XII

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Todas as noites seguintes durante duas semanas eram sempre iguais e Rodolffo saia do vidigal discretamente, indo direto para o apartamento de Juliette. Retornando antes do nascer do sol.

Ele achava melhor que eles não ficassem saindo juntos da favela. As pessoas já especulam e o seu colega policial veio cheio de interrogações. Obviamente Rodolffo mentiu para ele e conseguiu ser convincente.

O cobra teve de bater na sua kitnet as 4 horas da manhã, mas por sorte ele já estava em casa.

Hoje ao chegar no apartamento de Juliette, a encontrou sozinha.

- Cadê a minha sogra? - ele disse dando um abraço em Juliette.

- Foi fazer uma viagem rápida a São Paulo com a Sophia.

- E que carinha é essa?

- Você vai ficar chateado comigo... Deveria ter dito que não vinhesse hoje.

- Por quê? Já não quer ficar comigo? - ele esperava por isso no íntimo.

- Claro que eu quero, mas hoje a gente não pode ficar de chamego.

- Juliette eu não estou aqui só por isso.

- Então não está com raiva?

- Claro que não. Eu estou é viciado na gente.

Ele deu um beijo em Juliette e ela aceitou o carinho com alegria.

Naquela noite ficaram um pouco na varanda do apartamento e puderam ver a lua. Juliette sentou no colo de Rodolffo e ficou conversando por horas com ele.

- Você é tão diferente de todos os caras que eu já conheci. Também não conheci tantos, tive uns dois paqueras na vida e eles só pensavam em sexo, em dinheiro e em drogas. Por isso não houve nenhuma evolução, eu não quis mais.

- Eu sou careta Juliette.

- Não é isso...

- Mas eu sempre fui visto assim. Não é de hoje. Sou metódico, não gosto de exposição desnecessária, não curto bebida e nem de drogas.

- Como consegue ser assim no nosso meio?

- É simples. É só ter foco e não entrar em pilhas.

- Você é muito focado, disciplinado e inteligente.

- Mas eu tenho uma fraqueza muito grande.

- Qual? - Juliette esperou ansiosa a resposta.

- Eu sou carente e a qualquer migalha de afeto me apego.

- Não te dou migalhas de afeto.

- Não é sobre você. Ouça... - ele a deitou sobre seu peito. - Eu nunca imaginei que você apareceria naquele baile...

- Por que não? Eu estava promovendo o baile.

- Por que você nunca é vista em público. E além disso, como eu poderia saber que você estava me observando.

- Eu te observei minuciosamente e cada dia me encantei mais.

- Mas não devia ter sido como foi... Ao menos poderia ter me dito antes...

- Eu tive receio de dizer... Era melhor passar a imagem de mulher descolada do que a de virgem indefesa, não acha?

- Não. Se fosse outro e ele não tivesse experiência, iria te machucar muito. 

Juliette olhou para a lua de novo.

- Nunca falamos muito da sua família. Me conte um pouco sobre eles. - ela pediu e Rodolffo ficou pensativo.

Não queria falar da família do infame traficante que supostamente era seu pai, mas sim do casal que ele mais admirava na vida.

Por fim mentiu e falou da família que não era a sua.

- Você já é pai? Eu sei que esses homens fora da lei tem muitos filhos e começam muito cedo. 25 anos já é suficiente para ter uns 10 herdeiros.

- Eu não sou pai. - ele respirou profundamente e lembrou da mentira de Bruna. - E pelo andar do bonde, nunca serei.

- Como assim? Eu quero ter um filho com você. - Juliette disse o encarando e Rodolffo até assustou. - Eu estou falando sério, não faz essa cara. - ele gargalhou. - Rodolffo... Você não me leva a sério?

- Eu estou envolvido, da forma mais perigosa e profunda que já me envolvi com alguém, mas não podemos dá passos largos demais.

- Então não quer... É isso?

- No fundo você não vai querer isso. É só uma questão de tempo e você muda de ideia.

- Você cuida do tráfico e eu cuido do bebê. Nós vamos dá conta. Nós somos uma boa equipe.

Rodolffo estava se sentindo mal com o rumo da conversa e a beijou para não continuar falando.

- Olha Juliette, uma estrela cadente, faz um pedido. - ele disse assim que olharam o céu.

Juliette fechou os olhos e pediu.

- Quer saber o quê eu pedi a estrela?

- Não. Assim não vale. Não pode contar o pedido.

- Eu sei que vai acontecer.

Rodolffo a abraçou e ficaram ali até quando o sono chegou. Ele saiu do apartamento por volta das 2 horas da manhã e parou frente ao mar, ficando reflexivo sobre o rumo da sua vida.

As coisas tinham ganhado formas e dimensões nunca imaginadas. Ele estava apaixonado e sentia que com ela tinha um relacionamento que se assemelhava ao de seus pais, mas tudo era uma grande mentira.

...

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