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Eu estava em meu horário de almoço com Camila.

-- Você precisa ir ao médico -- Camila diz e eu bufo irritada, afastando o prato de comida, permanecendo apenas com a salada.

-- Eu estou bem, apenas estressada de mais. Billie esta conseguindo me tirar do sério -- Digo colocando um pouco mais de sal em minha salada

-- Ja pensou na possibilidade de uma gravidez? Billie é intersexual, ja vi casos assim -- comenta despretensiosamente

-- Não fale isso nem de brincadeira! Billie é estéril... E um bebê não seria bom no momento -- Digo dando de ombros

-- Tem certeza que ela é estéril? Ela ja fez algum tipo de exame? -- Questiona

-- Não, mas... É uma chance em um milhão de que ela não seja. Sen contar que, faz muito tempo que não temos relação sexual... Cerca de três a quatro meses... Não é uma gravidez -- Digo convicta, porém com uma pequena pontada de incerteza

Camila me observou, a expressão dela misturando preocupação e curiosidade.

-- Olha, não estou tentando ser a chata aqui, mas você parece realmente abalada. E mesmo que a possibilidade de gravidez seja mínima, você deve considerar que a situação entre vocês pode estar afetando mais do que você imagina.

Suspirei, sentindo a frustração subir novamente.

-- É tudo tão complicado. Eu pensei que estávamos indo na direção certa, mas agora... Billie se afastou. Não sei o que fazer.

Camila cruzou os braços, inclinando-se um pouco para frente.

-- S/n, você precisa falar com ela. Não importa se é um casamento de fachada, ou se as coisas estão confusas. A comunicação é essencial, e se você não disser a ela o que está sentindo, essa distância só vai crescer.

-- Essa é a questão! Não existe diálogo com Billie. Ela não era assim, pelo menos não comigo. Agora ela não me escuta, não fala comigo, nem se quer nos vemos durante o dia! -- Desabafo

Camila me olhou com simpatia, seus olhos suaves, mas firmes.

— Eu sei que deve ser frustrante, S/n. Mas você precisa descobrir o que está acontecendo com ela. Billie sempre foi fechada, certo? Talvez ela esteja lidando com algo que você não sabe.

— É, talvez... — murmurei, mexendo distraída na salada. — Mas isso não justifica o comportamento dela. Eu também estou lidando com muita coisa. E estou aqui, tentando manter as coisas funcionando.

— Você tem razão — Camila assentiu. — Mas, às vezes, as pessoas se fecham porque estão com medo de alguma coisa. Ou estão lidando com um problema que não sabem como resolver. Já pensou que Billie pode estar se sentindo assim? Ou que tem algo que ela está escondendo?

Essas palavras me atingiram mais forte do que eu queria admitir. Eu sabia que havia uma barreira invisível entre Billie e eu, mas nunca considerei que poderia ser algo mais profundo. Algo que ela não conseguia compartilhar.

— E se eu tentar falar com ela e não adiantar? — perguntei, sentindo o desânimo tomar conta de mim.

— Bom, aí pelo menos você vai saber que tentou. Mas, de verdade, acho que ela precisa ouvir de você o que está sentindo. Sem cobranças ou acusações. Apenas uma conversa honesta. E, quem sabe, vocês consigam descobrir juntas o que está faltando. — Camila colocou a mão sobre a minha, oferecendo um aperto reconfortante. — E, por via das dúvidas, vai ao médico. Melhor descartar todas as possibilidades, sabe?

Soltei um suspiro, sabendo que Camila estava certa. Billie e eu precisávamos conversar, e eu precisava tirar essa dúvida da minha cabeça de uma vez por todas. A incerteza estava corroendo nosso casamento de fachada, e talvez a verdade, por mais dolorosa que fosse, trouxesse algum alívio.

— Vou tentar, Camila. E vou marcar a consulta.

— É isso aí, garota! — Ela sorriu, me dando um tapinha encorajador nas costas. — Você vai resolver isso.

Mas, no fundo, a sensação incômoda de que essa distância entre Billie e eu não seria facilmente superada continuava a me atormentar.

(...)

Eu cheguei em casa um pouco mais tarde, Billie estava sentada na sala.

-- Eu estava mexendo no computador, e não pude deixar de ver, chegou a confirmação de sua consulta. Sexta as onze -- Billie diz concentrada na televisão e em seu pote de cereal

-- Obrigada -- Digo baixo, me apoiando na parede para tirar meus saltos ali mesmo

-- O que rsta sentindo?-- Pergunta ainda sem me encarar.

-- Emocionalmente ou fisicamente? Porque acredito que um seja consequência do outro -- Questiono e ela me encara brevemente

-- Fisicamente -- Diz após uma longa análise

-- Enjôo, falta de apetite, dor de cabeça, as vezes tontura... -- Listo tentando me lembrar de todos os sintomas

Billie finalmente desviou o olhar da televisão e me encarou com uma expressão séria. Havia uma tensão no ar, algo não dito entre nós que pairava sobre cada palavra.

— Isso parece... sério — ela comentou, sua voz mais baixa, como se estivesse ponderando algo.

— Pode ser só estresse — respondi, dando de ombros, tentando parecer indiferente. — Ou algo que eu comi. Não quero criar expectativa ou alarmismo, mas Camila insistiu para que eu fosse ao médico.

Ela assentiu lentamente, o olhar fixo em mim por um momento. Era como se estivesse tentando decifrar algo, mas logo voltou a sua postura distante, mexendo no cereal e desviando os olhos.

— Bom... é melhor ter certeza, né? — disse, a voz um pouco mais baixa.

— Sim... melhor prevenir.

O silêncio tomou conta da sala, pesado e incômodo. Eu terminei de tirar os saltos e caminhei até a cozinha, procurando algo para beber, tentando ignorar o nó que se formava em minha garganta. Senti os olhos de Billie me acompanhando, mas ela não disse mais nada.

Esse silêncio entre nós estava me sufocando. A sensação de que algo muito maior do que uma simples consulta pairava no ar me deixava nervosa, mas, ao mesmo tempo, eu sabia que insistir para quebrar essa barreira naquele momento não adiantaria.

Coloquei um pouco de água no copo e me recostei no balcão, observando Billie de relance, enquanto ela continuava a mexer no cereal, fingindo estar interessada no que passava na TV. Talvez, depois da consulta, as coisas mudassem. Ou talvez, apenas revelassem o que estava por vir.

Boss (Billie/You)GpOnde histórias criam vida. Descubra agora