Início.

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Acordei em um sobressalto olhando para os lados atordoada, acredito que ainda iria demorar até eu me acostumar com aquele quarto. Desliguei meu despertador com seu "baixo" toque me avisando que hoje era o início de um dia péssimo. Mudanças sempre são estressantes, pois nos tiram do nosso conforto, mas a diferença é quando você muda para outra cidade, você muda tudo na rotina. Consequentemente tem escola nova, nenhum amigo, e não sabe se localizar em lugar nenhum. Sempre morei em uma cidade pequena e cidades grandes como essa para mim parecem um caos, não consigo compreender como funcionam muitas coisas a respeito desse lugar, mas independente de qualquer coisa estar aqui sempre foi meu sonho, estar longe de...

— Lilian, já está acordada? — Gritou meu tio, me despertando dos meu devaneios.

— Sim! — Gritei em resposta. — Já estou descendo!

Foi decidido pelos meus pais, sem a minha opinião — que, de fato seria positiva —, que eu viesse morar com meu tio, pois sem sombras de dúvidas o ensino de Tomsk, seria incrivelmente mais proveitoso que em Kemerovo, — minha pequena cidade do interior —, visto que Tomsk é a Oxford da Rússia. O fato de meus pais me mandarem para longe, sem nenhum aviso prévio, fazendo tudo isso em cima da hora na metade do ano letivo, não me fazia enxergam isso com bons olhos, a única conclusão era que queriam se ver livres de mim, embora eu tenha dado motivos para o relacionamento conturbado com a minha mãe.
Tentei não me importar muito com a aparência, tentando parecer o mais casual possível me arrumei apressada e desci para a primeira refeição do dia.

— Bom dia, tio! — Saudei ao entrar na cozinha.

— Bom dia, minha flor. — Disse enquanto passava o café. — Já sabe o caminho da escola?

 —Sim, é aqui perto. — Menti me sentando na cadeira. — Foi fácil de aprender.

 — Que bom, mas qualquer coisa é só ligar. — Ele gesticulou um telefone com a mão.

 — Ok. — Assenti com a cabeça.

 — Também não se esqueça de pegar mais um blusa, hoje será um dia frio segundos as previsões.

 — Pode deixar. — Garanti antes de enfiar um biscoito na boca.

Meu tio não era só atencioso, ele era mais que isso era extremamente protetor e carinhoso, embora a forma como ele me tratasse fosse mais infantil do que eu gostaria. Reconhecia que ainda era imprudente para a minha idade, mas de fato, já não podia mais ser vista como uma criança em meus plenos 17 anos. Desde que eu me recordo eu e meu tio morávamos em cidades diferentes nos víamos poucas vezes durante o ano, talvez apenas três vezes: Ano Novo, Dia do Defensor da Pátria e Dia da Mulheres.

Assim que terminei o café, peguei minha mochila vesti meus coturnos que estavam no declive do piso e saí de casa.
(...)
Já estava andando a algum tempo e por mais que eu tentasse refazer meu caminho duvido que conseguiria voltar para casa. A neblina densa dificultava minha visão, e meu senso de direção era péssimo, todas as ruas eram irritantemente planas e casas assustadoramente parecidas, simplesmente não fazia ideia se tinha vindo da direita ou esquerda. Estava definitivamente perdida... e com frio, muito frio.

— Ah qual é!? — Reclamei irritada. — Esse é um dos poucos motivos que me fazem odiar cidades grandes! Porque não trouxe mais uma blusa?!

Parei de andar e peguei meu celular, eu realmente não queria ligar para meu tio e importuná-lo. Encarei o teclado numérico, meu tio já deveria estar seguindo para o serviço, mas eu não tinha escolha, eu não tinha nem ao menos wifi para me orientar pelo GPS. Além de tudo, eu havia dito que sabia o caminho, não podia ficar muito tempo nesse impasse, esfreguei meu braço com a mão livre, essa blusa era fina demais. Comecei a discagem, mas antes de concluí-la fui interrompida:

— Lili... — Disse uma voz masculina.

Levantei minha cabeça ampliando meu campo de visão, meus olhos avistaram um rapaz. A primeira coisa que notei, foi o cabelo castanhos acobreado contrastando contra a paisagem branca e fria. Os olhos mel esverdeados buscaram minha atenção, eram incrivelmente lindos, talvez essa cidade tivesse algo bom para compensar sua monotonia. Como ele sabia meu apelido era um mistério, eu nunca o tinha visto e duvido que eu esqueceria de alguém tão bonito como ele. Olhei para os lados só para me certificar que ele estava mesmo se referindo a mim.

— Eu?! — Questionei apontando para mim, queria mesmo ter a absoluta certeza de que era comigo que ele estava falando.

Seu sorriso se iluminou, o que fez a minha pergunta, de fato, soar estúpida.

— Sim, você. Lilian Léltsih Snow, certo? — Indagou ele. — Esse nome combina contigo.

Assenti com cabeça, nunca entendi quando alguém dizia que o nome combinava com a pessoa, isso era uma variante enorme. Observei o rapaz com a mais atenção, ele tinha um semblante muito simpático, sem dúvidas deveria ser do tipo extrovertido e falante, dei mais uma breve olhada nele antes de baixar o olhar. Ele trajava roupas casuais, calça jeans escuro e moletom, talvez também estivesse indo para a escola, era uma boa chance para me informar. Peguei meu celular e destravei a tela confirmando mais uma vez que estava atrasada. Soltei um suspiro.

—Você... — Comecei a dizer quando levantei o olhar.

Esqueci as palavras que iria dizer, senti minhas bochechas queimarem e meu coração pular, estava sem reação. Ele havia se aproximado de uma forma abrupta, seu rosto estava tão próximo que conseguia ver nossas respirações se condensando e misturando-se no ar. Seus olhos mel esverdeados se fixaram nos meus de uma forma que não me permitiam ousar desviar o olhar. Me mantive em silêncio por um instante, mas a timidez deu lugar a raiva em poucos instantes. Provavelmente ele nunca tinha visto alguém com heterocromia. Ter os olhos de cores diferentes sempre causava espanto e curiosidade nas pessoas, isso me irritava profundamente. Era estranho ! As pessoas achavam estranho, eu não me sentia normal! Não é porque você nunca viu uma pessoa com uma característica incomum, que deve ter a necessidade de deixar isso claro, é no mínimo falta de educação.

Tentava chamar o mínimo de atenção possível, minha franja pendia estrategicamente para o lado direito, deixando meu olho azul ciano, quase escondido, dessa forma só o verde ficava a mostra. Minha condição era irritante, era desanimador não poder fazer muita coisa, apenas saber que deveria aceitar o fato de não ter nascido normal! Em Kemerovo para todo mundo minha anormalidade era indiferente depois de tantos anos de convivência. Em cidades pequenas todo mundo se conhece; então meus olhos não era novidade para ninguém, mas nessa cidade parece que todo mundo me olhava como se fosse uma aberração. Eles me faziam o favor de lembrar constantemente como isso é estranho, diferente.

Ele era lindo, porém era apenas mais um a me achar uma estranha. Estava ficando irada com isso, não só com ele, mas com todo mundo e principalmente comigo por não conseguir me aceitar.

— Olha aqui voc... — Comecei a dizer assumindo um tom irritado na voz, quando fui interrompida.

— Lindos — Elogiou ele — Seus olhos, é a primeira vez que vejo olhos tão lindos.

Busquei alguma hesitação nele, mas sua expressão era séria e seu semblante calmo. Tive certeza que havia ruborizado, até minhas orelhas queimavam contra o vento gélido que passava pela minha pele.

—Uhh... — Emitiu se afastando enquanto esfregava os braços. — Que frio!

Eu olhei para o outro lado, escondendo minha timidez. Me senti culpada por pensar algo ruim dele. Era impossível impedir o sorriso involuntário que tomava conta de meus lábios, segurei a manga da minha blusa e levei a mão a frente da boca escondendo meu sorriso. Foi a primeira vez que alguém me disse algo como aquilo de forma tão espontânea, como sua primeira impressão a respeito dos meus olhos, consegui sentir a sinceridade em sua voz. Era algo tão bobo, mas isso havia me feito feliz.

—Realmente está frio. —Concordei.



Notas Finais

Muito obrigada por ter lido o primeiro capítulo, espero que tenha uma boa experiência com o que está por vir, adoro conversar com as novas leitoras, então deixe um comentário irei responder mais rápido do que pensa! Respondo TODOS os comentários, então deixe um e comprove<3


Dyed Storm - Dois amores impossíveisOnde histórias criam vida. Descubra agora