provocativo dele. Acreditou que em todo esse tempo você sabia da existência da criança, mas preferiu ignorá-la. _ Explico a Will enquanto estamos sentados lado a lado em um tronco de árvore do lado de fora da cabana.

Will acena a cabeça indignado.

_ Tudo se resolveria se tivessem me contado. Mas não posso culpá-los. Estive por muito tempo isolado nessa montanha. Não permiti que as pessoas se aproximassem. Estava tão preocupado comigo que não enxerguei nada ao redor.

Toco em sua mão apoiada na coxa.

_ Você estava ferido e o isolamento foi a forma que encontrou de se proteger.

Will observa nossas mãos e entrelaça os dedos nos meus.

_ O que mais Ross disse?

_ Contou que a irmã engravidou muito jovem e passou por dificuldades para criar o bebê. Como irmão mais velho, fez o que pode, pois já não tinham os pais nessa época.

_ Onde ela e a criança estão agora?

_ Ela trabalha como garçonete em um distrito próximo. A criança está com oito anos, frequenta a escola e é um menino muito inteligente. Você tem um sobrinho, Will. _ Balanço sua mão.

Will sorri de lado um pouco inseguro, mas ainda assim consegue aquecer meu peito.

_ Quem diria... _ Inspira profundamente. _ Seria incrível poder conviver com alguém que carrega o sangue de meu irmão nas veias. Seria como ter uma parte dele de volta.

_ Eu sei. É um presente que a vida está te dando. Uma chance de recomeçar. De construir novos laços. _ Aperto sua mão.

_ Mas prefiro não criar expectativas. Não sei se a mãe dessa criança aceitará minha aproximação. Ela deve me odiar. Imagino o quanto sua vida foi difícil e o ambiente hostil em que o menino foi criado. Porque Ross não é alguém tolerante e amável. Tem um gênio terrível e problemas com álcool. A esposa o abandonou por agressão. _ Will conclui com expressão preocupada.

Suspiro.

_ O que acha de esperarmos só mais alguns dias até que tudo se resolva? Depois tentamos encontrá-los para conversar. _ Proponho.

Will concorda.

_ Obrigado. _ Puxa-me para seu colo. _ Não sei se teria coragem para enfrentar tudo isso sem você.

Seguro seu rosto entre minhas mãos. Beijo seus olhos, a ponta do nariz e por último a boca.

O som do motor de um veículo se aproximando desvia nossa atenção. O carro desconhecido com vidros escuros passa em frente a cabana e segue montanha acima pela estrada.

_ Está indo para a casa de meu tio. _ Sussurro como quem compartilha um segredo.

Will cerra os olhos.

_ Vamos descobrir agora quem está insistindo em invadir a casa. _ Desliza-me de seu colo e levanta. _ Tenho uma conta para acertar com essa pessoa.

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O sol já se escondeu atrás das montanhas há algum tempo. Ninguém escolheria uma hora dessas para fazer visita nessa região.

Will fez um percurso diferente até a casa. Evitou a estrada. Foi por dentro da floresta. Não permitiu que eu o acompanhasse. Então, esperei ele sair e o segui mais atrás. Porém, assim que enveredei pela mata fui surpreendida por uma mão tapando minha boca e arrastando-me para atrás de uma árvore.

_ Você tem sérios problemas em seguir ordens, sabia? Seria uma péssima recruta. _ Will sussurra em meu ouvido.

_ Por isso sou repórter. _ Giro o corpo e apoio as mãos em seu peito. _ Curiosidade e ousadia sempre me garantiram os melhores furos de reportagem.

Will analisa a situação por alguns segundos.

_ Não dá tempo de levá-la de volta. Então, fique atrás de mim, ouviu? Tente obedecer-me pelo menos dessa vez. Sabemos do que ele é capaz. Não é momento de ser curiosa, muito menos ousada.

_ Está bem.

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Sigo Will pela trilha do bosque. Quando chegamos nas proximidades da casa, ele gesticula para que me mantenha em silêncio e abaixada.

_ O carro está em frente a casa. Tem um homem olhando pela vidraça. _ Will averigua entre as folhagens.

_ Acha que é o invasor do outro dia? _ Pergunto escondida atrás dele.

_ É possível que seja, mas não tenho certeza. Não vi o rosto de quem tentou atirar em mim e acabou atingindo Brutus.

_ De qualquer forma, é muito suspeito vir aqui a essa hora? _ Tento me esticar um pouco para espiar, mas Will segura meu braço.

_ Espere! Ele está forçando a maçaneta da porta.

_ Droga, então é o invasor mesmo! Vai arrombar a casa outra vez.

_ Uma ova que vai. Irá se arrepender de ter voltado. _ Will salta de dentro da mata caindo no jardim em frente a casa.

Tudo acontece muito rápido. Enquanto Will corre em direção à escada de entrada da casa, o homem gira nos calcanhares e o encara com expressão assustada.

_ Quem é você? O que quer aqui? _ Will interroga o homem enquanto puxa uma corrente do bolso e enrola na mão.

Percorro o limite entre o bosque e o quintal da casa tentando ter visão do que está acontecendo. Paro no exato momento em que um homem alto de terno desce os degraus da frente com as mãos erguidas. Noto tremores nas mãos e nas pernas longas e cambaleantes.

Will não lhe dá muito tempo para responder, sobe os últimos degraus e engancha o braço em seu pescoço.

_ O que pretende vindo aqui a essa hora? Está procurando o quê? Diga logo! _ Will o pressiona.

_ Por favor, não me machuque! Estou procurando minha cliente! Sou advogado!

Disparo de dentro da floresta quando reconheço a voz.

_ Will, solte-o! É um mal entendido! _ Aceno os braços.

_ Senhorita Brandão! Ah, graças a Deus! _ O doutor Velásquez está quase sem voz.

Will o solta e ele quase cai no chão.

_ Esse é o advogado que meu pai enviou para nos ajudar...

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