Capítulo 36: Até amanhã.

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Acho que Elisa não tinha noção do que fazia comigo. Não, eu tinha absoluta certeza disso. A forma como ela me olhava era inocente demais, mesmo quando havia uma pitada de coragem naqueles olhos verdes que me deixavam sempre fascinado.

—Então da próxima vez você vai comigo. —Retruquei, abrindo um sorriso tranquilo, como se aquilo não fosse nada, vendo-a surpresa que se abriu nos olhos de Elisa quando me ouviu.

—Ir com você pra Aspen? Pra casa dos seus pais? —Exclamou, tão alto que algumas pessoas que estavam no auditório olharam na nossa direção com expressões curiosas. Elisa se encolheu, parecendo super constrangida, enquanto eu soltava uma risadinha e me recostava na minha cadeira.

—Sim, qual o problema?

—Sério que você está me perguntando qual o problema? —Elisa sussurrou, fazendo uma careta que era uma mistura de supresa e ansiedade. Ela era fofa até quando estava confusa. —O que você está fazendo?

—Nada. —Acabei rindo, o que a fez erguer as sobrancelhas, já que eu estava agindo com muita tranquilidade, como se não tivesse acabado de chamá-la para casa dos meus pais. Literalmente para conhecê-los. —O que você está fazendo?

—Tentando ficar longe de você. —Elisa afirmou, me fazendo abrir um sorriso muito grande, enquanto a encarava com uma expressão curiosa.

—E como você está se saindo princesa? —Indaguei, me inclinando pra frente de novo, quando Elisa se sentou direito e fingiu estar prestando atenção no que acontecia em cima do palco. Escorei meus braços no encosto da cadeira de Elisa, deixando meu rosto bem ao lado do dela. Minha respiração balançando alguns fios do seu cabelo.

—Um desastre. —Soltou, quase como um muxoxo, me fazendo morder o lábio para não rir alto.

—O tom de resignação na sua voz é adorável. —Afirmei, observando-a abrir um sorriso, mesmo que estivesse tentando se segurar. Elisa não olhou pra mim, mas eu sabia que sua atenção era totalmente minha. —Vou almoçar com minhas irmãs e o Adam. Quer vir com a gente?

—Não posso. Prometi almoçar com o Luca hoje. —Ela olhou de relance pra mim, antes de encarar o palco de novo. —Você vai no jogo de basquete quinta?

Hesitei em responder, porque eu ia sim. Eu e minhas irmãs nunca perdíamos um jogo de Adam, assim como eles nunca perdiam um jogo meu. Ou uma apresentação da Hannah e uma peça da Hazel. Era uma coisa que fazíamos desde que entramos na faculdade. Sempre participávamos das coisas uns dos outros, pra apoiar. Mas no jogo de quarta meus irmãos vão estar aqui pra assistir.

—Eu vou. Imagino que você também. —Falei, porque Wyatt era a estrela do time. Elisa o conhecia, além de ser amiga dos irmãos dele. Odeio o quanto isso causa um incômodo dentro de mim. —Meus irmãos vão estar aqui pro jogo.

Assim que terminei de falar, Elisa olhou pra mim com uma expressão surpresa, enquanto as pessoas no auditório começavam a bater palmas, mesmo que aquilo fosse mais um ensaio do que uma apresentação. Fiquei de pé, vendo-a me seguir com os olhos, antes de me inclinar para beijar sua testa.

—Até amanhã. —Falei, segurando a risada quando a expressão dela foi de derretida pra perdida.

—Até amanhã? —Questionou, já que não tínhamos marcado nada. Ou pelo menos não oficialmente. Sorri e pisquei pra ela, me afastando de onde ela ainda permanecia sentada, como se estivesse confusa demais até pra sair do lugar.

[...]

Talvez eu não fosse encontrar Elisa amanhã, no final das contas. Tinha a sensação de que não iria sair vivo no escritório até o final do expediente. A porta da sala de Luc estava fechada. Eu sabia que ele estava sozinho, porque tinha perguntando ao secretário dele, que no momento estava me observando a 15 minutos, andando de um lado para o outro, tentando tomar coragem.

—Quer que eu o anuncie? —Indagou, parecendo estar segurando a risada, o que me fez comprimir os lábios e negar com a cabeça, antes de finalmente reunir toda a coragem e bater na porta. Luc permitiu que eu entrasse no mesmo instante. Ele estava sentado atrás da mesa, analisando alguma coisa no computador, mas abriu um sorriso assim que me viu.

—Oi, Carson. Precisa de alguma coisa? —Questionou, deixando de lado o computador pra dar atenção pra mim. Abri um sorriso tenso, lembrando automaticamente de Elisa, porque eu certamente precisava dela, mas jamais pediria isso ao pai dela. Além de não ser aquele o motivo de eu estar ali.

—Desculpa atrapalhar, sr. Graham. Eu só queria tirar uma dúvida com o senhor, se não tiver problema. —Falei, apertando com força os papeis nas minhas mãos.

—Claro que não tem problema. Qual a sua dúvida? —Luc gesticulou para que eu me aproximasse da mesa. Fiz isso, estendendo os papeis pra ele.

—Fiz esse relatório no final da semana passada. Fiquei um pouco incerto sobre ter pontuado as coisas certas. Queria saber se você poderia dar uma olhada. —Expliquei, sentindo meu coração disparar quando ele pegou o relatório que Reynolds fez tanta questão de criticar, mesmo que eu tivesse o feito com a ajuda de Julian. Além dos meus próprios irmãos comentarem sobre ele estar certo.

—Sente-se, vou ler e já te dou um retorno. —Afirmou, me fazendo engolir em seco enquanto me sentava na cadeira em frente a sua mesa, enquanto ele começava a ler o motivo do meu estresse nos últimos dias. Dependendo do que ele falasse, eu já teria minha resposta.

Fiquei o observando o tempo todo, sentindo vontade de roer as unhas de nervosismo. Meus pés batucavam no chão sem parar, enquanto eu contava minhas respirações, tentando me distrair de alguma forma, mesmo que fosse impossível. Não sei exatamente quanto tempo levou, mas podia jurar que pra mim tinha demorado pelo menos uma vida inteira até ele soltar os papeis e olhar pra mim.

—Bem, eu estava esperando alguma coisa em que eu pudesse te ajudar, já que você veio até aqui claramente nervoso. —Afirmou, me fazendo quase engasgar com uma risada surpresa que escapou pelos meus lábios, porque óbvio que ele ia notar. —Mas o relatório está perfeito. Não vejo nada que você precise alterar nele. —Luc balançou a cabeça, enquanto eu soltava um suspiro alto e murchava na cadeira. —Você está com algum problema, Carson? Estou achando você estranho nos últimos dias. Posso te ajudar com alguma coisa?

O encarei, pensando muito na real resposta que eu queria dar a ele.

Sim, sr. Graham, eu estou com dois enormes problemas. O primeiro é a sua filha, que simplesmente invadiu cada pensamento meu e se recusa a ir embora. O segundo é o seu amigo Reynolds, que decidiu que me infernizar é o seu passatempo favorito.


Continua...

Todos os lances da conquista / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora