Abro os olhos lentamente, a luz suave do abajur ao lado da cama inundando meu campo de visão. Observo os detalhes do quarto, notando seu design antiquado.
Lentamente, tento mover-me, surpreso ao descobrir que não encontro mais resistência em meus membros. Com um pouco de esforço, ergo-me da cama, encostando as costas no encosto de madeira, que transmite uma sensação de frescor, contrastando com o calor do ambiente.
Meus olhos vagam pelo quarto, e pousam em meus braços, envoltos por faixas cuidadosamente aplicadas. Alguém cuidou dos meus ferimentos.
Pela primeira vez em muito tempo, sinto-me no controle da situação, e a abstinência parece distante, como se eu finalmente estivesse retomando o comando da minha própria vida.
Com um movimento automático, puxo o lençol para descobrir-me, buscando certificar-me de que tudo está no lugar, uma preocupação natural após os eventos recentes.
A sensação do tecido macio deslizando sobre a pele me traz um alívio momentâneo, mas minha atenção é capturada imediatamente pelo que encontro debaixo dele.
Para minha surpresa, descubro que estou vestindo uma cueca box estampada com peixes, uma escolha de vestuário completamente fora do meu estilo habitual. A ironia da situação não passa despercebida, e um leve sorriso irônico brinca nos cantos dos meus lábios.
Desço a mão até o local apropriado, sentindo o relevo familiar sob o tecido da cueca. Tudo parece estar no lugar, intacto e em ordem, o que me traz um sentimento de alívio. Faço uma nota mental para investigar a origem desta peça de roupa em algum momento posterior, uma curiosidade que certamente merece ser satisfeita.
Decidido a explorar o ambiente, levanto-me da cama e me dirijo à janela. Abro-a lentamente, permitindo que a luz do lado de fora entre no quarto.
Observo a paisagem urbana lá fora, percebendo que estamos em um prédio alto, provavelmente no 5º andar. O bairro lá embaixo revela-se simples e pobre, uma surpresa para mim.
Curioso, começo a explorar o quarto, notando cada detalhe enquanto me movo. Tudo parece compacto e apertado, como se estivesse confinado em um espaço reduzido. Minha atenção é atraída para a maçaneta da porta, e decido investigar além do quarto.
Abro a porta com cautela, e imediatamente ouço vozes femininas vindas do que parece ser a sala de estar.
Uma delas, sem dúvida, pertence a Giulia. Curioso para descobrir quem é a outra voz, avanço pelo corredor estreito, aproximando-me sorrateiramente da sala de estar.
Mantendo-me escondido atrás de uma parede descascada, de um verde limão desbotado, observo as duas mulheres com atenção, curioso para ouvir o que estão discutindo.
— Lia, você não pode perder seu emprego novamente. Já tem mais de dois aluguéis atrasados. — A outra mulher comenta, sua presença marcante emoldurada por um conjunto de terninho branco impecável.
Seus cabelos crespos e volumosos, junto com a pele negra, destacam sua beleza natural e confiança. Essa sim faz meu tipo. É quase engraçado perceber como faz tempo desde que senti essa atração por alguém.
Giulia responde com um suspiro peculiar, cheio de exaustão. Ela passa a mão pelo rosto, como se tentasse dissipar a tensão que se acumula em sua face.
— Eu vendi meu carro, então consigo acertar os aluguéis. Quanto ao emprego, não tem volta. Já estou enviando currículos para outras clínicas.
— Ah, meu amor, você precisa tomar jeito.
— Eu juro que estou tentando, mas as coisas aconteceram e eu não pude fugir — Giulia desabafa, enquanto a outra mulher a envolve em um abraço solidário.
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FRUTO CRUEL
Romance"Novos capítulos toda sexta-feira!" Nossa mente é um labirinto complexo, muitas vezes difícil de compreender. Qualquer gatilho pode desencadear consequências terríveis, especialmente na mente de um dependente químico, onde o medo se torna ainda mai...