27 - Em família

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Depois de horas extenuantes respondendo às perguntas da polícia, o interrogatório finalmente terminou. Fui inocentado e liberado, mas o cansaço ainda pesa sobre mim.

Olho para Anthony ao lado de Isabelly. Ele segura a mão dela com firmeza; os dois parecem se complementar perfeitamente, como se fossem duas metades que, juntas, formam um todo completo. Acompanhei essa história desde o início e posso afirmar que não seriam felizes separados. A ruiva sempre foi uma força da natureza, teimosa e persistente, mas também a menininha do papai, capaz de ser os dois extremos. Anthony sempre viu isso nela.

Enquanto Anthony era um projeto que precisava de um ponto de início e fim, Isabelly sempre representou tudo o que ele amava. Ele se descobriu amando-a de uma maneira única. Nunca vi alguém ser tão obcecado por outra pessoa e, ao mesmo tempo, disposto a abrir mão dela se isso fosse o melhor para ela. Meu primo sempre foi assim: um homem que se entrega por completo. Eles são um do outro, e isso é incrível e único.

Viro-me e observo o movimento repetitivo e contínuo das enfermeiras que passam apressadas. Meu coração bate tão rápido que sinto como se estivesse prestes a saltar do meu peito.

O que aconteceu hoje estava além do que eu podia imaginar. Pensei que Giulia queria me afastar, e aceitei sem lutar. Agora, descubro que na verdade, precisava da minha ajuda. A raiva ferve dentro de mim, assim como o ódio que consome tudo e a dor que parece rasgar minha alma.

Isso não pode estar acontecendo... Eu queria simplesmente ter a opção de voltar no tempo e mudar toda a minha vida. Às vezes, a ignorância é uma bênção. Nunca ter visto aquelas fitas teria mudado tudo.

Então, com uma leveza desproporcional, sinto as mãos de minha prima, quentes, envolvendo as minhas. Seu toque me puxa de volta à realidade, ancorando-me no momento presente. A ruiva se aproximou tão silenciosamente que só agora percebo sua presença ao meu lado.

Olho para Isabelly e encontro seus lindos olhos castanhos cheios de preocupação. Ela sorri suavemente, um gesto destinado a me tranquilizar. Seu polegar acaricia a parte de trás da minha mão em movimentos lentos e repetitivos.

— Eu conheço você, e sei que agora está se culpando... então pare — diz, sua voz suave mas firme.

Há algo diferente nela, talvez a pele mais brilhante ou as bochechas mais cheias. Isabelly mudou, mas ainda não consigo identificar o que é.

— Eu só aceitei, Belly. Não fui atrás, não insisti. Ela sumiu e eu aceitei! — minhas palavras saem entrecortadas pela dor que sinto no peito. — Eu prometi que a protegeria, que ninguém a machucaria, e falhei! Eu me sinto fraco, inútil.

Então, com seu jeito Moretti de ser, solta uma risada curta e irônica, cruzando os braços enquanto balança a cabeça.

— Amar é assim mesmo... — começa, com uma voz mais suave. — Anthony e eu aprendemos isso da pior forma. Amar alguém não é enclausurar e impedir que essa pessoa viva. Você pensou que Giulia precisava de espaço e deu. Agora, para você, isso é doloroso... mas Allan, isso vai significar muito para ela, ainda mais conhecendo quem você é.

Meu estômago se revira, a culpa e a frustração me sufocando. A dor é quase insuportável.

— Dei espaço quando Giulia precisava de proteção! — Minha voz sai embargada de raiva e arrependimento. — Tem noção do quão ridículo isso soa?

Suavemente morde o lábio e se inclina para frente, girando na cadeira para me encarar de frente. Seus olhos encontram os meus com uma intensidade que quase me desarma. Coloca uma mão no meu ombro, o toque firme e cheio de empatia.

— Allan, você a resgatou — diz, a voz firme e cheia de convicção. — No fim das contas, é isso que realmente importa. É disso que ela vai se lembrar, e isso é o que vai fazer a diferença.

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