Capítulo 36 - Desvendando mistérios - Parte 1

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O escritório de meu tio é a parte da casa que mais revela de sua personalidade. A estante repleta de exemplares de Arthur Conan Doyle, Agatha Christie, John Grisham, Dan Brown entre outros escritores de ação e mistério prova que ele alimentou por anos o gosto por desvendar crimes e mistérios.

Na mesa, há várias cadernetas de anotações, uma máquina de datilografia, que ainda funciona, um calendário de mesa e outros indícios de que Alexander era meticuloso e relutava em render-se à modernidade.

Descobri também um lado excêntrico de meu tio que talvez meu pai desconheça. Encontrei charutos cubanos em uma caixinha de madeira decorada, uma coleção de selos raros e garrafinhas em miniatura de um famoso whisky escocês envelhecido há anos.

_ Por que essa está trancada? _ Tento abrir a última gaveta sem sucesso.

Franzo a testa e olho ao redor imaginando onde poderia estar a chave que abre a gaveta.

_ Deve ter algo importante aqui. _ Suspiro e levanto.

A manhã passou sem que eu sentisse e só me dou conta de que preciso fazer algo para comer quando meu estômago começa a roncar.

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Will

_ Pare de me olhar assim. Sei que estraguei tudo. _ Brutus me encara sentado na varanda da cabana enquanto carrego mais um feixe de lenha para o interior da casa.

Desde que ela partiu minha vida se resume nisso. Trabalho feito um louco desde as primeiras horas do dia até cair no sono de exaustão.

Perdi a conta das inúmeras vezes em que tive vontade de correr ao seu encontro e trazê-la de volta. Mas seria muito egoísmo de minha parte mantê-la aqui.

Por algum motivo que desconheço, Maria Lúcia gosta de mim. Mas por quanto tempo esse sentimento duraria? Qual mulher em sã consciência aceitaria viver reclusa na montanha, com poucos recursos e um cara quebrado por dentro?

_ Ela é uma repórter renomada. _ Jogo o machado no chão.

Brutus ergue as orelhas.

_ Tem uma carreira de prestígio e uma vida boa no Brasil, muito diferente da nossa. Acha mesmo que precisa se envolver com todo esse caos? _ Bato no peito.

Brutus tomba a cabeça de lado.

Certamente, meu cão está achando que enlouqueci de vez.

Durante o tempo em que Maria Lúcia esteve aqui, fui feliz como nunca. Achei que seria impossível sentir algo por alguém novamente. Principalmente, depois de tudo o que aconteceu. Relutei, mas a cada dia de convívio as barreiras foram se quebrando como cascas secas se esfarelando e caindo uma a uma ao chão.

As palavras de Nolan Murray naquela manhã funcionaram como um balde de água fria em minha esperança. Despertaram-me do sonho bom em que estava mergulhado à semanas. Ela mesma havia acabado de dizer que tínhamos que ter pés no chão, pois em breve partiria.

O que mais poderia fazer mediante a tal situação? Eu precisava facilitar para ela. Precisava libertá-la antes que fosse tarde demais.

_ Fui lá hoje. _ Arrumo o último feixe de lenha e ergo o corpo. Olho em direção à estrada que leva à casa de Tremblay.

Senti medo de que ela tivesse partido de vez. Fui ao centro de Robson procurá-la. Pensamentos de culpa e medo me torturaram a imaginando ferida ou em apuros novamente. Mas as marcas dos pneus do veículo quatro por quatro ficaram na estrada.

Brutus deita na varanda e descansa a cabeça nas patas soltando um resmungo.

_ Ela está bem. Isso é o que importa. Não vou incomodá-la. Só preciso conferir as vezes de longe.

Uma cabana na montanha Onde histórias criam vida. Descubra agora