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-- Precisa que eu vá com você?-- Ela pergunta e eu franzi minhas sobrancelhas com sua preocupação repentina

-- Na verdade não... -- Billie assentiu lentamente, mas pude ver a leve tensão em seu maxilar enquanto ela se virava de volta para a televisão, como se minha resposta não tivesse sido o que ela esperava. O silêncio entre nós voltou a crescer, e, por um momento, parecia que estávamos cada uma em um mundo completamente diferente, mesmo estando no mesmo espaço.

Eu me sentei no sofá, ainda segurando o copo de água, sem saber exatamente como prosseguir com a conversa. A preocupação dela, embora sutil, era algo que não via há tempos, e isso me deixava confusa.

— Você... realmente quer ir comigo? — perguntei, hesitante, sentindo que talvez houvesse algo mais em sua oferta.

Ela demorou alguns segundos para responder, ainda com os olhos na TV.

— Eu só pensei que, talvez, você não quisesse ir sozinha.

Era estranho ouvir aquilo vindo de Billie. A distância que ela havia colocado entre nós nos últimos meses fazia parecer que ela estava bem indiferente a tudo. Mas ali estava ela, oferecendo ajuda, mesmo que de maneira meio fria.

— Eu te agradeço — respondi suavemente. — Mas acho que, desta vez, eu preciso lidar com isso sozinha.

Ela não respondeu, apenas continuou encarando a tela, mas eu pude perceber que algo se quebrou naquele breve momento. Não sabia dizer o que era, mas a sensação de que algo estava mudando crescia dentro de mim.

-- Finneas estava pedindo para papai reaver toda a herança. Mas papai acredita que tudo esta conforme deveria estar -- Billie diz e eu concordo minimamente -- Acredito que mês que vem, a editora será passada para mim. A gente continua nessa por mais alguns meses, só para não dar muito na cara, e então podemos pedir o divórcio se assim desejar

Aquelas palavras me atingiram de uma maneira que eu não esperava. Billie falava com uma casualidade que parecia quase ensaiada, como se tudo já estivesse resolvido e o caminho traçado. A editora seria dela em breve, e o plano estava completo. Depois disso, poderíamos simplesmente nos separar e seguir nossas vidas. Era isso?

Senti um aperto no peito, mas tentei disfarçar.

— Então... é isso? — perguntei, tentando manter a voz firme. — Vamos continuar por mais alguns meses e, depois, cada uma segue seu caminho?

Billie finalmente me olhou, seus olhos azulados parecendo impassíveis, como se nada do que estava acontecendo a afetasse.

— Esse era o acordo, não era? — respondeu com naturalidade. — Você teria sua editora, eu teria o controle da empresa do meu pai. Nós dois ganhamos.

Eu assenti lentamente, sentindo a distância entre nós se expandir mais uma vez. Era como se ela estivesse me lembrando constantemente que isso não passava de um arranjo, e qualquer sentimento ou apego que tivesse surgido entre nós era algo que eu precisava ignorar.

— Claro, você está certa. — Forcei um sorriso, mas por dentro, algo estava se despedaçando. — Foi o que combinamos.

Mas, naquele momento, a ideia de "ganhar" parecia o oposto do que estava acontecendo.

-- Eu vou me deitar... Não estou me sentindo muito bem -- Digo me direcionando para a escada. Billie me olha parecendo preocupada

— Tem certeza de que não quer que eu vá com você? — Billie perguntou novamente, a preocupação finalmente transparecendo em sua voz, mesmo que hesitante.

Eu parei no meio do caminho, segurando o corrimão da escada. A verdade é que, por mais que eu quisesse afastá-la, uma parte de mim desejava que ela insistisse. Que ela lutasse contra a distância que criamos.

— Não precisa, Billie. Eu só preciso descansar um pouco — respondi, sem olhar para trás, tentando manter o tom casual, mesmo que por dentro eu estivesse cheia de incertezas.

Subi o restante das escadas e entrei no quarto, fechando a porta suavemente atrás de mim. Deitei na cama, o cansaço emocional me atingindo com força. Meus pensamentos estavam uma bagunça. A relação que construímos, ainda que inicialmente baseada em interesses, tinha se tornado algo muito mais complexo. Eu sabia que, no fundo, algo tinha mudado entre nós, mas era impossível decifrar se Billie sentia o mesmo.

Fechei os olhos, sentindo o peso do vazio ao meu redor. E, mais uma vez, a distância entre nós parecia insuportável.

Eu acabei adormecendo na cama. Mas acordei com alguém beijando minha testa. Eu permaneço com meus olhos fechados.

-- Isso esta me destruindo... Mas prometo que vou consertar tudo logo... -- A voz de Billie ressia baixo, enquanto sinto ela acariciar meus cabelos suavemente -- Só espero que você não desista de mim antes que eu conserte tudo...

Eu escuto o som dela caminhando e então saindo do quarto. Eu continuei deitada, fingindo estar adormecida, mas meu coração batia acelerado. As palavras de Billie ecoavam na minha mente, trazendo uma mistura de alívio e dor. Ela sabia que algo estava errado. Sabia que estava me perdendo, e ao mesmo tempo, parecia tão presa em seus próprios problemas que não conseguia me alcançar.

Abri os olhos devagar, encarando o teto, tentando processar o que havia acabado de acontecer. A maneira como ela tocou meu cabelo, o beijo em minha testa... aquilo foi tão diferente da Billie fria e distante dos últimos meses.

Parte de mim queria correr atrás dela, pedir explicações, perguntar por que ela estava demorando tanto para "consertar tudo". Mas, ao mesmo tempo, o medo de que tudo isso fosse temporário me impedia. Eu não podia mais lidar com o vai-e-vem de emoções. Não sabia se ainda tinha forças para lutar por nós, especialmente quando ela parecia tão indecisa.

Suspirei profundamente, sentindo o peso das dúvidas sobre meus ombros. Talvez eu devesse esperar. Talvez dessa vez ela realmente estivesse pronta para mudar. Mas por quanto tempo eu poderia esperar antes de desistir de vez?

Fechei os olhos novamente, sentindo o cansaço me invadir mais uma vez, mas desta vez com a leve esperança de que talvez, só talvez, Billie estivesse realmente disposta a lutar por nós.

Boss (Billie/You)GpOnde histórias criam vida. Descubra agora