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• 2 dias depois •

António Torres

Eu não estava sabendo lidar com o fato de não ter mais a Natasha comigo...Não sabia como lidar com o fato de ter perdido a mulher com quem tive a maior conexão em anos. Eu era um inútil, mas parece que aprender com os meus erros e amar a mulher errada estava no meu ADN. Talvez nenhuma mulher no mundo realmente me merecesse.

Essa seria a primeira vez que sairia do quarto em dois dias. Minha mãe bateu na porta, dizendo que a S/n e Ferran haviam chegado de viagem. Doeu demais, doeu demais não ir lá embaixo recebê-los. Eu realmente estava acabado.

Na verdade, ainda estou.

Eu deveria ter sido uma pessoa melhor.
Sim, com toda certeza, eu deveria.

Ajeitei minha camiseta pela milésima vez e abri a porta. Esperei por alguns segundos e, quando não ouvi nenhum som, desci as escadas da casa...Eu não queria encontrar ninguém. Estava me sentindo um perdedor com tudo isso. Thor foi o primeiro a vir até mim. Ele foi o único que se importou em me receber no fundo das escadas.

Suspirei fundo e me sentei à mesa de jantar, sem falar com ninguém. Meus filhos estavam lá. Eu ainda estava tentando encontrar as palavras para dizer a eles que nunca mais teriam a Natasha ao seu lado. A pior parte de ser pai é, sem dúvida, contar a verdade. E, por mais dolorosa que ela fosse, por vezes, ela tinha que ser dita. Nunca poderia esconder algo deles. Era desastroso para mim e sobretudo para eles.

— Papai! O senhor está bem? Está meio tristinho hoje.

O silêncio pesado tomou conta do ar. Senti um aperto na garganta e o nó familiar que se formava, me prendendo as palavras. Olhei para os rostos curiosos dos meus filhos, tão inocentes, tão alheios ao peso que me esmagava o peito.

— Papai? — a voz pequena e preocupada ecoou de novo, despertando-me do meu corpo.

— Comam, crianças, vá. — a voz de minha mãe saiu mais calma do que eu gostaria. — O vosso pai hoje dormiu mal, foi só isso, vá.

Por um instante, pensei que isso bastaria, mas a esperança ainda brilhava nos olhares deles.

— A mamãe Natasha vai vir nos ver hoje? — a questão da pequena ecoou, abrindo uma ferida que ainda não tinha cicatrizado.

— Ela vai? — Ferran sorriu, radiante. — Queremos dar um presente que compramos para ela.

Inclinei-me na cadeira, a frustração me golpeando como uma onda. Eu não estava lidando bem com o simples fato de ouvir o nome dela sair de suas bocas. Aquilo me deixava despedaçado, vulnerável, como se pudesse desabar em lágrimas a qualquer momento, mesmo ali, diante deles. A verdade que precisava ser dita parecia um monstro à espreita, devorando-me aos poucos.

— Vimos várias coisas na loja, mas com toda a certeza ela vai amar o colar que compramos. Tem as nossas iniciais.

Engoli em seco.

A pressão que se acumulava em mim estava começando a ferver, ameaçando transbordar. Estavam testando a minha paciência sem sequer saber.

— Com toda a certeza é lindo, sim, crianças. Mais tarde mostram, está bem?

Eles trocaram olhares e S/n inclinou-se na cadeira, me lançando um sorriso cúmplice.

— Papai vem connosco vê-la? Assim também falamos todos juntos. — S/n piscou, sem perceber a tensão em meu rosto. — Papai ama ela.

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