Capítulo 63: Me preocupo com você.

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Elisa

Caleb não consegue tirar os olhos de mim, assim como não consegue parar de sorrir. Aquilo me deixa tão sem graça, porque sei que estamos chamando atenção demais. Porque Caleb ainda é estagiário do meu pai, além de estar com problemas no escritório. Claro que isso vai deixar as pessoas curiosas e sussurrando pelos cantos.

—Isso não vai dar problema pra você depois? —Indaguei, falando baixo para que só Caleb ouvisse. Ele me encarou por um momento, antes de negar com a cabeça, soltando uma risada baixa.

—Seu pai já sabe sobre nós dois. Não tem porque escondermos qualquer coisa. —Afirmou, olhando ao redor como se procurasse por alguém. Abri um sorriso quando vi minha mãe olhando pra nós dois. Não parecia incomodada, porque estava sorrindo. —Não quero que fique chateada com seu pai, dependendo do que ele decidir em relação a mim.

—Por que está falando isso? —Questionei, erguendo as sobrancelhas, antes de olhar na direção do meu pai, vendo-o ocupado com alguns de seus colegas de trabalho. —Ele disse que vai te mandar embora?

—Ele não disse nada. Eu só estou pensando em todas as possibilidades do que pode acontecer. —Caleb deu de ombros, com uma expressão totalmente tranquila, como se não se importasse com o que fosse acontecer. Mas eu me importava, principalmente porque sabia que aquilo não seria justo. —Na verdade, acho que ele meio que deixou claro que aprova nos dois.

—O que? —Soltei uma risada, porque aquilo realmente me pegou de surpresa. Caleb me lançou um sorriso travesso, antes de Ella aparecer na nossa frente, roubando minha atenção quando percebi que ela não estava sozinha.

—Ei, achei vocês dois. —Ella abriu um sorriso, enquanto eu erguia as sobrancelhas ao estranhar o jeito dela, que parecia quase disfarçado demais.

—Victor? —Caleb soltou, parecendo se assustar quando o irmão de Ella apareceu, com o terno todo torto, com alguns botões da camisa abertos e sem gravata. Não acho que Victor não teve tempo de se arrumar. Ele só não se importava em parecer social demais. Além de estar com um notebook embaixo do braço. —Não sabia que você vinha.

—Ele não vinha. Ele entrou de penetra, na verdade. —Ella afirmou, fazendo Victor revirar os olhos e negar com a cabeça.

—Eu preciso falar com o Caleb. Quero te mostrar uma coisa. —Victor gesticulou para o notebook que estava carregando, antes de indicar que Caleb o seguisse. —Vou roubar ele de você um pouquinho, Elisa. Mas é por uma boa causa.

—Você descobriu alguma coisa? —Caleb seguiu Victor até o corredor que dava para cozinha, não me deixando ouvir a resposta que Victor deu a ele. Olhei para Ella, vendo-a olhar para o lugar que o irmão tinha ido, parecendo preocupada.

—Você sabe? —Questionei, fazendo Ella olhar pra mim. Ela negou com a cabeça, colocando algumas mechas de cabelo ruivo atrás da orelha, enquanto desviava os olhos. —Você sabe sim. O que está acontecendo?

—Não está acontecendo nada, Elisa. Eu só estou preocupada. —Ella engoliu em seco, olhando na direção onde meus pais estavam, como se estivesse perdida em pensamentos. —Seus pais já passaram por muita coisa, sabe? Acho que eles só mereciam coisas melhores na vida.

Encarei meus pais, pensando no que Ella tinha acabado de falar. Sabia que ela tinha razão. A história de como eles tinham se conhecido não era perfeita. Eu tinha a ouvido da boca de Nicholas e pensado no quanto o mundo pode ser cheio de coincidências boas, mesmo nos piores momentos. E depois havia eu e como tinha sido difícil pra eles me terem.

—Oi, Merlin. —Ella sussurrou, quando meu gato apareceu e se esfregou nas pernas dela, soltando um miado baixo. Abri um sorriso e o peguei no colo, antes de indicar a cozinha para Ella. Esperei que ela viesse atrás de mim, mas Ella se afastou na direção de Abigail, me fazendo ter certeza que alguma coisa estava errada.

—Acho que estão me escondendo alguma
coisa, Merlin. —Falei, entrando na cozinha com Merlin miando no meu colo. Passei a mão na cabeça dele, olhando pela janela para ver se via Victor e Caleb lá fora, mas nem sabia ao certo pra onde os dois tinham ido. —E eu odeio ficar no escuro.

—Costuma conversar sempre com o gato? —Levei um susto ao ouvir a voz do senhor Reynolds atrás de mim, me virando para encontrá-lo na porta da cozinha. Estava com um copo de bebida na mão e com aquele sorriso tímido que normalmente exibia quando estava por perto.

—As vezes sim. Tenho a sensação que ele me entende algumas vezes. —Falei, dando de ombros, antes de caminhar até onde ficava o pode de ração dele e o servir um pouco. Meus dedos tremeram um pouco quando coloquei Merlin no chão, me lembrando do que Caleb tinha pedido pra mim.

—Minha esposa gostava de gatos também, mas nunca chegamos a ter um. —Ele deu de ombros, como se não houvesse um motivo específico para aquilo. Não falei nada, porque estava mais ocupada abaixada atrás de Merlin, passando a mão nele enquanto ele comia. Esperava que isso fosse o suficiente para o senhor Reynolds perceber que eu não queria conversar. —Mas talvez eu acabe adotando um agora que estou sozinho. Você podia me ajudar a escolher.

—Acho que qualquer gato que você adotar vai estar valendo. —Afirmei, ficando de pé para voltar para a sala, já que ele não faria isso por conta. Mas quando me virei, levei um susto quando o encontrei bem atrás de mim. Algo gelado escorrendo pelo meu corpo, porque ele estava perto demais. —Vou voltar para a sala, se me der licença.

—Estou preocupado com você, Elisa. —Ele segurou meu braço quando tentei me afastar. Não era um aperto forte, mas foi o suficiente para fazer meu coração disparar e chegar a garganta. Não consegui falar nada, sentindo meu corpo inteiro ficar rígido. —Toda essa coisa com o Carson me faz pensar que seu pai não está sendo cuidadoso o suficiente com você.

—Meu pai cuida e se preocupa muito bem comigo. Não a nada que ele não fizesse por mim. —Retruquei, puxando meu braço para longe dele, enquanto respirava fundo, sentindo meu coração apertado. —O que eu tenho com Caleb não é da sua conta, sr. Reynolds. Eu gostaria que não se intrometesse nisso.

—Não estou tentando te incomodar. Só me preocupo com você. —Afirmou, com aquele sorriso se tornando maior, antes de erguer a mão e deslizar os dedos pela minha bochecha.

Me afastei na mesma hora, sentindo o desconforto subir pela minha garganta, trazendo um gosto amargo para minha boca. Encarei ele por um momento tenso, tendo certeza de porque Caleb tinha me pedido aquilo. Desviei os olhos dele e saí rapidamente da cozinha, sentindo meu coração martelando na minha cabeça enquanto eu subia as escadas para o meu quarto.

Esfreguei a mão na minha bochecha, querendo limpar o toque dos dedos dele na minha pele. Parecia queimar. Era desagradável. Entrei no meu quarto e bati a porta, puxando o ar com força para tentar regular minha respiração pesada. Precisava falar com Caleb. Precisava falar com meu pai sobre aquilo.

—Elisa? —Reynolds chamou do outro lado da porta, me fazendo olhar assustada pra lá, com meu corpo inteiro começando a tremer de ansiedade quando ele abriu a porta e entrou. —Você está bem?


Continua...

Todos os lances da conquista / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora