08 de abril...De repente, sinto o peso do mundo se intensificar. Tudo ao meu redor desacelera, como se o tempo estivesse se arrastando. Droga, conheço essa sensação, esse buraco. A voz de Giulia desaparece, e um silêncio ensurdecedor toma conta do ambiente.
Sem aviso, a apatia começa a me envolver, uma névoa densa que obscurece até mesmo o desejo de sentir. Os balcões marrons da cozinha estão à minha frente, mas parecem indistintos, quase distantes, e feixes de luz parecem cortar minha mente em pedaços.
Não consigo processar o que está acontecendo, é como se cada pensamento fosse uma âncora, me puxando para um abismo. Não é apenas uma falta de emoção, é uma ausência completa de vontade, como se até mesmo o desejo de reagir estivesse congelado em algum lugar dentro de mim.
Mas por que agora, por que ao falar com Anthony? Por que esse vazio me consome justo agora?
Neste momento, sinto-me afundando em um buraco negro, desesperadamente tentando alcançar alguma sensação, qualquer coisa que me tire desse estado de dormência.
Lembro-me dos momentos em que a cocaína me oferecia um refúgio, um escape momentâneo dessa agonia. A sensação de euforia, de estar acima de tudo, de ser invencível. Agora, eu anseio por aquela sensação novamente.
Noto que Giulia está à minha frente, olhando-me com preocupação.
— Quer se deitar um pouco?
Assinto lentamente, concordando, enquanto observo suas ações com uma atenção incomum. Há uma delicadeza em seus movimentos que me surpreende, algo que raramente vi nela antes, a não ser nos momentos em que estava confinado naquela clínica.
Seus dedos tocam meu braço com suavidade, embora não consigam envolvê-lo completamente devido à minha musculatura. Com passos lentos, Giulia começa a me guiar até seu quarto.
Ao chegarmos lá, cuidadosamente ergue a colcha da cama, como se estivesse preparando um refúgio seguro para mim. Com delicadeza, ela me ajuda a deitar, e é como se eu me sentisse suspenso no ar, desconectado do mundo ao meu redor.
Fechando os olhos, permito-me afundar nesse estado de torpor, esperando que ele passe e me deixe em paz, pelo menos por um breve momento.
Sinto o colchão ceder suavemente ao meu lado, e então abro os olhos para ver Giulia deitando-se ao meu lado, seus olhos como turmalinas, me observam. Seu rosto, sereno e tranquilo. Observo cada detalhe, desde os quase imperceptíveis hematomas até o olhar cuidadoso que ela me dirige.
— Acho admirável a relação que você tem com Anthony. Tenho certeza de que ele estaria ao seu lado em qualquer situação... — sua voz, gentil, e parece ecoar no quarto. — Senhor Moretti, estou aqui. Estou ao seu lado.
Por mais que eu tente encontrar as palavras adequadas para responder, sinto-me perdido em um vazio abissal. Tudo parece distante, irrelevante.
— Fique calmo, tudo bem?
Suas mãos estão juntas, cuidadosamente posicionadas sob sua cabeça enquanto me encara.
— Você está experimentando uma reação comum, o que atualmente chamamos de gatilho emocional.
As palavras dela são suaves, como se quisesse evitar me assustar, apenas me ajudar a entender o que está acontecendo. Mas, sinceramente, não estou interessado em explicações agora. Tudo o que desejo é gritar, gritar de tédio, frustração.
— Se você fosse sincero comigo, eu poderia entender melhor o que está acontecendo, mas minha opinião profissional é... — Ela hesita por um momento, escolhendo cuidadosamente as palavras. — Essa situação de conversar com seu primo desencadeou uma resposta emocional que você não esperava. Ele trouxe à tona sentimentos e lembranças que te machucam, levando-o a um estado que não tem visitado nos últimos dias. Mas é importante lembrar que já saímos dessa situação uma vez e vamos sair novamente. Você não está sozinho nisso.
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FRUTO CRUEL
Roman d'amour"Novos capítulos toda sexta-feira!" Nossa mente é um labirinto complexo, muitas vezes difícil de compreender. Qualquer gatilho pode desencadear consequências terríveis, especialmente na mente de um dependente químico, onde o medo se torna ainda mai...