XXXVIII

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Isabela estava triste e logo pensou que ligar para o irmão lhe contando tudo que sabia era a melhor opção, então ligou e no segundo toque um sonoro "alô" a deixou alarmada.

- Isabela, sou eu. É o Vicente. Estou com o celular do Rodolffo.

- Cadê o meu irmão?

- Está tudo bem com você e com seus pais?

- Sim. Cadê o mano?

Vicente disse de forma sutil o quê se passava, mas Isabela ainda ficou muito alarmada.

- Vicente onde você está agora?

- Precisamente estou vestido com um colete a prova de balas e estou no cerco do barracão onde o fumaça mantém a família refém.

- Meu Deus. Vicente... Cuida da Juliette por favor.

- Estou aqui para isso. Tudo vai ficar bem Isabela.

- Se cuida. Não vai tomar um tiro.

- Tem certeza?

- De quê?

- Que não quer que eu tome um tiro?

- Vicente... Isso não é horas para gracinhas.

- Ainda penso em ti todos os dias e sei que não tenho chances, mas pensar não é pecado.

- Pois de agora em diante pense em salvar a minha cunhada. Esqueça todo o resto.

- Ligue para mim mais tarde e te dou notícias.

- Eu não tenho o seu número.

- É o (21) 8782-5333. - ele repetiu novamente e ouviu Isabela teclar no aparelho. Até mais tarde Bela.

A ligação foi desligada e Isabela ficou chorando até que seu pai veio se aproximando dela.

- Por que chora filha?

Ela contou tudo sem demora.

- Vicente está lá no cerco. Mas será que ele vai ajudar a Juliette?

- Creio que sim. Vicente não é mal, mas é um homem sem um propósito na vida. Vai onde o vento leva. Porém ele estima muito o seu irmão, disso não tenho dúvidas.

- Pai acredita que ele fica brincando de me paquerar?

Antônio sorriu e Isabela franziu a testa.

- Não ria pai. O senhor vai ter que conversar seriamente com ele.

- E você já não lhe disse um monte naquela noite que dormiu aqui? Inclusive que não quer ser amiga dele e tudo mais.

- O senhor ouviu a nossa conversa?

- Ouvi tudo Isabela e até confesso que não me choquei com o assunto. Vicente é bem besta para ser sincero. Você pisou nele bonito.

Isabela estava incrédula e não esperava isso do pai.

- Não fiz por mal. Mas eu preciso proteger a minha filha.

Isabela encostou a cabeça na árvore e olhou para o pai.

- O quê passas na sua cabeça?

- O Vicente nem é feio, mas nós temos uma diferença de idade considerável. Ele também não me parece nenhum pouco responsável. Ele é fumante e eu não gosto de cigarros. Ele fez faculdade e eu não fiz.

- Eu não sei o quê te dizer diante disso.

- Ele disse que pensa em mim, mas eu acho que é mentira.

- Tirando todos os pontos negativos, o quê sente?

- Sinto raiva dele. Por que ele veio aqui infernizar a vida da gente e por causa dele a mãe odeia a Juliette.

- Não é a verdade. Sua mãe não odeia a Juliette por causa do Vicente e por causa do tráfico ou do pai dela. Existe uma frustração maior envolvida. Rodolffo sempre foi a pessoa perfeita da sua mãe e esse relacionamento tira a perfeição dele, isso a deixa extremamente revoltada.

- O Rodolffo não deixou de ser bom por causa da Juliette.

- Claro que não. Mas ele quebrou o padrão que sua mãe desenhou para ele. É só isso, ninguém é culpado. A culpada nisso tudo é ela. Eu amo meu filho e também adoro a minha nora, por mim não há nenhum empecilho. E se você quiser namorar o Vicente, também não me oponho desde que ele não brinque contigo.

- Pai, eu acho que namorar não é bem a intenção do Vicente.

- Pois se não é, desaprovo a vinda dele aqui. E olhe que eu mesmo o convidei.

- Pai... O senhor não fez isso...

- Fiz sim. - ele deu um abraço em Isabela. - Também quero ver você feliz.

- Mas o Vicente não me faz feliz.

- Não exatamente. Mas te faz sorrir com aquelas conversas dele e isso é bom, ou não é?

- O senhor nem existe pai. Eu te amo.

- Também amo a ti e ao teu irmão. Vocês são as minhas pessoas no mundo e mesmo que em vocês não tenham o meu sangue, saiba que eu daria até a minha última gota por vocês.

...

Cerco ao Fumaça e seu bando.

- Fique sempre atrás de nós doutor Vicente. - explicava Almeida, um sargento da operação.

- Por que atrás? Eu quero estar a frente como Rodolffo estaria.

- O seu amigo é um a gente treinado e o senhor não. Se quer ficar aqui por favor contenha-se.

Vicente ficou revoltado, mas acabou por aceitar provisoriamente.

O enfrentamento começou a todo vapor e a bala zunia no ar. Vicente conseguiu sair de onde estava e foi caminhando cautelosamente até o barracão.

Os policiais viram a sua movimentação e fizeram sinal para que ele voltasse.

- Volta maluco. - Almeida gritou.

Mas Vicente nem deu ouvidos.

Ora rastejou no chão, outra caiu na mata, mas não desistiu e num momento de distração, acertou a cabeça de um capanga com um pedaço de madeira, conseguindo chegar onde estava Juliette, Dulce e Sophia.

- Vicente! - Juliette assustou. - O quê faz aqui?

- Vim ajudar vocês. Estão cercados, daqui a pouco terão que se render. Vamos sair daqui antes que façam vocês de refém.

- Vicente estamos ouvindo os tiros. Isso é perigoso. O Rodolffo está lá fora, não está?

- Depois falamos do Rodolffo... Agora vamos.

As três iam na frente. Vicente atrás. Eram passos cautelosos e quando estavam dentro da mata ouviram tiros no barracão.

- Mais depressa. - disse Vicente.

Os quatros viviam momentos de tensão. E Vicente olhou para o horizonte e disse:

- Olha no que me meti por tua causa Rodolffo. Ser teu cunhado será o mínimo que irá fazer por mim.

- Como é? - Juliette ouviu o quê Vicente disse e sorriu.

- Nada demais. As vezes falo sozinho.

- Sim, mas eu ouvi.

Vicente ajudou as três saírem do perigo sãs e salvas, as levando diretamente para o sargento Almeida.

- Bom trabalho doutor. O senhor é bem astuto.

Enquanto isso o tiroteio ainda persistia e nesse momento o Cobra era fatalmente atingido com um tiro na cabeça.

...

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