A limousine deslizou suavemente pelas ruas escuras da cidade, os vidros fumê filtrando a visão dos becos sujos e vielas abandonadas. O silêncio dentro do carro era pesado, preenchido apenas pela respiração controlada de Eros e pelo zumbido distante do motor. Meus olhos percorriam o interior luxuoso do veículo, buscando algum ponto de conforto, mas o pavor latejava dentro de mim como uma ferida aberta.
Conforme nos aproximávamos, o cenário começou a mudar. As luzes da rua se apagavam, e a paisagem ao redor se tornava mais desolada. De repente, o carro desacelerou, e quando olhei para fora, vi que estávamos em um lugar que parecia um terreno baldio. Mas havia algo de errado. Havia uma ordem sombria ali. Cercado por altos arames farpados, o lugar tinha mais ares de prisão do que de abandono.
Minha respiração ficou mais pesada. Havia algo no ar, não era apenas o silêncio, mas um som ao fundo... gritos. Baixos, abafados, mas inconfundíveis. Olhei rapidamente para Eros, buscando uma resposta.
— O que é isso?
Sentado ao meu lado, virou-se lentamente. Inclinou-se levemente para mim, os olhos encontrando os meus com um brilho que me arrepiava.
— Já ouviu falar de rinha de cachorros?
Engoli em seco, o estômago revirando só de ouvir aquelas palavras. Apertei as mãos no colo, a mente correndo com mil pensamentos.
— N-não.
Seu sorriso se alargou, seus olhos nunca deixando os meus.
— Funciona assim... Dois animais, geralmente cães treinados desde filhotes para serem o mais agressivos e implacáveis possíveis, são colocados em um ringue. Ali, não há escapatória, não há misericórdia. Lutam até a morte. E as pessoas ao redor... — Fez uma pausa, observando minha reação. — As pessoas assistem. Apostam. Se deleitam com cada segundo de sangue derramado.
Minha garganta secou enquanto ouvia, o nó no estômago apertando ainda mais. Eu já sabia para onde aquilo estava indo, mas mesmo assim precisei perguntar, como se ouvir a verdade da boca de Eros fosse me preparar para o horror que eu pressentia.
— E... e é isso que acontece ali?
Inclinou a cabeça, sua expressão satisfeita, como se tivesse me guiado exatamente para onde queria.
— Sim, Giulia. Mas aqui... — Gesticulou com um leve movimento de cabeça para o lugar cercado por arames altos, onde os gritos ecoavam — ...não são cães que lutam. São pessoas.
Meu coração disparou, batendo tão forte que parecia ecoar dentro de meus ouvidos.
Pessoas?
Era difícil de assimilar, difícil de acreditar. Mas os gritos, a atmosfera sombria e cruel daquele lugar, tudo fazia sentido agora. Aquilo não era um lugar abandonado. Era uma arena.
Olhei para Eros, tentando processar tudo o que havia dito, tentando não me deixar levar pelo pânico.
— Pessoas? — Sussurrei, quase sem ar. — Como... como pode?
Deu de ombros, sua postura relaxada.
— Os ricos e poderosos são entediados, Giulia. Querem algo mais intenso, mais visceral. Querem sangue.
Me afundei no assento da limousine, sentindo um calafrio arranhar minha espinha. Os arames farpados que contornavam o lugar, os carros enfileirados, o som distante de gritos chegou aos meus ouvidos, abafado pelas paredes do carro, mas claro o suficiente para deixar claro o tipo de lugar onde eu estava me metendo. Meus dedos apertaram o estofado, e minha respiração se tornou mais pesada.
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FRUTO CRUEL
Romance"Novos capítulos toda sexta-feira!" Nossa mente é um labirinto complexo, muitas vezes difícil de compreender. Qualquer gatilho pode desencadear consequências terríveis, especialmente na mente de um dependente químico, onde o medo se torna ainda mai...