XV

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Rodolffo fazia um trabalho digno de um grande investigador e conseguia transitar por vários lugares no vidigal. Os "parças" já o consideravam muito, principalmente por que todos sabiam do envolvimento dele com a "chefe" que era muito querida por todos ali.

- E tu pensa em ficar aqui pra sempre? Ou acha que vai levar a mulé para o alemão? - perguntou um mais atrevido.

- Vocês estão delirando.

Rodolffo não assumia seu romance com Juliette de nenhuma forma e aquilo lhe causava alguns aborrecimentos também. Principalmente por que a maioria acreditava que ela era doida de amores pelo cobra.

Depois do baile, eles não mantinham contato algum no Vidigal. Quando Juliette chegava no morro, sempre passava a sua frente e o olhava, mas nada passava de uma simples troca de olhares. Era a noite que eles estavam juntos sempre, fizesse frio ou calor, Rodolffo ia encontrar a sua namorada.

Em um fim de tarde, de quarta-feira, antes de ir ficar com Juliette, Rodolffo resolveu visitar um amigo de longas datas. Vicente tinha a mesma idade de Rodolffo e era um reconhecido advogado.

- Quem é vivo sempre aparece... - Vicente disse o cumprimentando.

Rodolffo e Vicente foram colegas na faculdade de direito, na qual apenas o segundo chegou ao fim e ainda permanecem amigos com o passar dos anos.

- Como anda a sua vida meu nobre? - perguntou Vicente vendo o amigo cabisbaixo.

- Eu preciso da sua ajuda.

Rodolffo contou os últimos acontecimentos e falou de Juliette.

- Eu acho que essa menina mudou muito você. Nunca pensei que viria até mim com uma proposta dessas Rodolffo.

- Vicente, ela é inocente, eu tenho certeza do que estou te falando.

- A paixão está falando mais alto que a razão Rodolffo. Essa garota é muito nova para você. Olhe para si, já está as portas dos 35 anos.

- Acha que eu não sei disso? Precisa mesmo desse sermão?

- Não é sermão. Mas nada justifica você querer que eu defenda uma criminosa por que ela te prendeu num laço. Ela soube fazer.

- Ela não sabe quem sou eu e na verdade acho que não vamos ficar juntos depois que ela souber, mas eu quero que ela consiga viver em paz e livre. Você é um bom advogado e eu posso afirmar que não há provas contundentes contra ela, então é possível responder em liberdade. Juliette é usada pelo pai para supostamente ser a chefe dos esquemas dele, porém nada é no nome dela. Só para que tenha uma ideia, ela não tem um patrimônio se quer, como ficará provado que é a detentora de uma rede de tráfico, se é desprovida de recursos financeiros reais?

- Rodolffo... Eu posso te ajudar. Você é um bom amigo, um bom homem, mas se tem amor a sua vida, não continue nessa ilusão com essa garota.

- Eu estou me preparando para contar toda a verdade. E sei que haverá muitas consequências, mas eu não quero e nem vou continuar mentindo.

- Se a favela será invadida e quer ela fora disso, se apresse. Eu vou ficar com esse dossiê que me trouxe e vou preparar a defesa de Juliette. No dia da invasão, ela precisa se apresentar a polícia comigo, entendeu?

- Entendi.

Rodolffo saiu do encontro com Vicente um pouco mais aliviado. Confiava no amigo e na sua impecável atuação frente aos tribunais. Juliette conseguiria ser livre.

Depois pensou que em três dias, estará fazendo aniversário. Seus 35 anos chegam e ele acha um dia justo para ser verdadeiro com a mulher que ama.

...

Três noites depois...

Rodolffo se arrumou para sair com Juliette e dessa vez resolveu usar as suas roupas de verdade. Também pegou o seu carro e se mostrou para ela na aparência que ele sempre usa quando não está em missões.

No bolso da sua jaqueta está o seu distintivo e ele é essencial para mostrar a sua verdade.

Quando ele tocou a campainha sua sogra o atendeu e veio logo o impacto.

- Juliette não vai nem te reconhecer desse jeito. - ela disse sorridente.

Nesse instante Juliette surgiu toda linda para ele e também estava elegante, já que iam jantar num restaurante. Ela sorriu ao vê-lo, mas estranhou um pouco o estilo dele, era menos jovial do que ela estava acostumada, mas mesmo assim seu namorado estava lindo.

- Até o perfume é diferente. - ela disse dando um selinho nele.

- É ruim?

- Não. Mas eu acho que não combina tanto com você. Parece sério demais.

Quando ela viu o carro dele, ficou impressionada.

- É locado?

- Não. É meu.

Ela deu um sorriso um pouco sem graça e tentou disfarçar.

- O quê foi?

- Não sei. Eu acho que esse carro não combina com você. Ele combina com alguém mais velho e não com quem está fazendo 26 anos hoje. Mas eu sei que pra gente sair temos que tentar nos mudar muito e você caprichou, está um completo almofadinha. - ela disse sorrindo e Rodolffo ficou sério.

A mudança de visual já tinha causado impacto, quando a verdade fosse revelada totalmente tudo teria fim e ele só queria aproveitar cada momento daquela última noite com ela.

- Eu te amo muito amor. - ela disse o beijando assim que entraram no carro. - Feliz aniversário e feliz vida comigo do lado.

- Obrigado princesa. Ter você comigo é o melhor presente.

- E eu tenho um presente para você muito especial hoje... - ela disse fazendo carinho no cabelo dele.

- Não preciso de nada e eu te disse.

- Você vai gostar, mas agora vamos que eu estou com fome.

Rodolffo deu partida e seguiu a alta velocidade.

...

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