Capítulo 55: Está dispensado.

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Passei a mão no rosto, me perguntando de onde aquilo tinha saído. Eu não havia assinado papel nenhum. Eu nem mesmo enviei qualquer documento. Nunca faço isso antes de passar por Luc ou qualquer outro advogado da empresa. Aquilo não fazia o menor sentido.

—Sr. Graham, eu juro que não assinei ou enviei qualquer documento. Eu sei o quanto esse caso é importante e não faria qualquer coisa com a intenção de prejudicar o escritório. —Afirmei, vendo Luc balançar a cabeça negativamente, me encarando como se estivesse perdido. —Deve ser algum engano.

—Os documentos foram enviados do seu computador. Do seu e-mail. Tem a sua assinatura. —Luc repetiu, enquanto eu engolir em seco, tentando achar alguma justificativa pra tudo aquilo. Mas não havia nenhuma. —Chequei as câmeras de segurança também. Ninguém entrou na sua sala enquanto você não estava lá. Eu tentei encontrar qualquer coisa que pudesse livrar sua barra, Carson, mas não tem nada.

—Isso não faz sentido. —Insisti, puxando meus cabelos para trás com força, repassando tudo que havia feito de manhã. Nunca deixava ninguém mexer no meu computador. Nunca ficava desatento com o que eu estava fazendo.

—Consegui marcar uma reunião. —Escutei a voz de Reynolds atrás de mim e fiquei rígido, sentindo meu coração martelando na minha cabeça quando ele passou do meu lado e encarou Luc. —Amanhã de manhã. Já pedi pra reservarem sua passagem.

—Obrigado. Prefiro ir até lá pessoalmente do que resolver isso por telefone. Eles não estavam nem um pouco felizes. —Luc murmurou, voltando a mexer nos papéis na sua mesa, parecendo frustado quando não encontrou o que procurava.

—Ele já se explicou? —Reynolds questionou, olhando pra mim por cima do ombro, enquanto eu franzia a testa. —Não que eu não tenha avisado antes.

—Não tenha avisado sobre o que? —Indaguei, fazendo uma careta, enquanto me aproximava mais dos dois. —Não fiz nada de errado. Estou me esforçando pra fazer meu trabalho da melhor forma possível. Você tem implicado comigo desde que pisou aqui, criticando absolutamente qualquer coisa que eu faço.

—Eu disse que ele iria soltar algo assim. —Reynolds riu, olhando pra Luc com uma expressão convencida, enquanto eu olhava de Luc para ele, tentando entender o que estava acontecendo ali. —Carson, você nem mesmo tentou ser sútil. Não se esforçou nem um pouco para esconder a falta de comprometimento com o trabalho.

—E você não se esforçou nem um pouco em fingir que não gosta de mim. —Retruquei, sentindo a irritação subir pelo meu sangue, deixando-o fervendo. —Sendo que eu não fiz absolutamente nada contra você. Assim como não fiz nada contra o escritório.

—E como Luc vai acreditar em você, se nem mesmo se deu ao trabalho de contar que está com a filha dele? —Reynolds questionou, em alto e bom tom, fazendo aquele calor no meu sangue se tornar gelo quando olhei na direção de Luc, vendo-o encarar a mesa por um momento, antes de erguer a cabeça para ver minha reação. Mas eu estava paralisado, sem acreditar que aquele assunto tinha surgido no pior momento possível. Mas Reynolds estava fazendo de propósito. Ele estava detonando a bomba na hora certa.

—Eu ia falar com você sobre isso depois, porque queria saber se era verdade ou não. —Luc ignorou o toque do celular, comprimindo os lábios quando eu não disse nada. —Mas pela sua reação já sei que é verdade.

—Eu ia contar hoje. Nós dois tínhamos combinado de falar com você depois do trabalho.

—Ia contar hoje. —Luc repetiu, soltando um suspiro longo e resignado. —Depois de ter conseguido um final de semana com ela em Aspen, mentindo pra mim? Porque Elisa não foi pra lá por causa das suas irmãs. Ela foi pra lá por sua causa.

—Eu sei que eu deveria ter falado antes, mas eu não tinha certeza de qual seria sua reação e o estágio... —Parei de falar quando Luc balançou a cabeça negativamente, puxando o celular para ver quem era. —As coisas só ficaram sérias entre nós nesse final de semana.

—Você não teria levado ela pra conhecer seus pais se não fosse sério. —Reynolds soltou uma risada, me encarando com uma expressão totalmente sarcástica. —Esse certamente não é o melhor momento para você mentir, Carson.

—Por que você não vai cuidar da sua vida? —Exclamei, fechando as mãos em punho, enquanto lançava o olhar mais afiado na direção dele. —Isso não é da sua conta, pra começo de conversa. O que eu e Elisa temos não te diz respeito.

—Mas diz respeito ao pai dela. —Reynolds fez questão de rebater, me fazendo apertar os lábios com força para não soltar um palavrão. —Elisa nem deve...

—Não fale dela. —O cortei, odiando o fato de ele sempre falar dela com tanto carinho, como se realmente se importasse. —Você não sabe de nada sobre nós dois. Não sabe como aconteceu, pra supor qualquer coisa. Isso diz respeito a nós e ao pai dela e você não é ele.

—Esse não é o momento pra conversar sobre isso. —Luc afirmou, antes que Reynolds pudesse latir outra atrocidade, que me deixaria ainda mais furioso. —Reynolds, fico feliz que tenha me contado, mas agora cabe a mim discutir sobre o namoro da minha filha.

Reynolds apertou os lábios com força, como se estivesse incomodado, antes de assentir e dar um passo para trás, como se estivesse abaixando a guarda. Mas eu podia ver a vontade que ele estava de discutir. De jogar acusações contra mim e piorar ainda mais a situação.

—Nos íamos mesmo conversar com você hoje. Não estou mentindo. —Falei, olhando na direção de Luc, praticamente implorando com os olhos para que ele acreditasse em mim. —Eu deveria ter contado antes de levá-la para viajar, mas fiquei com medo de você não permitir. Eu estava errado nisso e eu peço desculpas.

—Por que eu não iria deixar, Carson? A quanto tempo isso está acontecendo? —Questionou, parecendo estar perdendo a paciência. —Você sabia que a Elisa tinha viajado pra Aspen com o Nicholas. Você sabia por que ela te contou ou por que vocês se conheceram naquela época?

Soltei o ar com força, sentindo aquela pergunta atingir em cheio meu peito, como se alguém tivesse me dado um soco ali. Vi a dúvida nos olhos de Luc, como se ele tivesse passado tempo demais pensando naquilo. Na possibilidade de eu ter me envolvido com ela muito antes. Na mentira que criamos quando Elisa fingiu que não me conhecia. Tínhamos criado provas contra nós mesmos, sem nem perceber.

—Eu a conheci naquela viagem. —Afirmei, porque não queria mentir de novo e acabar piorando ainda mais as coisas. —Eu a conheci, mas eu juro que não aconteceu nada naquela época. Eu tinha noção que ela era menor de idade e não toquei nela.

Houve um momento curto, mas que pareceu durar uma década, em que Luc apenas me encarou, sem piscar e sem dizer nada, como se estivesse tentando descobrir se podia ou não acreditar em mim. A dúvida ainda estava lá. A hesitação em acreditar em mim e perceber que estava errado. E o pior é que eu sabia que não podia julga-lo por isso. Eu merecia aquela desconfiança.

—Preciso resolver essa questão da documentação antes que fique pior. Reynolds, pode voltar ao trabalho, por favor. —Luc afirmou, o dispensando com um único aceno de mão, que certamente não agradou o advogado. —Não vou discutir com você sobre Elisa agora, Carson, porque não quero misturar as coisas aqui e deixar que isso influencie no problema que acabamos de ter aqui no escritório. Você pode ir pra casa, ok? Está dispensado.

—Você está me mandando embora? —Questionei, me aproximando da mesa de Luc, sentindo aquela raiva de antes se transformar em uma dor afiada e amarga.

—Estou dispensando você por hoje. —Luc desviou os olhos de mim, com o ar cansado marcando cada traço do rosto. —Mas eu quero você aqui amanhã cedo.


Continua...

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