No outro dia, chego à editora meia hora mais cedo. Incrivelmente, o trânsito estava livre hoje, o que é surpreendente. Quando entro na sala, coloco o notebook sobre minha mesa e penduro minha bolsa na cadeira. Billie entra logo em seguida e me olha brevemente, mas então ela se retira da sala.
-- Mulher estranha -- resmungo, sentando-me na minha cadeira, já me preparando para um dia longo, cansativo, exaustivo e irritante ao lado de Billie.
Minutos depois, Billie entra na sala com dois copos de café. Ela coloca os dois sobre a minha mesa e então puxa sua cadeira, sentando-se bem à minha frente, com apenas a mesa nos separando.
-- Acredito que minha mesa não seja grande o suficiente para comportar nós duas -- digo sem a encarar, concentrada nos e-mails que estavam chegando.
-- Quanto você conhece dessa empresa? -- ela pergunta e me estende um dos copos de café.
-- O suficiente... -- respondo, pegando o copo desconfiada. -- Tem laxante ou veneno nisso? -- pergunto, e ela revira os olhos.
-- Se eu quisesse te matar, não seria diante de câmeras -- ela aponta para a câmera bem acima de nós duas.
-- Que alívio -- respondo sarcasticamente, tomando um gole do café.
Ela fica em silêncio por um momento, observando-me com uma expressão que não consigo decifrar.
-- Você tem a intenção de crescer nesse meio?-- pergunta e eu concordo
-- Sim, eu pretendo crescer... Quero ter minha própria editora um dia... -- Respondo sinceramente
-- se surgisse a oportunidade de você crescer muito, você abraçaria?-- pergunta e eu franzi minhas sobrancelhas
-- dependendo dos riscos e do preço a ser pago por isso, sim -- respondo simples -- onde quer chegar com isso?
-- Em lugar nenhum... Só... Estou divagando -- ela diz bebendo de seu café -- ficou sabendo sobre os boatos, certo?
-- sim, eu fiquei sabendo -- ela concorda minimamente com a cabeça
-- acha que sou irresponsável e soberba? Seja sincera -- ela pergunta me olhando seria
Fico surpresa com a pergunta direta de Billie, mas decido ser honesta.
-- Sinceramente? Sim, acho que às vezes você age de maneira irresponsável e soberba. Você trata as pessoas de forma rude e isso afeta o ambiente de trabalho. Se você quer ser uma líder, precisa mudar essa atitude. Não é porque somos seus funcionários que não temos nossos problemas pessoais, limites, limitações, adversidades e até mesmo necessidades.
Ela abaixa os olhos, pensativa, e por um momento há um silêncio desconfortável entre nós.
-- Bom, aparentemente vocês da empresa não são os únicos a pensar assim -- ela suspira, levantando-se.
-- Como assim? -- pergunto, vendo-a colocar sua cadeira de volta no lugar.
-- De volta ao trabalho -- ela diz simplesmente, não respondendo minha pergunta.
Observo enquanto Billie se afasta, claramente ainda absorta em seus pensamentos. Sinto uma mistura de frustração e curiosidade. Algo está acontecendo, e parece que Billie está lidando com pressões que vão além do escritório.
Decido focar no trabalho, mas a conversa com Billie continua a ecoar na minha mente. Passo a manhã revisando documentos e respondendo e-mails, mas a curiosidade sobre o que Billie quis dizer não me deixa em paz.
No intervalo do almoço, encontro Camila na cozinha.
-- Ei, você sabe de alguma coisa sobre o que está acontecendo com Billie? -- pergunto enquanto pego um café.
-- Ouvi alguns rumores -- ela responde, baixando a voz. -- Parece que o conselho está questionando a capacidade dela de liderar a empresa. Eles estão preocupados com a forma como ela tem lidado com as coisas desde que Patrick ficou doente.
Isso faz sentido. A pressão sobre Billie deve ser imensa, especialmente se o conselho está duvidando de suas habilidades.
-- Isso explica muita coisa -- digo, refletindo. -- Ela mencionou algo estranho hoje, mas não quis entrar em detalhes.
Camila me olha com curiosidade.
-- O que exatamente ela disse?
-- Apenas que não somos os únicos a pensar que ela age de forma irresponsável e soberba. Depois, ela se fechou e não quis falar mais nada.
Camila suspira.
-- A situação está complicada. Acho que ela realmente precisa de ajuda, mas não sabe como pedir.
Concordo, lembrando da expressão vulnerável de Billie mais cedo.
-- Talvez devêssemos tentar ser mais compreensivos. Se ela está disposta a mudar, podemos ajudar a tornar isso possível.
Camila acena com a cabeça.
-- Sim, talvez seja o melhor a fazer. Vamos ver como as coisas se desenrolam.
Volto ao trabalho com uma nova perspectiva. Decido que, mesmo que Billie tenha sido difícil até agora, vou tentar ser mais paciente e oferecer meu apoio. Se todos na equipe se unirem, talvez possamos criar um ambiente mais positivo e ajudar Billie a se tornar uma líder melhor.
À tarde, noto que Billie está mais silenciosa e focada em seu trabalho. Talvez nossa conversa tenha realmente feito diferença. Continuo a trabalhar, esperando que, com o tempo, as coisas melhorem para todos nós na editora.
Billie resmunga baixinho, parecendo estar com dor. Eu pego a cartela de remédio para dor de cabeça e arremesso em sua direção.
-- Toma isso, ficar apenas resmungando a cada cinco segundos não vai ajudar em nada -- digo, e ela me encara em silêncio.
Ela pega um comprimido e leva até a boca, em seguida arremessa a cartela de volta para mim. Permanecemos em silêncio novamente, concentradas em nossos trabalhos.
O som dos teclados preenchendo o ambiente é a única coisa que se ouve. Tento me focar nos e-mails e relatórios, mas não consigo deixar de notar a expressão de desconforto no rosto de Billie. É estranho ver essa faceta dela, vulnerável e, de certo modo, humana.
Depois de um tempo, a curiosidade me vence.
-- Está com dor de cabeça faz tempo? -- pergunto, sem tirar os olhos da tela do notebook.
-- Desde ontem à noite -- ela responde com um suspiro.
-- Você deveria cuidar melhor de si mesma. Não adianta nada tentar carregar o mundo nas costas se você mesma não está bem -- comento, ainda focada no meu trabalho.
-- Fácil falar -- ela murmura.
-- Eu sei que não é fácil. Mas é necessário. Todo mundo aqui quer que a empresa funcione bem, inclusive você. Se precisar de ajuda, é só pedir.
Ela não responde de imediato. O silêncio volta a se instalar, até que ela finalmente quebra o gelo.
-- Obrigada -- diz, quase inaudível. -- Por hoje cedo e pelo remédio.
-- De nada -- respondo, surpresa pela gratidão. -- Só não acostuma mal. Não vou ser boazinha sempre.
Billie dá uma risada fraca.
-- Eu não espero isso.
Continuamos a trabalhar em um silêncio um pouco menos tenso. Ainda há um longo caminho pela frente, mas esse pequeno momento de compreensão mútua é um passo na direção certa. Ao final do dia, sinto que, pela primeira vez em muito tempo, talvez haja uma chance de que possamos trabalhar juntas de uma forma mais harmoniosa.
Quando o relógio marca o fim do expediente, começo a guardar minhas coisas. Antes de sair, olho para Billie e vejo que ela está imersa em seus papéis, mas parece um pouco mais relaxada.
-- Até amanhã -- digo, pegando minha bolsa.
-- Até amanhã -- ela responde, levantando o olhar por um breve momento e dando um leve aceno de cabeça.
Deixo a editora com uma sensação de leveza. Amanhã é um novo dia, e quem sabe o que mais pode mudar.
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Boss (Billie/You)Gp
Fanfiction-- Posso falar com você um minuto? -- pergunta. -- Claro -- respondo, fechando meu notebook e me virando para ela. -- você se casaria comigo?-- Fico atônita com a pergunta repentina de Billie. -- O que? Tem certeza que está bem? -- pergunto, tentand...