6 - Um remédio

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Observo atentamente Giulia, cada movimento seu parece carregado de tensão. Seu dedo aponta firme em direção à porta, um gesto que corta o ar como uma lâmina afiada, indicando claramente sua intenção de me expulsar dali, sem piedade alguma.

A frustração se insinua em meu peito, pois percebo que persuadi-la está se revelando uma missão quase impossível. Ela é tão obstinada, e sei que mudar sua opinião será uma batalha árdua.

Respiro fundo, buscando acalmar os nervos inquietos sob minha pele, mas o som estridente da campainha irrompe pelo apartamento, interrompendo meu breve momento de serenidade. Os olhos de Giulia se dilatam em pânico, e vejo seu corpo congelar, como se uma sombra assustadora tivesse se materializado diante dela. Ela cerrou os olhos por um instante, como se quisesse se proteger do inevitável.

— Droga, droga, droga! — murmura entre dentes, sua voz carregada de agonia enquanto a campainha insiste em sua irritante melodia.

Arqueio as sobrancelhas, observando-a com curiosidade, tentando decifrar o que seria capaz de deixá-la neste estado de agitação. Seus olhos oscilam entre a porta e eu, como se estivesse travando uma batalha interna sobre o que fazer em seguida. Então, subitamente se aproxima de mim, sua mão tocando meu peito com leveza.

— Tarde demais, só fique em silêncio — sussurra ela, seu tom carregado de desespero.

Por um breve momento, nossos olhares se encontram, e percebo a súplica silenciosa em seus olhos, implorando para que eu não interfira. No entanto, a angústia estampada em seu rosto revela que algo muito grave está acontecendo.

Então, ela se afasta lentamente, dirigindo-se à porta com passos trêmulos. Sua mão se estende para a maçaneta, seus dedos hesitantes girando-a lentamente, como se temesse o que poderia encontrar do outro lado. O silêncio que se segue é ensurdecedor, e minha mente corre freneticamente, tentando antecipar o que está prestes a acontecer.

Teimoso do jeito que sou, dou um passo à frente, posicionando-me ao lado de Giulia. Não importa o que esteja acontecendo, não posso permitir que ela enfrente isso sozinha.

Um homem elegantemente vestido, com um terno impecável, emerge diante de nós. Seus olhos percorrem Giulia com interesse, como se estivesse tentando desvendar seus pensamentos, antes de voltarem-se para mim, emitindo um olhar intrigante que me deixa momentaneamente incomodado.

E então, algo totalmente inesperado acontece: uma menininha pequena, loira como um raio de sol, com olhos verdes tão expressivos quanto os de Giulia, irrompe correndo pelo espaço, trazendo consigo uma aura de inocência e vivacidade que instantaneamente ilumina o ambiente.

— Mamãe! — a menininha exclama com alegria, e vejo Giulia se congelar por um instante, antes de se abaixar e acolhê-la nos braços.

O brilho nos olhos delas é indescritível. Giulia acaricia os cachos loiros da menina, perdendo-se na ternura do momento, e por um instante, todas as preocupações parecem desaparecer.

Enquanto o homem adentra a casa com uma postura firme, fechando a porta suavemente atrás de si, não consigo deixar de notar uma certa arrogância em sua atitude. Seus cabelos castanhos escuros estão impecavelmente penteado para trás, e sua expressão é serena, mas há algo de indefinível em seu olhar, algo que me deixa alerta e cauteloso.

— Então é por causa desse marginal que você se atrasou? — A voz do homem irrompe na sala com uma ferocidade voraz, ecoando com impaciência e estresse.

A palavra "marginal" atinge como um soco, e involuntariamente cerro meus punhos, encarando-o com intensidade, meu olhar queimando com a indignação contida.

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