Pego o termômetro com mãos trêmulas, sentindo a preocupação pressionando meus ombros. Lentamente, aproximo o pequeno dispositivo da testa de Alyce, meus olhos fixos no mostrador digital que revela os alarmantes 38 graus de temperatura. Um nó se forma em minha garganta, mas forço-me a manter a calma, por ela.
Com um suspiro pesado, sei que não posso mais adiar. É hora de dar o remédio novamente para a garotinha.
Com a suavidade, deslizo meus dedos pelo cabelo macio dela, sentindo cada fio loiro sob as pontas dos dedos. Seu rosto angelical começa a despertar lentamente, os cílios longos tremulando antes de revelarem os olhos sonolentos que encontram os meus.
— Papai — sua vozinha doce enche o quarto, e sua mãozinha pequena busca a minha.
— Oi, princesa — minha voz sai suave, embora eu sinta algo esmagando meu peito. Pego o frasco de remédio e tento sorrir para acalmá-la. — A febre voltou. Vamos tomar um remédio, está bem?
A pequena faz um beicinho, mas assente. Com cuidado, pego a colher e despejo dez gotinhas do remédio, observando atentamente enquanto engole tudo obedientemente. Cada pequeno gesto dela é um lembrete do quanto confia em mim, e eu me sinto determinado a cuidar dela da melhor maneira possível.
Depois, estendo um copo de água, que recebe com gratidão, seus olhinhos ainda semicerrados devido ao sono que teima em prendê-la. Enquanto bebe, noto para onde seus olhos sonolentos se voltam e, ao seguir seu olhar, vejo Giulia parada na porta.
Deslizo meu olhar por ela e a vejo recomposta em um roupão branco de mangas longas, os cabelos caem lisos e úmidos sobre seus ombros. Seus olhos, vermelhos e inchados de tanto chorar, mas tenta disfarçar com um sorriso forçado.
Com delicadeza, Giulia se aproxima da cama e se senta do outro lado, mantendo uma distância cuidadosa de mim. Seus olhos se fixam no colar de Alyce. Com cuidado, alcança a pequena pedra, observando-a com fascínio, seus pensamentos parecem tão profundos e misteriosos quanto a própria pedra.
— É lindo. De onde é isso, meu amor?
— É para lembrar de você — responde Alyce, enquanto aponta delicadamente o dedinho na minha direção. — Ele me deu porque eu fiquei com saudades.
Giulia acaricia gentilmente o rostinho de Alyce, seus dedos traçando suavemente cada contorno delicado. Aos poucos, a pequena alcança minha mão e envolve meu dedão com seus pequenos dedinhos, como se temesse que eu partisse. Gradualmente, os olhinhos da pequena começam a se fechar lentamente, cedendo ao sono.
— Pode ir descansar, Allan. Eu fico com ela — diz Giulia, sua voz é um sussurro, enquanto continua a acariciar o rosto da menina.
Respiro fundo, sentindo o peso do momento enquanto me inclino sobre a pequena, deixando um beijo suave em sua mãozinha antes de liberá-la com relutância, e me preparo para deixar o quarto.
Enquanto antes, Giulia evitava meu olhar, agora sou eu quem desvia, incapaz de encontrar coragem para encará-la. Minha voz se prende na garganta, as palavras não conseguem atravessar a barreira de angústia que se ergue entre nós. Não é raiva que sinto, mas sim uma profunda decepção, uma dor dilacerante ao pensar na traição, na ideia de que ela está com outra pessoa.
— É um lindo presente... — sussurra Giulia, e quando olho em sua direção , vejo seu rosto tenso e percebo o exato momento em que uma lágrima cai molhando o lençol cor de rosa.
Cerro minhas mãos, sentindo a tensão pulsar através delas enquanto tento controlar as palavras que querem se forçar e sair. Com passos pesados, atravesso o corredor, deixando-me levar pelo amontoado de pensamentos. Abro a porta do quarto e sou envolvido pelo cheiro dela, lembrando-me de que este quarto deveria ser nosso.
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FRUTO CRUEL
Romance"Novos capítulos toda sexta-feira!" Nossa mente é um labirinto complexo, muitas vezes difícil de compreender. Qualquer gatilho pode desencadear consequências terríveis, especialmente na mente de um dependente químico, onde o medo se torna ainda mai...