Capítulo 42 - Passado distante

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Durante os dias que se seguiram, tornou-se uma das minhas rotinas preferidas, sentar em um dos degraus de entrada da casa e esperar Brutus subir o caminho de pedra ao entardecer para me fazer companhia durante a noite.

Sei que Will o acompanha por boa parte do caminho. Mas talvez o orgulho e o receio de que eu continue insistindo com o assunto do acidente na mina tenham o mantido afastado.

_ Ei amigão, que bom que veio. _ Coço a cabeça do Rottweiller assim que se aproxima. _ Como está seu tutor?

O cão me encara com a boca aberta e a língua para fora como quem sorri.

_ Continua teimoso. Sabia. Venha, vamos entrar. Preparei um bife suculento para você. Só não sei se ficou bom como os que Will faz.

Brutus me segue até o interior da sala. Ergue as orelhas ao ver Fred deitado em uma almofada no sofá.

_ Nada de implicar com Fred, ouviu?!_ Sinalizo com o dedo.

Brutus resmunga, mas se comporta dessa vez. Deita e apoia a cabeçorra nas patas dianteiras. Esta começando a se acostumar.

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Antes do sol se pôr atrás do pico mais alto da montanha o céu se tinge em vários tons de rosa, turquesa e lilás. E assim que escurece completamente, um dos fenômenos mais belos descortina-se a nossa frente. Após o jantar, sento em uma das poltronas da sala para admirar todo o esplendor do céu canadense através da vidraça.

_ Será que Will também está vendo isso? _ Suspiro.

Queria que as coisas fossem mais simples para nós dois. Quando estamos juntos, sinto que somos perfeitos um para o outro. Mas parece que nos encontramos no momento errado. Ele tão quebrado e eu tão desiludida com pessoas e relacionamentos.

Há uma força que me atrai para ele, mas os medos, inseguranças e incertezas me travam, além dos fantasmas do passado que o próprio Will enfrenta. Vivemos como em uma montanha-russa de emoções.

_ Se ao menos conseguisse convencê-lo a voltar para a terapia. _ Respiro fundo. _ O tratamento poderia ajudá-lo a lembrar dos fatos que a mente bloqueou.

O som do motor de um carro desperta-me dos pensamentos. Imediatamente, Brutus ergue as orelhas e se põe em posição de alerta.

_ Quem pode ser a essa hora? Não parece o motor da caminhonete de Will.

Observo pela porta de vidro quando o veículo desconhecido estaciona em frente a casa. A porta se abre e o causador da minha partida do Brasil se materializa em minha frente.

Brutus rosna em tom de ameaça.

Meu estômago revira. Abro a boca algumas vezes sem conseguir formular uma frase. Balanço a cabeça em negativa, na esperança de ser um delírio.

Ele caminha até a escada de entrada, sobe os degraus e me encara em frente a porta de vidro. Após alguns segundos sem nenhuma reação minha, ele bate o dedo no vidro.

Brutus agora late furiosamente.

Ele observa o Rottweiller e se afasta da porta dando um passo para trás. O encaro ainda incerta se é mesmo real ou fruto de minha imaginação.

_ Malu! Malu! Está me ouvindo? Prenda esse cachorro. Precisamos conversar. _ A voz que já foi tão querida e familiar no passado desperta-me revolta.

_ Gael?!

_ É claro que sou eu! Não estava me reconhecendo?

_ Brutus, fica. _ Sinalizo para que o cão recue só um pouco. Abro a porta e saio, deixando Brutus inconformado do lado de dentro.

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