28 - Superando o ocorrido

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Sinto algo tocando meu braço de maneira incômoda e abro os olhos lentamente. As luzes frias do hospital me cegam por um momento e, ao ajustar a visão, vejo um jovem enfermeiro me encarando com um semblante sério.

Ergo-me parcialmente, notando que Giulia ainda descansa em meu braço, e paro no mesmo instante para evitar acordá-la. O nome "James" está escrito no crachá preso à sua camisa branca impecável. O jaleco está aberto, e percebo que ele é o responsável por cuidar delas. Por alguns segundos, o jovem me encara em silêncio, exceto pelo som ocasional dos monitores cardíacos e os sussurros distantes no corredor.

Olho ao meu redor e vejo Alyce dormindo profundamente em sua cama. A garotinha está enrolada em uma manta fina, seu rosto tranquilo apesar de tudo que passou.

James pigarreia suavemente, claramente desconfortável com a situação. Com calma ajusta os óculos no nariz.

— Não pode dormir aí, senhor.

Sua voz é baixa para não despertar as duas, chamando minha atenção novamente. Eu estreito os olhos e dou um sorriso de canto, avaliando a situação. James parece nervoso, seus olhos saltando entre mim e as duas pacientes adormecidas. Pelo que vejo, ele é o tipo de pessoa que se dobra fácil com a pressão certa.

— Vamos lá, James, o que você quer para fingir que não viu nada? — pergunto, mantendo minha voz baixa, quase como se fosse um segredo só nosso.

Ele engole em seco, visivelmente desconfortável, mas já calculando suas opções. De forma alguma sairei do lado de Giulia—foi ela quem me colocou exatamente aqui, e ninguém vai me afastar.

O jovem passa a mão pelo cabelo loiro, que já está um pouco desalinhado, e hesita, visivelmente desconfortável. Depois olha para os lados, como se estivesse procurando uma saída.

— Senhor...

Meu sorriso se alarga um pouco mais, vendo uma oportunidade. Este rapaz é tímido, precisarei forçá-lo e ser incisivo. Inclino-me ligeiramente para frente, tornando a conversa mais íntima.

— Vamos lá, James, todos têm seu preço, não é? Um carro novo, aquele celular top de linha, ou quem sabe umas férias de luxo em qualquer canto do mundo... — sussurro, deixando a proposta no ar. — Basta você dizer o que vai te fazer sorrir. Afinal, quem recusaria uma oferta tão generosa?

Nervoso, engole em seco, os olhos piscando rapidamente enquanto tenta digerir a proposta. Vejo a hesitação e sei que o tenho na palma da mão. Decido apertar um pouco mais.

— Ora, James, vamos ser honestos. Não estou pedindo nada demais, só o direito de estar ao lado da mulher que amo. Depois de tudo o que ela passou, você realmente vai me negar isso? Pense bem... Pode até se considerar um herói por ajudar a reunir dois corações partidos. E acredite, James, heróis sempre têm suas recompensas. Ou você prefere complicar as coisas e descobrir o que acontece quando um homem desesperado é ignorado?

Ponderando desvia o olhar, visivelmente dividido, a expressão vacilante.

— Tenho muitas dívidas estudantis... — murmura finalmente, o olhar ainda fixo no chão.

Levanto uma sobrancelha, fingindo interesse casual.

— Ah, sua conta bancária está sofrendo?

No mesmo instante me encara surpreso, os olhos arregalados, tentando avaliar se estou falando sério.

— Senhor, são $300.000...

Dou um sorriso quase divertido.

— E daí, James? Todos temos nossos problemas. A diferença é que eu posso resolver o seu com o mínimo de esforço.

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