37. Orgulho e Miséria

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Miori observou os pequenos esquadrões, que até então estavam posicionados de maneira organizada em frente ao antigo mezanino, se dispersarem para cumprirem suas missões, após o pronunciamento de seu soberano.

O homem em questão, havia chegado há pouco tempo e mal olhara para seus subordinados antes de proferir novas ordens. Não havia simpatia em seu semblante, ou preocupação com seus seguidores leais. Miori era capaz de apostar que, qualquer sentimento presente no semblante do homem, aproximava-se do puro desdém. Tinha a impressão que ele encarava as pessoas enfileiradas à sua frente, como se não valessem mais que a poeira que maculava sua armadura brilhante.

Inevitavelmente, o interior da garota ferveu. Ela não sabia quem havia rasgado um dos lados da face do homem de cima abaixo, mas sentia imensa vontade de se voluntariar para deixar o outro lado igual.

As coisas eram mais simples antes que ele chegasse e assumisse o controle da Signum Sectiones. Eles apenas viviam sua fé. Se capacitavam magicamente e se preparavam. Aguardavam a ascensão de E.N.D.., para que pudessem destruí-lo e cumprir sua missão.

Mas então a anciã fez a profecia e, num sincronismo incrível, o soberano assumiu pouco depois. Foi quando Miori viu sua crença se transformar no trampolim para uma sequência de assassinatos. Pessoas bondosas, que fizeram parte de sua criação, tornaram-se homicidas delirantes. Quem diria que, com o discurso certo, fiéis poderiam facilmente ter sua fé manipulada em obstinação?

E ela teve que seguir o fluxo, para não ser exilada da comunidade em que cresceu. Seu pai, braço direito do soberano, foi o primeiro a lhe lembrar. Tudo bem, ela não tinha mesmo pretensão de nadar contra a corrente. Era a missão dela: dedicar sua vida à Signum Sectiones, por mais difícil que fosse. Sabia que, ainda que seus atos fossem questionados, no final salvariam o mundo da destruição por E.N.D., a criação mais terrível de Zeref.

Isso não a impedia de odiar o homem, no entanto, por ser o catalizador que trouxe o caos e o ódio à sua comunidade, que até meses atrás, vivia em paz.

— O soberano já se foi, sabe — Niall comentou, em tom zombeteiro.

A jovem piscou, atordoada. Mal percebera que o líder se movera.  Era como se ódio tivesse gravado a imagem dele em suas retinas.

— E nós também precisamos ir — Ulric determinou, antes que Niall e Miori pudessem cair em outra discussão. — Nossa missão tornou-se mais delicada. Quanto antes nos prepararmos, melhor — lembrou.

— Finalmente! — Niall comemorou. — Eu já estava cansado de ficar eliminando alvos tão insignificantes.

— Uma vez que as guildas perceberam as nossas ações, não temos porque continuar com ataques discretos. O soberano fez bem em nos reorganizar para um ataque concentrado — ponderou Ulric e Miori não pode deixar de pensar o quanto seu porte enorme contrastava com seu raciocínio afiado.

— O risco é enorme, no entanto — Miori ressaltou, franzindo o cenho.

Ulric estudou-a, com curiosidade. Apesar de a jovem exibir grande bravata e arrogância no campo de batalha, na realidade mostrava-se cautelosa, sempre que discutiam planos de combate.

— Mas se atingirmos os alvos, o resultado compensará — o homem maior pontuou. — Sabíamos que a limpeza dos alvos menores somente duraria até que as guildas ou o Conselho Mágico emitissem alertas a respeito das nossas ações. Uma vez que o momento chegou, devemos passar para os alvos mais prováveis — reforçou.

— A profecia da anciã — Miori lembrou.

Niall soltou um suspiro dramático, antes de reclamar:

— Apesar de tudo o chefe ainda ficará com a parte mais divertida.

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