10 - Um chá

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Encaro Giulia, mergulhando fundo nos seus olhos, que hoje parecem um quartzo brilhante. É como se estivéssemos em um duelo silencioso de vontades, cada um desafiando o outro a ceder, mas eu me recuso a baixar minha guarda.

Seu olhar é firme, como de costume, desafiando-me a abrir-me, a compartilhar o que está escondido nas profundezas da minha alma. Já se passaram cerca de duas horas nessa tensão mútua, e nem ela pensa em desistir, nem eu em colaborar.

— Já estamos nesse embate há semanas, senhor Moretti, e você não colabora comigo.

Então, se ergue lentamente, indicando o fim da sessão de terapia. Sinto o peso da frustração dela, como se eu fosse o culpado por não avançarmos.

Antes que eu possa reagir, ela se aproxima, delicadamente se inclina até que nossos olhares estejam praticamente colados. Meus batimentos cardíacos aceleram, e o desejo de tocar nela cresce com intensidade.

Seus lábios se curvam em um sorriso sutil, desafiando-me a abrir-me enquanto seus dedos se apoiam e apertam os encostos da poltrona, demonstrando que ela está no controle, como sempre. Giulia tem uma necessidade de se sentir segura, e ela faz isso tentando parecer forte. Seu olhar desafia o meu, como se estivesse me convidando para um jogo de gato e rato, onde ela sempre tem a vantagem.

Fico imóvel, capturado pelo brilho intenso de seus olhos, enquanto evito qualquer movimento que possa quebrar o delicado equilíbrio do momento. Sua respiração quente atinge meu rosto, misturada ao leve aroma de café, e percebo que está me avaliando, tentando decifrar quais serão seus próximos passos.

— Sistema de recompensa. O que acha?

— Que tipo de recompensa estaria disposta a dar? — pergunto baixo em um sussurro, incapaz de conter o sorriso malicioso que brota em meus lábios.

Ela morde o dela em resposta, um gesto que me faz sentir como se estivesse prestes a quebrar todas as regras apenas para ver o que acontece. Quase ergo os braços para alcançar seu pescoço, desejando puxá-la para perto, mas então ela sorri.

— Nada que quebre as regras pré-estabelecidas em nosso contrato!

Solto um longo suspiro de frustração, reconhecendo que minhas tentativas de provocá-la foram em vão.

Porém, começo a ponderar sobre o que eu poderia querer. Na verdade, há uma coisa que desejo entender: Giulia Browning. Considero uma desvantagem o fato de que, como minha terapeuta, ela sabe tudo sobre mim, mas eu não sei nada sobre ela. Então, uma ideia surge em minha mente.

— Segredos obscuros meus, por segredos obscuros seus.

Por um momento, ela parece surpresa, como se minha sugestão a tivesse pego desprevenida, deixando-a momentaneamente vulnerável. Vejo-a recuar um pouco, retornando ao seu lugar.

— Pelo visto, tem muito a esconder... — Murmuro entre dentes, observando-a enquanto ela desvia o olhar e começa a encarar suas próprias mãos, claramente ponderando sobre minha sugestão.

— Allan... Como sabe, inclui uma cláusula no contrato que proíbe qualquer informação discutida durante as sessões de terapia de ser compartilhada. Eu o fiz para protegê-lo, garantir que o erro que cometi da última vez não se repetisse. Mas agora, será para me proteger... — fala suavemente, e depois de alguns minutos de silêncio, finalmente me encara.

Seu olhar é profundo, como se estivesse revelando um lado vulnerável e desconhecido de si mesma.

— Nada, absolutamente nada do que ouvir pode ser usado contra mim, compartilhado ou ser motivo de qualquer ação sua. Você concorda?

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