Capítulo 8 - Farsa?

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"O bom jornalista dá a notícia nua e crua, sem envolvimento emocional e muito menos a influência de sua opinião".

Esse foi o discurso que ouvi durante toda minha trajetória jornalística. Porém, desenvolvi um estilo próprio de trazer a verdade ao telespectador. Com irreverência, sem perder a ética e a sensibilidade.

A empatia que sempre transmiti nas coberturas de tragédias e questões sociais me aproximaram da população e muitos me paravam nas ruas como se encontrassem uma amiga com quem pudessem desabafar.

Esse retorno era o que mais me dava orgulho e talvez seja do que mais sentirei falta.

Lembro-me de ser abordada em um restaurante por uma senhora durante um almoço com Gael. Ela queria simplesmente dizer que admirava meu trabalho e gostava de mim por lembrá-la a filha que havia perdido.

Gael ficava extremamente desconfortável com essas situações. Na maioria das vezes se negava a tirar fotos ou dar qualquer tipo de atenção para as pessoas fora do horário de trabalho.

Sorrio pela ironia da situação. Gael sempre tão exigente e discreto cometeu a maior de todas as indiscrições sendo surpreendido tendo relações sexuais com a Editora-chefe no escritório.

Para garantir sua segurança, Valéria atacou antes de ser atacada. Levou à direção um pedido para que eu fosse afastada das atividades da emissora até que a mídia esquecesse as fofocas disseminadas por ela mesma e o amante.

Minha risada vai se tornando histérica até se transformar em choro. Abafo o som com o travesseiro fornecido pela aeromoça. A mulher na poltrona ao meu lado no avião abre os olhos e me observa.

_ Você está bem?

_ Está tudo bem, obrigada. _ Seco o rosto.

A questão é que as muitas horas de voo do Rio até Edmonton no Canadá, me deram tempo demais para pensar em tudo o que aconteceu nos últimos dias.

Agarrei-me à viagem como uma "tábua de salvação".

A matéria do site de fofocas com minha foto se alastrou por todas as redes sociais. Os mais variados tipos de comentários se multiplicaram. Alguns em minha defesa, outros maldosos e ainda teve os de ódio. Muita gente revoltada que acredita em tudo o que esses sensacionalistas postam.

De "queridinha nacional" passei a "filhinha de papai sem talento" que alcançou o status de melhor jornalista do país graças ao sucesso e conhecimento do pai rico.

Sinto como se as acusações estivessem presas em minha garganta e quando tento engolir, descem cortantes como farpas.

Tento dormir para descansar a mente exausta, porque quando estou acordada as dúvidas borbulham em minha cabeça como água fervente. Chego a questionar se os comentários não possuem em parte um fundo de verdade. Talvez não seja a profissional competente que imaginei. Talvez tenha me supervalorizado e não passo de uma farsa.

Meu coração se desespera ao imaginar que imerecidamente posso ter ocupado o lugar de alguém mais talentoso e experiente. E que me enganei acreditando que tudo que conquistei foi por mérito.

Reconheço que tive alguns privilégios durante a trajetória acadêmica. Estudei nos melhores colégios, fiz todos os cursos que desejei e completei a graduação com louvor. Mas me esforcei muito para retribuir todo investimento e expectativas dos meus pais.

Nunca me senti pressionada porque desde a adolescência sonhei em ser repórter. Mas em algum momento talvez eu tenha sido confiante demais e acreditado que estava pronta.

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Nota da autora:

Olá queridas leitoras! Obrigada por terem paciência e continuarem acompanhando "Uma cabana nas montanhas". Espero que entendam a demora, pois essa história ainda está sendo escrita e revisada, por isso levo mais tempo para postar. Mas não se preocupem, publicarei o romance até o fim.

Se quiserem ler um dos meus romances completos, tenho seis publicados no Wattpad.

Gostaria que me seguissem no Instagram (escritorasarasantos). Lá estou sempre trazendo novidades sobre meus romances e de outras escritoras.

Obrigada por lerem meus livros! ♡♡♡

Uma cabana na montanha Onde histórias criam vida. Descubra agora