32 - A hora do sim

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Desligo o carro, e o ronco do motor cessa abruptamente, deixando um silêncio tenso no ar. Olho para Giulia ao meu lado, e noto que seus dedos estão brancos de tanto apertar o cinto de segurança. Percebo que tenta disfarçar o nervosismo, mas eu a conheço bem demais. O jeito como franze a testa, o olhar fixo na porta da frente da casa... tudo nela grita preocupação.

Solto o cinto e saio do carro, batendo a porta com mais força do que o necessário. Contorno o carro parando ao lado dela. Que me olha por um segundo, seus olhos grandes e verdes buscando algum tipo de consolo nos meus. Segura minha mão, os dedos frios, mas não diz nada.

Nosso caminhar até a porta é lento, e quando chegamos à entrada, observo-a parar por um momento, vejo seu peito subir e descer com aquela respiração profunda, a hesitação evidente. Então, finalmente gira a maçaneta, empurrando a porta e revelando o interior da casa.

Assim que entro, dou uma última olhada por cima do ombro, um reflexo automático de sempre ficar atento a qualquer movimento. As ruas estão calmas, e a vizinhança, silenciosa. Penso em esperar lá fora para evitar qualquer confronto com a Giovana, mas não tenho tempo para me decidir. Giulia agarra meu braço com firmeza e me puxa para dentro, me arrastando sem hesitação. Eu a sigo, permitindo que me guie, mas sem deixar de perceber como seus olhos se movem rapidamente de um lado para o outro, escaneando o ambiente como se procurasse algo específico.

Na sala de estar, encontramos Alyce, toda animada, sentada no tapete com canetas de colorir e folhas espalhadas ao seu redor. A pequena levanta o olhar e sorri ao nos ver, aquele sorriso que é uma porra de um calmante instantâneo. Mas, é claro, a tensão nos ombros de Giulia não some.

A acompanho com o olhar, até se ajoelhar ao lado da filha, e noto como o rosto dela se suaviza ao tocar a testa da menina.

— Ah, que bom, meu amor, sua febre passou, que alívio — murmura, inclinando-se para beijar a testa da filha com ternura.

Alyce solta uma risadinha leve.

— Eu não tive febre, mamãe!

A inocência na voz dela deveria ser suficiente para dissipar qualquer resquício de preocupação no rosto de Giulia, mas em vez disso, vejo as sobrancelhas dela se franziem ligeiramente. O alívio que estava lá um segundo atrás começa a se misturar com um traço de inquietação.

No mesmo instante, lança um olhar rápido em minha direção, como se procurasse por alguma resposta. Eu dou de ombros, igualmente confuso com a situação.

Antes que Giulia possa prosseguir, Giovanna surge na porta da sala, uma taça de vinho na mão e um sorriso que, para mim, é tão falso quanto a febre de Alyce. Ela olha para a irmã com aquela expressão de sempre — toda sorrisos e preocupações — mas, assim que seus olhos se encontram com os meus, sinto a mudança na sua expressão. Um leve erguer de sobrancelhas, uma tensão nos lábios.

— Giovanna. — Digo, um sorriso debochado se formando nos meus lábios.

Mas, como era de se esperar, me ignora completamente.

— Que bom que você chegou, maninha — diz, a voz carregada de uma falsa leveza que me faz revirar os olhos.

— Alyce está bem — Giulia responde, a voz firme, mas é óbvio que está tentando entender o que realmente está acontecendo. — Você disse que ela estava com febre...

Giovanna dá de ombros, tomando um gole exagerado de vinho.

— Deve ter sido um engano. Ela estava um pouco quente, mas agora está ótima.

— Engano... — murmura Giulia, mais para si mesma.

O olhar dela é fixo na irmã; eu conheço bem esse olhar. De quem não está convencida nem um pouco.

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