Respiro fundo, sentindo o ar frio invadir meus pulmões, um contraste com o calor que se acumula no centro do meu peito. Meu coração martela com força, cada batida ecoando como se quisesse romper as barreiras do meu corpo. Meus olhos encontram os de Allan, e naquele instante, tudo ao nosso redor se dissolve. Não há som, não há vento. Só nós dois, presos nesse momento.
Ao meu lado é tão grande, sua presença esmagadora quase me engole, mas há uma vulnerabilidade silenciosa em seu olhar. Ele está ali, perto de mim, mas sua mente está longe, perdida em uma batalha interna que nunca consegue vencer. Vejo a tensão em seus ombros, como se estivesse carregando o peso do mundo. As cicatrizes em sua pele são marcas do passado, mas é a dor que carrega por dentro que me faz querer tocá-lo ainda mais. É antiga, profunda... algo que nenhum curativo pode cobrir. Vive em sua alma, como uma sombra que se recusa a deixá-lo.
— Se você não sabe o que fazer, eu posso te ajudar a descobrir.
Vejo a confusão em seus olhos, as chamas da lareira refletindo o brilho azul que agora toma conta de seu olhar. Estuda, cada movimento, cada suspiro meu.
Começo a tirar o casaco, devagar, mantendo meu olhar fixo no dele, o tecido desliza pelos meus ombros e cai ao chão com um som abafado, mas nem eu, nem ele, sequer piscamos. Suas mãos permanecem tensas, os músculos dos braços marcados, como se estivesse se forçando a não se mover.
Meu suéter segue o mesmo caminho, erguido por minhas mãos que deslizam lentamente pela minha pele até sair por completo, deixando apenas o sutiã para cobrir meu corpo. Eu vejo o exato momento em que Allan engole em seco, os olhos escurecendo, as pupilas dilatando à medida que me observa.
Seu corpo está rígido, como se uma luta interna estivesse acontecendo dentro dele, uma luta para não me puxar para mais perto. Me aproximo, com passos lentos, mas firmes, até sentir o calor do seu corpo irradiar para mim. Meus dedos tocam seu braço, subindo lentamente pela pele quente e marcada por cicatrizes, provocando arrepios na minha própria pele. O contato é sutil, mas cada parte minha reage a ele. Chego à mão dele, áspera e suja, e a guio até a minha costela.
— Veja... — Tomando seus dedos firmes e calejados, guiando-os com delicadeza até a tatuagem que ele mesmo desenhou.
Sinto o toque dele deslizar sobre a linha fina e precisa do desenho, e uma onda de calor me percorre o corpo. A pele dele está quente, mas os toques são frios, com uma força reprimida. Allan abaixa o olhar pela primeira vez, seus olhos descem lentamente até a tatuagem de seu coração.
— Algum tempo atrás, em uma situação completamente diferente, você me disse que seu coração era meu. Para eu proteger, amar... ou quebrar.
Vejo seus ombros se enrijecerem sob o peso dessas palavras, os músculos tensionados, o rosto com uma leve ruga de nervosismo. Ele sabe que o que estou dizendo é verdade, e isso o devasta. Cada parte dele grita para recuar, mas não se move.
Olho para sua mão, ainda suja, e vejo como a pele branca da minha costela começa a se manchar, a sensação me faz arrepiar dos pés à cabeça.
— E depois de descobrir toda a verdade sobre você, depois de ter sido abandonada... duas vezes por você, eu deveria quebrar seu coração. Mas eu sei que já está quebrado, Allan.
Sinto a pressão da mão dele aumentar contra minha pele, e o calor começa a se transformar em uma dor doce. A dor queima junto com a excitação que borbulha sob minha pele, e eu não recuo. Ao contrário, seguro a mão dele ainda mais firmemente contra mim, sentindo os dedos afundarem na minha carne. Allan tenta puxar a mão de volta, seus olhos fixos nas manchas de sangue que agora tingem minha pele branca, mas eu não o deixo. Seguro sua mão no lugar, ainda mais forte.
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FRUTO CRUEL
Romantizm"Novos capítulos toda sexta-feira!" Nossa mente é um labirinto complexo, muitas vezes difícil de compreender. Qualquer gatilho pode desencadear consequências terríveis, especialmente na mente de um dependente químico, onde o medo se torna ainda mai...