Capítulo 40 - Benefícios da dúvida

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Fiz a maior parte do trajeto de volta à montanha sem nem ao menos prestar atenção na paisagem. As informações sobre o acidente da mina, a investigação de meu tio, os moradores de Robson e a conexão de Will com tudo isso, parecem areia movediça, quanto mais busco respostas, mais afundo nos questionamentos.

Tudo o que ouvi no consultório da doutora Allana Lin ajudou-me a entender o comportamento controverso de Will. Mas a conversa com o funcionário do Gazeta e o encontro forçado com Hunter Baker deu-me a certeza de que a explosão de nove anos atrás foi criminosa.

Há gente poderosa e perigosa por trás disso. Will não passou de um " balde expiatório". Vítima do acidente e vítima da manipulação dos verdadeiros culpados.

_ Estou com tanta raiva dessa gente. _ Minhas mãos apertam o volante. _ Passaram anos oprimindo um inocente só para acobertar os próprios erros.

Conhecer Hunter Baker também me levou a tomar providências mais sérias. Assim que saí do posto, liguei para o advogado de meu pai. Enquanto termino de ler o dossiê de meu tio, o advogado estará analisando o caso e me direcionando.

Sinto que Hunter ainda esconde informações importantes. Calou-se nos últimos anos com medo da retaliação dos envolvidos. O fato de ver em mim uma espécie de justiceira me preocupa. Apesar de estar totalmente envolvida com o caso, não sei se tenho as condições necessárias para descobrir e provar a verdade.

Esvazio os pulmões de uma vez.

_ Tenho que me proteger. Se os verdadeiros culpados descobrirem que estou investigando o caso, virão atrás de mim.

Entro com o carro pela estradinha que serpenteia a montanha.

Apesar de faltar horas para anoitecer, o clima da montanha e a floresta induzem aos moradores a se recolherem em suas casas mais cedo.

Diminuo a velocidade por causa das condições da estrada e da neblina que começa a se formar. Estou quase chegando ao quilômetro próximo à cabana de Will.

Noto um movimento brusco entre as árvores do bosque. Olho apenas de lado com medo de me distrair e cair em algum buraco na estradinha não pavimentada. De repente um vulto se lança em frente ao veículo.

Freio rapidamente.

_ Jesus!

Com olhos arregalados observo um urso pardo parado à poucos metros de distância do carro. Ele está em pé nas patas traseiras. É um urso adulto, pois em pé aparenta ter entorno de dois metros de altura ou mais.

Ele ergue o focinho e fareja o ar. Então, abaixa e começa a caminhar em direção ao veículo. Certifico-me de que as portas estão travadas.

_ Ai meu Deus... _ Minhas mãos ficam suadas quando seguro o volante pronta para acionar a ré.

O urso para próximo a minha porta, fica em pé novamente, se apoia no carro e sacode como se tentasse abrir uma lata de sardinha.

_ Sai daí! _ Coloco a mão na buzina e deixo ela disparar.

No primeiro instante, o animal desce e volta a rodear o carro. Preparo-me para dar a partida novamente, mas ele volta para a frente e se apoia no capô.

_ Droga! O que você quer? Não sou seu lanche! _ Grito e continuo a buzinar para assustá-lo.

Então, meu pior pesadelo se materializa em minha frente. Will vem andando pelo meio da estrada em nossa direção.

_ Não! O que está fazendo?! Sai daí! Ele vai te matar!

Will para a certa distância e começa a bater palmas e sacudir os braços. Brutus vem logo atrás latindo e rosnando.

Uma cabana na montanha Onde histórias criam vida. Descubra agora