O som insistente da campainha continua a ecoar, perturbando meus sentidos, mas resisto à tentação de me mover, desejando apenas desfrutar da calma ao lado de Giulia. Ela repousa sobre mim em um sono tranquilo, seu braço suavemente apoiado sobre meu peito, seu rosto repousando em meu braço. Sua expressão é serena, como se estivesse completamente livre de preocupações.
Observo-a, notando cada detalhe de sua beleza: os lábios carnudos, os cílios longos e cheios, as bochechas redondas adornadas por algumas pintas espalhadas pelo rosto. Meus dedos deslizam suavemente por seus cabelos, uma mistura indefinida de tons loiros com mechas escuras, e sua textura é macia.
Com delicadeza, se aconchega um pouco mais perto de mim, buscando meu calor, e sinto meu coração acelerar em resposta ao contato.
Porém, a maldita campainha persiste, e Giulia começa a despertar lentamente, seus olhos lutando contra o sono enquanto ela se move com preguiça. Parece relutante em deixar o conforto do sono, mas eventualmente, ela desperta completamente. Um sorriso sonolento adorna seus lábios ao me ver, e não consigo evitar sorrir de volta.
Mas antes que eu possa relaxar completamente, sua expressão muda abruptamente. Seus olhos se abrem completamente, a sonolência desaparecendo instantaneamente, substituída por confusão. Giulia salta para trás, surpresa e assustada, como se tivesse esquecido onde estava por um momento.
— O que você está fazendo aqui? — pergunta, sua soa voz trêmula enquanto ela se levanta da cama. Observo-a, perplexo diante de sua reação.
Seus lábios se entreabrem em surpresa, uma leve ruga de preocupação se formando em sua testa enquanto seus olhos me encontram. Com passos apressados e mãos trêmulas, ela se estica até o cabideiro, agarrando seu robe verde. O tecido desliza entre seus dedos nervosos, os olhos buscando freneticamente alguma forma de se esconder.
Vejo enquanto ela se enrola nele, cada movimento com urgência em se cobrir, como se eu não tivesse visto seu corpo e nem tocado nele durante toda a noite. Seus dedos tremem ligeiramente ao ajustar o robe em torno de si, sua respiração acelerada denunciando sua aflição.
— Dormimos juntos, lembra?
Seu rosto cora levemente diante do lembrete, e ela balança a cabeça, como se tentasse afastar os pensamentos de sua mente. Sinto-me exasperado diante de sua negação, soltando um suspiro resignado e deixando minhas mãos caírem atrás da cabeça em um gesto de desistência, enquanto encaro o teto.
— Brownie, fingir que não lembra não vai mudar o que aconteceu. Seja adulta sobre isso!
— Vai se ferrar, Allan Moretti!
A encaro, surpreso com sua reação e vejo uma expressão de raiva estampada em seu rosto, como se estivesse prestes a explodir em uma reação nuclear, e uma onda de desconforto me atinge em cheio. Com um suspiro pesado, ela alcança a porta, seus dedos se fechando ao redor da maçaneta. Então, com um movimento decidido, abre a porta e sai.
Permaneço deitado, a sensação de agonia crescendo dentro de mim, enquanto tento processar o que acabou de acontecer.
Após alguns minutos sem ela voltar, solto um suspiro carregado de frustração. Ergo-me da cama com um movimento brusco, arrancando o lençol de cima de mim em um gesto impulsivo, deixando-o cair ao chão com um ruído abafado.
— Louca, é isso que ela é. Pediu para eu dormir com ela e no dia seguinte finge não lembrar e ainda me xinga? Mas que porra! — Resmungo entre dentes, a tensão se acumulando em meus ombros enquanto passo a mão pela cintura, sentindo a rigidez dos músculos.
Levo as mãos ao rosto, massageando as têmporas numa tentativa desesperada de acalmar minha mente para não cometer nenhuma loucura. Com passos pesados e os punhos cerrados, sigo em direção ao guarda-roupa no espaço que Giulia organizou para mim. Descalço, pego uma camiseta e a visto rapidamente, sentindo a suavidade do tecido contra minha pele.

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FRUTO CRUEL
Romance"Novos capítulos toda sexta-feira!" Nossa mente é um labirinto complexo, muitas vezes difícil de compreender. Qualquer gatilho pode desencadear consequências terríveis, especialmente na mente de um dependente químico, onde o medo se torna ainda mai...