16 anos atrás...
A sensação de falta de ar persiste, como se o oxigênio se recusasse a preencher meus pulmões após o treino implacável com o Senhor Miller.
Suas palavras duras se repetem em minha mente, como um toca-fitas quebrado a cada erro que cometi durante a prática.
Ele foi especialmente severo hoje, não poupando esforços para destacar minhas falhas. Meus dedos trêmulos mal conseguiam acertar os alvos, enquanto minha mira desajeitada parecia uma caricatura pálida da precisão afiada de Anthony. No entanto, sei que tenho que melhorar, se quiser alcançar o status de liderança nos Ristrettos.
Enquanto procuro alívio na água gelada da sala de estar, meus olhos acompanham o Senhor Miller carregando a maleta de armas de volta em direção ao escritório do meu pai. Uma inquietação silenciosa me impulsiona a segui-lo furtivamente, movendo-me com cautela por trás dos móveis.
Observo através de uma fresta na porta entreaberta, segurando a respiração, enquanto ele insere o código no cofre oculto atrás de um quadro. O som metálico do mecanismo se abrindo ressoa pelo corredor, e meus olhos captam cada movimento dele ao guardar as armas.
À medida que ele se prepara para partir, uma onda de medo surge dentro de mim.
Desesperadamente, tento manter a calma enquanto atravesso o corredor, fingindo casualidade ao retornar para o pátio.
Ao se aproximar, o treinador para diante de mim e passa a mão pelo topete loiro com indiferença, mas seus olhos me avaliam com intensidade.
Seus braços cruzados revelam sua força, as veias são ressaltadas em seu braço, e suas tatuagens adornam sua pele clara.
— Allan, tá na hora de melhorar esse condicionamento. Olha só o Anthony, já correndo por aí, se dedicando de verdade.
Os olhos castanhos cravados em mim, transbordando desprezo, como se eu fosse fraco demais pro gosto dele.
Sinto minhas bochechas arderem com suas palavras, e desvio o olhar, encolhendo-me diante de sua reprovação.
— Desculpa, Senhor Miller. Só parei para beber água, já vou voltar pro treino — tento soar corajoso, mas minhas palavras saem em um sussurro frágil.
Constrangido ele coloca a mão em meu ombro.
— Quero evitar que você continue sendo uma decepção para seu pai, Allan.
Vejo o desprezo por minha fraqueza, por minha inutilidade, refletido em seus olhos antes de ele se afastar em direção ao pátio.
O treinador está certo; não posso continuar a desapontar meu pai. Por isso, decidi. vou pegar as armas do escritório e escondê-las em meu quarto para treinar em segredo.
Espero surpreender o senhor Miller e demonstrar minha evolução.
Assim que tenho certeza de que ele está longe o suficiente, corro até o escritório, meu coração ainda martelando no peito pelo encontro tenso.
Entro no local, sentindo-me minúsculo diante da grandiosidade dos móveis ao meu redor. Cada detalhe parece excessivamente magnífico para meus olhos: a vasta mesa de mogno, as paredes altas revestidas de madeira escura e o quadro pendurado do vovô, observando-me com seus olhos silenciosos e penetrantes.
No canto da sala, uma banqueta de couro marrom chama minha atenção, e com esforço arrasto-a até o ponto onde o quadro está pendurado, escondendo o cofre embutido na parede.
Seguro a banqueta e a posiciono como um suporte improvisado para alcançar o quadro. Com mãos trêmulas, desprendo-o da parede, revelando o cofre embutido em sua cavidade.

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FRUTO CRUEL
Romance"Novos capítulos toda sexta-feira!" Nossa mente é um labirinto complexo, muitas vezes difícil de compreender. Qualquer gatilho pode desencadear consequências terríveis, especialmente na mente de um dependente químico, onde o medo se torna ainda mai...