30 - Uma virada de chave

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A frustração se acumula no meu peito, pesada e sufocante, como se um peso invisível estivesse tentando me esmagar. Que porra a Giovanna tem? Não fiz nada para ela. Será que ela me culpa por algo? Talvez tenha descoberto alguma merda sobre mim. Não faço ideia. Só sei que preciso ver a Giulia, ouvir a voz da mulher que eu amo para encontrar um pouco de alívio.

Pego o celular mais uma vez, mesmo sabendo que a chance de ela atender é mínima. Tentei ligar, mas, claro, a ligação vai direto para o correio de voz.

— Sua chamada está sendo encaminhada para a caixa de mensagens. No momento, não é possível atender sua ligação. A caixa de mensagens está cheia. Por favor, tente novamente mais tarde. — A mensagem automática ecoa na minha cabeça, repetida como uma tortura.

Com o celular ainda na mão, olho para ele com um olhar carregado de raiva e impotência, como se o aparelho fosse o responsável por todos os meus problemas. A bateria está quase no fim, e, com um suspiro frustrado, deixo o aparelho cair no console com um baque seco.

— Caralho!

O rugido sai com força, meu peito está apertado, minha mente girando em círculos, tentando juntar as peças desse quebra-cabeça maldito que, honestamente, não faz o menor sentido.

Sentir saudades da Giulia, pensar nela o tempo todo, está me causando dor física.

— Que merda, Giulia. Onde você se meteu?

Giro a chave na ignição, e o carro ruge, vibrando sob minhas mãos. Piso fundo no acelerador, arrancando da calçada com os pneus cantando alto. O som da borracha queimando contra o asfalto quente, sob a luz do dia, é quase tão satisfatório quanto eu imaginava.

Acelero sem piedade, o velocímetro disparando enquanto faço ziguezague entre os carros. O sol alto no céu me cega momentaneamente, mas eu não diminuo. O vento entra pelas janelas abertas, chicoteando meu rosto, bagunçando meu cabelo, mas eu só penso na estrada à minha frente.

Cada ultrapassagem é uma descarga de adrenalina, e a cada freada brusca, sinto um lembrete de que estou no controle, mesmo que o resto da minha vida esteja uma bagunça. É isso que os carros oferecem, e sei que foi exatamente o que meu pai amava neles, um amor que ele compartilhou com Anthony.

Os carros ao meu redor se tornam borrões de cores, nada mais do que obstáculos.

A estrada até a cabana é longa, cercada por uma floresta densa que parece se fechar ao redor do carro conforme avanço. A escuridão entre as árvores é quase opressiva, combinando perfeitamente com o meu humor de merda. Os faróis iluminam o caminho tortuoso, mas parece que estou dirigindo direto para o inferno. De certo modo, talvez esteja.

Cada curva, cada trecho de estrada que passo, a sensação de que algo está profundamente errado só aumenta. Tento afastar esses pensamentos, mas é como tentar apagar um incêndio com um copo d'água. Tudo parece errado. Essa distância entre mim e Giulia está me matando aos poucos, e saber que ela está por aí, fora do meu alcance, só piora as coisas.

Acelero ainda mais, tentando escapar desse aperto no peito, mas a estrada é traiçoeira. E então, acontece.

Uma curva fechada surge do nada. Meus reflexos disparam, mas é tarde demais. O carro derrapa violentamente, os pneus perdem tração, e sinto o mundo girar ao meu redor. O volante é praticamente arrancado das minhas mãos enquanto luto para manter o controle, mas o carro continua deslizando em direção à beirada de um desfiladeiro.

Por um segundo, tudo parece desacelerar. A borda do precipício se aproxima, e meu coração martela nos ouvidos. O pânico toma conta, mas com um último movimento desesperado, giro o volante para o lado oposto, forçando o carro a sair da derrapagem. Os pneus gritam contra o asfalto, e o carro sacode, finalmente ganhando tração.

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