26 - A queda de um homem

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Olho para o manequim vestido em um smoking impecável preto, tão elegante, algo que eu usaria se Giulia um dia aceitasse casar comigo. O tecido fino e o corte perfeito parecem me provocar, trazendo à tona um futuro que parece cada vez mais distante. Passo a mão pelo tecido, sentindo sua suavidade, enquanto meus pensamentos se perdem na lembrança dela. Semanas se passaram e ainda não tive nenhuma notícia de Giulia. Cada dia parece mais longo que o anterior, e não há um segundo sequer em que ela não esteja em meus pensamentos.

Liguei inúmeras vezes, mas minhas chamadas sempre caem na caixa postal. Cada toque sem resposta aumenta o vazio que sinto, mas mantenho a expressão impassível. Hoje não é sobre mim, e não posso estragar o momento dos sonhos de Anthony. A saudade que sinto é um incômodo constante, como uma dor surda no fundo do peito, mas não deixo isso transparecer.

A verdade é que a situação se tornou ainda mais incômoda quando descobri que nem Allysson tem conseguido fazer contato. A escola de Alyce ligou várias vezes, reclamando das faltas, preocupada com o sumiço repentino. O tom das chamadas era cada vez mais urgente, mas me mantenho firme. Tento disfarçar a preocupação ajustando minha postura e focando na tarefa à minha frente.

Para me deixar ainda mais desconfiado, até Giovana, que costumava ser minha aliada nesses momentos, agora ignora todas as minhas tentativas de comunicação. Cada mensagem deixada sem resposta é um lembrete da minha impotência, de que mais uma vez, estou no escuro. Aperto os punhos, sentindo a frustração borbulhar sob a superfície, mas respiro fundo e volto minha atenção para o manequim.

Esta manhã, fui até a casa dos pais de Giulia, mas encontrei todas as portas fechadas, as janelas escuras e nenhuma resposta às minhas batidas. Era como se todos tivessem desaparecido, o que só aumenta minha desconfiança.

O que eu possa ter feito que ela se afastou de vez e afastou todos?

Todos os dias revivo cada conversa, cada gesto, tentando encontrar um erro, um motivo para esse afastamento repentino, mas continuo sem respostas claras.

— Vamos provar o terno? — A voz de Anthony me traz de volta à realidade.

Viro-me e o vejo ao lado do alfaiate, ambos com expressões tranquilas. Sorrio, tentando disfarçar meu tormento, e caminho até eles, determinado a focar no presente, mesmo que seja apenas por um momento.

O alfaiate, um senhor de cabelos grisalhos e olhos atentos, nos conduz a uma sala elegante, repleta de tecidos finos e manequins vestidos com ternos impecáveis. Educadamente me pede para subir em uma plataforma levemente elevada e começa a tirar minhas medidas.

— Vamos começar pelos ombros — diz, ajustando a fita métrica em volta de meus ombros. — Fique ereto, por favor.

Sigo suas instruções, mantendo-me firme enquanto trabalha. A cada medição, o alfaiate anota as dimensões em um caderno de couro gasto, seus movimentos meticulosos e seguros.

Meu primo observa de perto, sua expressão calma.

— Você vai ficar ótimo, mas nunca mais bonito que eu — diz, sorrindo de orelha a orelha.

— Nós dois sabemos que isso não é verdade. E sua adorável noiva concorda — respondo, tentando parecer mais tranquilo do que realmente estou.

— São seus olhos azuis. Minha princesa ama porque se parecem com os do pai dela — retruca, piscando.

— Vou concordar só para você não ficar chateado — replico, dando um sorriso de canto de boca.

O alfaiate continua seu trabalho meticuloso, medindo o comprimento dos meus braços, a circunferência do peito e da cintura, ajustando-se conforme necessário.

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