Capítulo 39 - Desvendando mistérios - Parte 4

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Giro nos calcanhares com a intenção de sair da loja. Mas o peito suado do frentista está a centímetros de meu rosto. Ele segura meus ombros com as mãos grudentas.

_ Calma aí, docinho! Onde foi parar toda aquela arrogância? _ Sorri satisfeito.

_ Pare com isso, Ross. _ O homem do balcão que ele chama de chefe ordena com voz entediada enquanto organiza algo no caixa.

_ Tire as mãos de mim ou vai se arrepender de verdade. _ Respondo entredentes.

Não sei de onde tiro coragem. Sinto-me trêmula por dentro, mas uma das coisas que aprendi em meu trabalho é que não podemos recuar em situações como essa. No mínimo, tenho que intrigar o opressor para ganhar tempo.

_ Não sei de onde tira tanta confiança! Sua fera de estimação não está aqui hoje para te defender, coisinha pequena. _ Ele se abaixa para encarar meu rosto.

_ Coisa pequena é seu... _ Me encolho antes de terminar a frase, pois o frentista ergue a mão para proferir um tapa em meu rosto.

Mas antes que o golpe me atinja, uma mão segura seu braço.

_ Já disse para parar com isso! Qual o seu problema?! O que estava pensando em fazer? Espancar uma mulher na minha frente? Por isso sua família te abandonou. Você é um descontrolado, Ross. _ O homem que estava atrás do balcão intervém.

_ Desculpe, Hunter. _ O frentista abaixa o braço e se afasta. _ É que essa garota é muito abusada e acaba me tirando do sério.

_ Pelo jeito, só é valentão com pessoas em desvantagem. _ Olho para Ross com desprezo.

Ele dá um passo a frente.

_ Sua... _ O rosto do frentista fica vermelho por ser obrigado a controlar a fúria.

_ Chega! Parem com as provocações os dois. Vá para fora, Ross. _ O chefe o empurra pelo ombro.

Observo a cena em dúvida se permaneço no interior da loja com o estranho ou se tento fugir atrás do frentista desequilibrado.

_ Nem sei como me desculpar pelo comportamento absurdo de meu funcionário. _ O homem se volta em minha direção.

A expressão no rosto parece sincera, mas não sei se posso confiar nas intenções. Pode estar encenando. No exercício da carreira, já vi pessoas sádicas capazes de matar com requintes de crueldade e não demonstrar o mínimo de arrependimento.

_ Como consegue manter alguém assim por perto? _ Aumento a distância entre nós me aproximando aos poucos da porta de vidro.

O homem percebe visivelmente minha tática. Mas para meu alívio, ergue as mãos e dá alguns passos para trás até encostar no balcão.

_ Conheço Ross desde a infância. Por causa desse jeito tosco acabou sozinho. Se perder esse emprego é capaz de ir morar nas ruas. Além do mais, é do tipo que ladra mais não morde.

_ Hum, mas ele pode ser bem ameaçador quando quer. Vem me seguindo feito um cão farejador desde que cheguei. Insiste em trazer-me à força para conversar não sei o quê com você.

_ Droga, Ross... _ O homem comprime os olhos. _ Mais uma vez, peço desculpas. Realmente queria a conhecer. Quando soube de sua chegada fiquei curioso. Mas bastou um comentário para Ross passar a frente e fazer as coisas nos métodos tortuosos dele.

O observo ainda desconfiada.

_ Deixe-me apresentar. Sou Hunter Baker. Proprietário do posto e um cidadão de bem, apesar do mal entendido. _ Estende a mão aparentemente inofensiva.

Dou outro passo para trás.

_ Só quero pagar minha dívida e partir logo.

Nos analisamos por alguns segundos. Hunter aparenta ter em torno de trinta e poucos anos. O cabelo castanho escuro é cortado bem rente à cabeça. Os olhos castanhos escuros não revelam nenhuma atitude suspeita, o que não é garantia de nada. É alto e dá para notar que por baixo da camisa de manga os braços são fortes.

_ Esqueça a dívida. Ao menos posso oferecer um café em sinal de paz? _ Antes que eu recuse, Hunter dá a volta no balcão e vai até a cafeteira.

Aproximo-me do balcão e o observo preparar cappuccinos. O cheiro me faz lembrar que não comi nada desde o café da manhã.

_ Por favor, sente-se. _ Serve a bebida em duas xícaras com uma porção de biscoitos amanteigados.

Sento na ponta de uma banqueta.

_ Imagino o quanto tudo isso tenha parecido suspeito e assustador. Mas acredite, minha única intenção em conhecê-la pessoalmente é porque sei que é jornalista como seu tio. E quando soube que estaria na cidade uma ponta de esperança brotou dentro de mim.

_ Esperança em quê? _ Uno as sobrancelhas.

_ Esperança de que dê continuidade ao trabalho dele. Nos últimos anos Alexander Tremblay se empenhou em limpar a sujeira jogada por baixo do tapete nessa cidade.

Abaixo a xícara que havia levado à boca.

_ Que tipo de sujeira? _ Dedico-lhe total atenção agora.

_ Corrupção, mentira, suborno entre outras práticas envolvendo gente influente.

Entro no modo repórter investigativa instintivamente.

_ Por que quer desmascarar essa gente? Seja sincero. O que ganha com isso?

Hunter me observa exitante. Parece enfrentar um conflito interno antes de responder.

_ Quero justiça. Preciso limpar o nome de alguém.

_ Quem? _ Sem perceber, me aproximei mais do balcão.

_ Conto tudo se prometer me ajudar.

_ Prometo ajudar se der sua palavra de que não mandará nenhum de seus homens atrás de mim nem de Will.

Hunter une as sobrancelhas.

_ Mas não contratei ninguém para ir atrás de vocês. Meu único funcionário é Ross.

_ Então, quem eram os homens que enfrentaram Will naquele dia? _ Questiono pensativa.

_ Melhor abrir os olhos. Nem todo mundo é o que parece nessa cidade...

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