Capítulo 28 - Humano

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Durante todo o percurso de volta à montanha, Will esteve à frente dirigindo a caminhonete. O trajeto foi feito em mais tempo do que o de costume por conta da neve e da pouca luminosidade na estrada.

Chegamos na cabana faltando poucos minutos para a meia noite. Brutus está sentado na varanda. Ergue as orelhas quando os carros se aproximam.

_ Não está com frio, rapaz? _ Will bate a mão na perna incentivando o cão quando desce.

Estaciono atrás da caminhonete e saio do carro. Sorrio ao ver o cão descendo os degraus correndo. Mas Brutus não vai em direção a Will. Vem ao meu encontro.

Em um segundo, estou em pé com as mãos suspensas pedindo que o Rottweiller venha devagar. E no outro, estou no chão coberto de neve recebendo lambidas no rosto.

_ Veja só! _ Will observa a cena indignado.

_ Também estava com saudade, Brutus! Mas agora, chega! _ Digo entre risos tentando empurrar o cão pesado.

_ Sai, Brutus! _ Will puxa o cão. _ Por isso as pessoas ficam com medo. Olha o seu jeito, cara! Tente se controlar!

O cão abaixa as orelhas.

Seguro o riso ao ouvir a repreensão de Will, mas logo faço uma careta ao sentir a baba canina escorrendo pelas faces.

Will me segura pela cintura e me levanta. Sacode a neve da minha roupa.

_ Desculpe por isso. _ Recolhe o gorro do chão e me devolve. _ Ele ficou emocionado.

_ Não tem problema. Meu cabelo é que ficou uma bagunça. _ Tento organizar os cachos com gravetos e folhas grudados.

_ Não ficou, não. _ Will segura um cacho e desliza pelos dedos. _ Você vive reclamando, mas eles estão sempre tão perfeitos.

Enrola outro cacho no dedo e observa como se fosse algo muito raro.

Meu rosto esquenta. Aperto o gorro nas mãos. Abro a boca para dizer algo, mas nada vem em mente. Nossos olhos se encontram. Ele solta a mecha e desvia o olhar.

_ Deve querer se lavar depois desse banho de saliva, não é?

_ Pode apostar que sim.

Recolhemos as bolsas e embrulhos e caminhamos para dentro da cabana...

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Deslizo os dedos pela colcha de retalhos. Depois me jogo na cama com um sorriso bobo. Will acha meus cachos perfeitos.

Em pensar que várias vezes Gael me aconselhou a alisar os cabelos. Disse que assim teria mais credibilidade na carreira e ficaria mais apresentável em frente às câmeras.

_ Babaca preconceituoso. Como pude me relacionar com um cara assim? Devia estar cega.

Após o banho, escolho uma roupa bem confortável para dormir, apenas um camisão que cobre metade das coxas, pois a temperatura da casa está agradável. Remexo no interior da bolsa, em busca da máscara noturna capilar que comprei no centro. A escultura da águia de madeira vem em minha mão.

_ Será que Will ainda está acordado? _ Sem pensar abro a porta do quarto e desço a escadaria.

Ele está na cozinha. Assim que percebe movimentos na sala de estar, olha pelo batente da porta. Os olhos percorrem dos meus cabelos úmidos até minhas pernas nuas.

Talvez não seja uma boa ideia entregar o presente agora.

Escondo a escultura atrás do corpo.

Will sai da cozinha com duas canecas de porcelana fumegantes. Também se lavou, pois os cabelos estão úmidos e usa a costumeira calça cinza de moletom caída no quadril.

Uma cabana na montanha Onde histórias criam vida. Descubra agora