41. Essência da Vida

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Magnolia  — 06 de julho de X792

Tentando sustentar a lógica em seu raciocínio caótico, Lucy esforçou-se, mesmo em meio a dor, para manter a respiração regular.

Suas mãos permaneceram protetoramente sobre a barriga endurecida, enquanto aguardava que o tormento passasse. Assim que sentiu os músculos relaxarem, suspirou em alívio fisico, sem, no entanto, se esquecer da situação de risco em que se encontrava.

Seus espíritos haviam sumido repentinamente e, a menos que ela estivesse muito errada, aquilo não havia sido uma contração de ensaio, e sim o indicativo de que poderia estar entrando em trabalho de parto prematuro.

Apesar da nova e desesperadora condição acrescentada à sua longa lista de desespero, a loira raciocinou que se sua filha estivesse mesmo prestes a nascer, a próxima contração deveria demorar um pouco. E embora ela não soubesse se essa regra se aplicava aos partos prematuros, o fato a motivou a se deslocar em busca de um abrigo. Para não perder tempo, não fez questão de se levantar, mas engatinhou pelo chão da biblioteca até encontrar o vão entre duas estantes, que poderia acomodá-la sentada.

Por um instante, permitiu-se devanear que, em uma realidade perfeita, ela estaria em sua casa agora, com Natsu ao seu lado, confortando-a, enquanto contavam, juntos, o tempo até a próxima contração. No entanto, ali estava ela, sozinha, se escondendo como um rato que foge do gato, comprimida entre a mobília e aproveitando a visão escassa que tinha da porta da biblioteca através do espaço minúsculo existente entre a parte de trás da estante a sua frente e a parede.

O barulho de passos, fez com que ela tivesse que levar as mãos à boca para abafar os soluços de terror que lhe escapavam. As lágrimas, no entanto, continuaram escorrendo torrencialmente, acumulando-se brevemente no local em que seus dedos encontraram o rosto, para em seguida seguirem seus caminhos sobre as costas de suas mãos.

O que ela não daria para que tudo aquilo não passasse de um pesadelo de que poderia se livrar apenas acordando.

Em vez disso, as figuras que pôde contemplar no momento em que cruzaram a porta, mesmo com a visão precária que dispunha, lembraram-na que seu desespero era real e aparentemente sem fim.

Miori e mais dois capangas estavam ali para matarem seu bebê e, sem Virgo para cavar um caminho ou seus demais espíritos para defendê-la, a biblioteca, que antes seria sua rota de fuga, se transformara em sua gaiola, limitando-a a agarrar-se à possibilidade ínfima de a oponente encontrá-la em seu esconderijo infantil.

...

Vila do Sol — 06 de julho de X792

— JUVIA!!! — a maga da água se lembrava de ter ouvido a voz de Gray gritar em desespero, antes que tudo ao seu redor se tornasse água.

Por um milésimo de segundo, sentiu felicidade. Era automático, nela, se alegrar com qualquer grama de preocupação que Gray demonstrasse a respeito dela.

No entanto, um instante depois, tudo era frio e atordoamento.

Juvia.

Outra voz a chamou. Ela já não a havia ouvido antes? Era cálida e tinha o timbre carinhoso. Reconfortante.

Juvia.

A voz era feminina, agora sabia dizer. Ao concentrar-se na curiosidade a respeito de quem a chamava, a maga da chuva pôde manter o foco.

A primeira coisa que ela deveria fazer, era recuperar o fôlego. E ela podia fazer isso mesmo debaixo da água.

A água era seu domínio.

Após regular a respiração, a maga da chuva notou a dor, o que trouxe uma onda de desespero. Ela precisava estar bem. Precisava, por seu bebê.

— Seu filho está bem — a voz que vinha da água garantiu.

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