Capítulo 51 - A verdade vindo à tona - Parte 2

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Malu

Will está sentado no sofá da sala da casa de meu tio com os cabelos molhados e usando apenas uma calça de moletom. Brutus está deitado aos seus pés.

Assim que chegamos do centro de Robson, ele se enfiou embaixo do chuveiro e ficou por muito tempo parado com as mãos apoiadas nos azulejos deixando que o jato d'água caísse sobre a cabeça.

_ Tudo bem? _ Aproximo-me com uma caneca de chá quente que acabo de fazer.

_ Parece que as Rocky Montains desabaram sobre mim. _ Repuxa o canto da boca enquanto pega a bebida calmante. _ É confuso sabe? Sinto-me envergonhado por estar aliviado.

Sento ao seu lado. Dobro as pernas e coloco as mãos unidas entre elas.

_ Entendo. Por anos, carregou uma culpa que não foi sua. Não teve o direito de viver o luto como deveria porque foi acusado pela morte de sua família. Estar aliviado agora é normal. Você também foi vítima daqueles psicopatas.

Will cerra os olhos pensativo.

_ Ainda há algo me deixando intrigado. Tenho certeza de que não foi Oliver que tentou invadir essa casa. O homem que persegui até a floresta e atirou em Brutus era mais alto e mais ágil.

_ Isso quer dizer que há mais gente escondendo coisas... _ Vincos de preocupação se formam em minha testa.

Will bebe o chá em um só gole.

_ Acho que preciso de algo mais forte essa noite. _ Põe a caneca no chão.

_ Melhor conversarmos com a doutora Allana primeiro. Ela ficará satisfeita em saber que recuperou a memória. Mas com certeza vai querer fazer alguns exames e bebidas alcoólicas não são indicadas nesse caso.

Will concorda com um aceno de cabeça.

_ Amanhã cedo iremos. Enquanto isso... _ Com um movimento ágil, Will me puxa para seu colo. _ Que tal fazer-me esquecer toda essa bagunça.

Apoio as pernas uma de cada lado de seu corpo e espalmo as mãos no peito tatuado. Will escorrega um pouco o corpo e me puxa encaixando-me nele. Meu corpo responde instantaneamente quando me movimento em seu colo. Sinto-me latejante.

Will fecha os olhos, inspira profundamente e tomba a cabeça para trás. Deslizo os dedos pelos cabelos úmidos e arrepiados.

_ Continua um rapaz muito confuso, William Belanger. Tem que se decidir se quer lembrar ou esquecer das coisas...

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Will

Sentado ao lado de Maria Lúcia no consultório da doutora Allana Lin no prédio em Jasper East, aguardo ansioso os resultados dos exames aos quais fui submetido.

_ Vai dar tudo certo. _ Maria Lúcia entrelaça os dedos nos meus quando nota que estou sacudindo as pernas impacientemente.

A médica pigarreia, descansa os papéis na mesa, abaixa os óculos e nos observa.

_ Estou muito satisfeita com sua evolução, William. As lembranças que teve ontem são resultados das terapias e de sua disciplina no tratamento.

Aperto a mão de Maria Lúcia sentindo-me eufórico.

_ Mas isso não quer dizer que já pode abandonar o tratamento. _ A doutora adverte.

_ Farei o que a senhora recomendar. _ Concordo.

_ E como foram os resultados dos exames, doutora?_ Maria Lúcia questiona.

_ Todos normais. Sem alterações ou sequelas. É hora de seguir em frente, William. Continue praticando suas atividades físicas e venha me visitar uma vez por semana para conversarmos.

_ Certo. _ Olho para a mão de Maria Lúcia. _ Acho que chegou a hora de construir novas lembranças, doutora.

_ Boas lembranças dessa vez, por favor. _ A doutora sorri discretamente.

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Malu

_ Senhorita Tremblay?! _ Um senhor me chama pelo sobrenome de meu tio assim que saímos pela porta giratória do prédio.

Cerro os olhos tentando lembrar de onde o conheço.

_ Wilfred Fisher. Funcionário do Gazeta. _ Ele explica com expressão ofendida.

_ Wilfred! Desculpe! Como tem passado? _ Corrijo a gafe apertando sua mão.

_ Vou levando. Nessa idade sabe como é. Hoje mesmo vim fazer uns exames. _ Ele logo desvia a atenção para Will.

Will apenas acena a cabeça.

_ William Belanger, quanto tempo. Fiquei sabendo de que tudo o que falaram ao se respeito todos esses anos não passou de mentiras.

_ Pois é. _ Will respira fundo e olha para o lado. Parece louco para se afastar.

_ Oliver e o prefeito, quem diria! A cidade está um caos. Ficaram sabendo?

_ Não, por quê? _ Uno as sobrancelhas.

_ Jackson Murray está internado. Dizem que o problema no coração é grave. A polícia está aguardando sua melhora para interrogá-lo.

Will e eu nos entreolhamos.

_ E quanto a Gordon? Já conversaram? _ Wilfred questiona.

_ Gordon?! Está falando de Gordon Mackenzie? O que desapareceu sem deixar rastros? _ Will demonstra interesse agora.

_ Esse mesmo. O ex-parceiro de trabalho de Alexander. _ Wilfred se dirige a mim. _ Voltou à cidade há algumas semanas. Disse que a procuraria, pois precisa de algumas anotações dele que ficaram nos guardados de seu tio.

_ Estranho. Não lembro de achar nada que não fosse escritos de meu tio. _ Novamente olho para Will.

_ Provavelmente, ele ainda irá procurá-la. Preciso ir agora, criança. Estou com hora marcada. _ Wilfred se despede.

Noto que anda devagar.

_ Prazer em reencontrá-lo, Wilfred. Cuide-se!

Ele acena.

_ O que será que Gordon Mackenzie quer? Houve uma época em que seu tio não podia nem ouvir o nome dele. _ Will comenta.

_ Quando visitei O Gazeta de Robson, vi uma foto dos dois. Wilfred disse que eles trabalharam juntos por muito tempo.

Will concorda.

_ Sim. Mas desde que Gordon escreveu um artigo sobre o acidente da mina, Alexander rompeu a parceria. Os dois brigaram e deixaram de trabalhar juntos. Seu tio suspeitava que Gordon sabia a verdade, mas preferiu se corromper aceitando suborno para contar outra versão da história. Uma versão em que me incriminava por tudo.

_ Canalha. Aposto que se vendeu para o prefeito.

_ Resta saber o que quer agora. E por que ainda não te procurou já que chegou faz algum tempo...

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Uma cabana na montanha Onde histórias criam vida. Descubra agora