39 - Uma noite com um sádico

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O vapor ainda preenche o banheiro quando o silêncio entre mim e Eros se torna insuportável. Cada segundo que passo sendo observada por ele, como um predador paciente, faz meu coração acelerar.

A água quente escorrendo pela minha pele já não oferece o conforto de antes, não quando os olhos desse homem estão fixos em mim com tanta intensidade. Há algo perigoso em seu olhar, algo que me faz questionar suas intenções. Quero acreditar que é apenas curiosidade, mas a maneira como me encara, como se já soubesse que estou vulnerável, me deixa inquieta, desconfortável, quase exposta.

Fui ingênua. Decidi agir por impulso, sem pensar nas consequências. Allan tinha feito algo, e eu não fazia ideia do que era. Minha ignorância me trouxe até este momento.

Quando saí da casa, não pensei direito. Nem mesmo considerei o que Giovanna poderia saber. A raiva me cegou, a pressa de entender a verdade me consumiu. Eu precisava ouvir de Allan o que estava acontecendo, não dela.

Giovanna já tinha me enganado uma vez, e eu não me deixaria manipular novamente. Mas agora, enquanto Eros me observava tão de perto, me pergunto se essa foi a decisão certa. Talvez minha irmã soubesse mais do que eu imaginava, e ao ignorá-la, posso ter perdido uma chance crucial de entender o que estava acontecendo.

Me dói a forma como tudo se desenrolou. Sempre fomos aliadas, e a maneira abrupta como nossa relação desmoronou me atormenta. Não tenho todas as respostas, e naquele momento, deixei minha raiva falar mais alto do que a razão. Agora, porém, preciso garantir que eu mesma fique bem. Preciso conversar com Allan mais uma vez, entender a verdade. Só depois disso vou decidir o que fazer com tudo que descobri... e com o que ainda não sei.

Eros se recostou na parede, seus olhos nunca saindo de mim. Meus instintos gritavam para sair dali, para me cobrir, mas ao mesmo tempo, eu sabia que qualquer movimento repentino o faria ainda mais interessado. Com um suspiro tremido, cobri meu corpo com as mãos, tentando reunir algum resquício de dignidade.

— O que você está fazendo aqui?

Ele arqueou uma sobrancelha, o sorriso brincando nos lábios.

— Isabelly me pediu para ajudá-la a encontrar Allan... Quando a ruiva mandou uma foto sua, decidi que faria isso com prazer.

O calor da água de repente parecia insuportável, e eu desejei poder desaparecer sob ela. A vergonha rastejou pela minha pele, e abaixei a cabeça, tentando processar o que ele havia dito. Isabelly sabia onde eu estava, sabia de tudo, e me colocou nas mãos desse homem. Um completo estranho. Encarei Eros, sentindo uma onda de irritação e constrangimento ao mesmo tempo.

— Você pode me dar um pouco de espaço?

O sorriso sarcástico dele se alargou enquanto caminhava com calma até o balcão, pegando um roupão de seda e o trazendo para mim. O abriu como se fosse uma oferta generosa.

— Não precisa se intimidar — Mordeu o lábio, abrindo o roupão com um movimento exagerado. — Considerando os gostos do Allan, aposto que já fez isso em público.

O comentário dele me atingiu e algo dentro de mim, talvez o nervosismo ou o absurdo da situação, explodiu em um riso curto e inesperado. Um riso que não deveria existir, mas que escapou antes que eu pudesse contê-lo.

— Acho que isso não é da sua conta, e mesmo que fosse, eu quero privacidade, obrigada.

Revirei os olhos, mas Eros, apenas balançou a cabeça lentamente, ainda com aquele maldito sorriso nos lábios.

— Vamos lá... Eu vou fechar os olhos, juro.

Eu revirei os olhos novamente, mas o calor da água já começava a me sufocar. Com um suspiro resignado, me levantei devagar, permitindo que ele envolvesse o roupão ao redor de mim. O toque do tecido quente contra minha pele nua foi um alívio, mas o fato de ser ele quem me ajudava me deixava desconfortável. Eu me enrolei no tecido e dei alguns passos para fora da banheira, ainda tentando manter distância dele.

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