Burrice

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Finalmente Sul viu o último carro indo embora. Mandou até o namorado sair, não queria companhia, tinha muita coisa para pensar e não tinha certeza que não se alteraria, ainda mais depois do ocorrido com o paranaense.

Suspirou pesadamente, estava cansado. Por que reagira daquele jeito com o Paraná? Era ciúmes? Aquele papo do Matin era muito estranho.

O gaúcho acabava de arrumar as coisas do churrasco quando viu um carro preto muito suspeito estacionar na frente de sua casa. Reconheceu a pessoa que desceu. Era o agiota vindo lhe cobrar a conta. Precisou recorrer àquilo por causa da situação que estava acontecendo na empresa.

Não fugiria, era burrice e não fazia parte de seu caráter. Mas a situação não era nada boa. Talvez perdesse a casa. Saiu para conversar com eles, não queria que entrassem.


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Credo, acho que bebi demais. Norte saia do banheiro da casa do irmão olhando para os lados. Parece que todo mundo já foi embora, será que ele deixa eu passar a noite aqui?

Rumou para a cozinha a fim de pegar um copo d'água, distraidamente olhou pela janela e viu o carro preto e três homens cercando o gaúcho, que não parecia ter sua pose típica de orgulho. Seu primeiro pensamento era de sair e ver o que estava acontecendo, mas antes que pudesse se mexer, viu a arma na cintura de um deles. Aposto que os outros também tinham.

Estreitou o olhar. O irmão havia se metido em furada das braba. Era melhor que não aparecesse, mas não deixaria de acompanhar a cena. Mudou de posição a fim de conseguir escutar a conversa.

Eles pareciam falar de alguma dívida? Ligou os pontos. Essa greve estúpida dele com o Brasil! O potiguar apoiou os dedos na ponte do nariz. Bicho burro! Se tivesse pedido ele o teria ajudado! Espiava a situação lá fora. Merda! Pra que se meter com agiota?! Ele era mais esperto que isso!

Eita píula! Agarraro ele! RN sentiu a adrenalina subir em seu corpo, será que ia precisar sair? Estava prestes a abrir a porta e pular para fora quando empurraram o loiro o largando agressivamente dando o último aviso. Os três homens entraram no carro e foram embora enquanto o gaúcho olhava a cena derrotado. O nordestino suspirou, por enquanto estava tudo bem. Viu o irmão voltar para a casa e o esperou de braços cruzados.

Sul abriu e fechou a porta sem notar a presença do potiguar. Levou um susto enorme quando levantou o olhar e viu sua figura imponente lhe encarando. Logo torceu a cara desagradado e irritado, não queria ter que se explicar pra ninguém, aquele era seu problema.

— O que foi aquilo homi?

— Tch, tu viu.

— O carro preto e três homens armados te cobrando? Sim eu vi. O que que tá acontecendo cabra?

— Acho que tá bem claro. — Tentou passar pelo irmão. — Achei que tu tinha ido embora, não vi teu carro.

— É que eu estacionei lá atrás. — Impediu que fugisse da conversa. De novo. — Agora explique aquilo homi.

— Não é da tua conta.

— Pegasse dinheiro emprestado é? — Viu a cara de desconforto do sulista. — E com os juros acumulou demais, né isso? — Sul desviava o olhar. Ele estava certíssimo. O nordestino suspirou cansado. — Quanto que tu deves? — O gaúcho se encolheu um pouco, mas não abriu a boca obrigando o outro a lhe intimidar fisicamente. — Fale homi!

— Talvez eu perca a casa. — Murmurou entredentes contrariado.

— Maninho do céu! — O potiguar esfregou o rosto com as mãos.

— Mas isso é problema meu! Eu vou dar um jeito.

— Vai dá um jeito como? Morando na rua? E teus cavalos?! Vais fazer como? Se não tem nem como comprar comida pra você mesmo? — Encarou sério o irmão. — E tudo isso por orgulho!

— Não é orgulho! É princípio! O Brasil que tá sendo um merda comigo! Com toda a empresa! Mas ninguém fala nada!

— Pode até ter um pouquinho de verdade aí! Mas tu tá sendo orgulhoso sim! Quando foi a última vez que tu falou com o pai?

— O pai é outro assunto!

— Não é não! Porque é a mesmíssima atitude sua! Orgulhoso de merda.

— Tchê! Ele me expulsou de casa!

— Expulsou? Uma ova que expulsou! Tu que saísse por orgulho!

— Ele disse com todas as letras que ia tirar meu nome da herança! O que mais eu tinha pra fazer lá? Nada!

— Vocês são dois cabeçudo, bem que a mãe dizia! Não é à toa que eles se separaram.

— Tchê! Tu foi morar com ela e não sabe do que eu tô falando!

— Eu sei o suficiente! Dois cabeça de ferro se chifrando.

Sul não tinha resposta, reconhecia que podia às vezes ser um pouquinho cabeça dura mesmo, que nem o pai. Norte respirou fundo se acalmando.

— Você devia falar com ele, aposto que o velho ia ficar feliz de saber que tu tás vivo. Pelo visto por pouco tempo.

— Eu já falei que vou dar um jeito nisso.

— Pelo menos pede pra deixar seus cavalos lá na estância do pai. Eu sei que tu se importa com os bichinhos.

O loiro torceu mais a expressão, mas do jeito que as coisas estavam talvez precisasse realmente fazer aquilo, ainda mais que tinha um potro sob seus cuidados, seria injusto com os animais.

Infelizmente nem pedir ajuda para Uruguai não poderia, ele morava em apartamento e provavelmente não teria a soma do dinheiro que precisava para pagar os caras. Não que quisesse envolvê-lo naquilo. Não era sua culpa e ele não merecia aquilo, e depois dos pensamentos que tivera sobre o paranaense também não se sentia digno de tê-lo como namorado.

Tudo por causa do Brasil que não aparecia para discutir a situação de seu território e a superioridade que aquele mineiro tinha, achando que ainda era endinheirado como antes. É claro.

— Visse cabra, se tu realmente não tiveres para onde ir pode vir na minha casa, eu sempre vou te receber. — Deu uma última olhada para o de seu sangue. — Mas tu sabes como que as coisas funcionam né cabra, não tenho espaço pros teus cavalos, muito menos dinheiro desse tanto que possa te emprestar. E eu prefiro realmente que vás falar com o velho, ele deve sentir tua falta. Assim como se resolver logo com o Brasil.

Sul se limitou a bufar contrariado. Vendo que não extrairia mais nada do mais novo o potiguar se vira e vai embora deixando-o com os próprios pensamentos. 






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siimmm galerinha, os pais dos Rio Grande aparecem aqui~ (nunca imaginei que faria isso pra ser bem sincera, mas cá estamos)

não vai ser algo extensivo sobre eles e a consequente dinâmica familiar~ só a ciência que eles tem pai e mãe e tem história sobre isso hahaha

aqui tb fica meu humilde tributo à fic da Isaaahsan - Operação Cupido, que mesmo q pequeno o detalhe foi daqui que eu me senti inspirada do casal ser separado e os respectivos ficarem cada um com um dos pais e etc~ (sim eu conheço o filme, mas o uso da ideia se consolidou por causa da fic mesmo. Maravilhosa por sinal, vão lá ler~)

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