Prólogo

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António Torres
07 de setembro de 2010

Naquela manhã de segunda-feira, em Barcelona, o céu estava limpo e uma brisa fresca dançava pelas ruas mundanas. Os meus filhos Ferran e S/n precisavam ir para a escola e quem estava encarregado de os levar era eu. Entretanto, nos preparativos matinais, havia um desafio constante, hoje seria um dia de correria.

E estavam ligeiramente atrasados então teria que me apressar para falara de queiras, pois, após largá-los, teria reuniões até à noite. Antes de sairmos de casa, liguei para Liza, nossa vizinha e amiga de toda a vida.

— Vai pai, estamos atrasados!! — disse S/n, que já estava sentada na cadeirinha do carro.

— Vamos com calma vocês os dois. — disse, enquanto corria para lá e para cá procurando a pasta para a minha reunião.

Encontrei-a depois de alguns minutos, em cima de uma mesa, entre os desenhos de S/n e uma caneca ainda com gosto amargo de café frio que havia tomado na noite anterior. — Prontinho, agora podemos ir! Meus amores, o pai já está pronto! — disse, parecendo aliviado. —Faltam 30 min para sua aula começar!

— Sim, mas sempre demoramos uns 15 min papai. — disse Ferran, enquanto mastigava um pedaço meio mordido de pão.

— Ah, ok, ok, então vamos lá! — disse, forçando um sorriso para esconder a pressa. Liguei o carro e seguimos pelas ruas da cidade ainda banhadas pela luz suave da manhã.

— Papai, por que não pedes à mamãe para voltar para casa para ajudar? — perguntou Ferran, com a curiosidade inocente que sempre me fazia tremer o coração.

Soltei um suspiro, enquanto virava à direita no semáforo. O pedido deles era constante, mas nunca mais fácil de ouvir. Eles eram tudo para mim e eu neste tempo estava encarregado de fazer absolutamente tudo por eles.

— Vocês sabem que a mamãe está noutro país. Ela tem que terminar as gravações.

Houve um breve silêncio, quebrado apenas pelo som do motor e o farfalhar das folhas que S/n manuseava distraída.

— Nós sentimos muitas saudades dela, papai... — disse S/n, com a voz suave e triste, inclinando-se um pouco para frente. — Papaiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!

— S/n, senta-te já na cadeira e coloca o cinto, o carro está em movimento. Vá, vamos. — Ajeitei o espelho retrovisor para me certificar de que ela obedecia.

— Mas, papai, faz dois meses que não vemos a mamãe... — insistiu Ferran, desta vez com um olhar mais sério.

Suspirei fundo novamente, sentindo o peso da saudade no ar. Quando eles queriam ser insistentes eles o eram e de facto, este momento estava a ser infernal, eu amava a voz dos meus filhos, mas por vezes isso tornava-se de certa forma algo irritante ainda mais pela manhã.

Ainda eram 07H30min.!

— Eu sei, eu também sinto saudades da mamãe. Mas ela logo vai voltar, falta só mais alguns dias, certo?

— Tudo bem então... — disseram, resignados, e a tristeza em suas vozes ecoou dentro de mim.

Depois de deixá-los na escola com um beijo e um "divirtam-se", fui direto ao campo de treino do Barcelona. A equipe estava animada, o burburinho dos jogadores e da comissão técnica enchendo o ar. Sentei-me à mesa da sala de reuniões e dei início à conversa sobre novas parcerias e as finanças do clube. Desde que assumi a presidência em 2002, o trabalho de reerguer o clube tinha sido árduo, mas as vitórias estavam começando a aparecer.

Após a reunião matinal, voltei para a minha sala, já com a mente em turbilhão ao pensar nas reuniões da tarde. Estava revendo alguns relatórios com James, meu sócio e confidente, quando decidimos dar uma rápida olhada nas câmaras de segurança da empresa para nos certificarmos de que tudo estava bem.

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