Controvérsia.

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Como eu havia previsto não demorou muito para eu ver o carro de Meeth, ele parou na minha frente eu abri a porta do carro e entrei. Ele não me olhou e também não o olhei e o caminho até a minha casa seguiu em silêncio total. Assim que chegamos eu saí do carro e entrei dentro de casa tirei apressadamente minha botas e subi as escadas e fui para o meu quarto. Mesmo que antes eu tivesse cogitado a possibilidade de outra discussão com ele, ainda não havia acontecido e eu já havia dito tudo oque queria e até mais do que queria. É claro que a conversa não tinha sido como eu aspirava, nada tinha sido com eu desejava, eu não queria brigar com ele mas eu estava com tanta raiva. Chutei um ursinho que estava no chão e joguei minha mochila em qualquer canto.

Escutei passos apressados no corredor olhei para a porta e lá estava ele. O senho estava fechado ele cruzou os braços e se encostou na parede.

- E então. - Disse ele. - Oque eu sou mesmo ?

Um mar de xingamentos veio a minha mente, mas depois desse mar o horizonte era de elogios e isso me irritava. Estar com raiva de alguém que você gosta é uma droga.

- Ah ele tem memória fraca. - Debochei. - Tadinho.

Ele riu e balançou a cabeça para ambos lados.

- Nunca imaginei que você era tão irritante. - Rebateu ele.- Qual o seu problema Lilian ? Por que comigo não há nenhum. Nenhum mesmo, eu estou com a minha consciência mais do que limpa não fiz nada de errado e quando a você ?

- Meu problema ?- Eu ri. - Quem veio discutir comigo para começo de conversa ?

- Discutir ? - Indagou ele. - Eu não fui discutir com você, eu sou o seu professor e você estava matando aula e o pior de tudo saiu da escola depois. Sem contar que mentiu para mim, disse que chegaria atrasada e tudo mais. Não imaginei que era assim...

- É eu menti. - Disse. - Fui falsa com você a  respeito de muitas coisas, a respeito de gostar de você também eu sou uma mentirosa do seu ponto de vista afinal de contas não é mesmo ?

Eu odiava me arrepender das coisas, na verdade era raro eu me arrepender de algo. Normalmente quando a gente se arrepende de algo que fez, ficamos se amaldiçoando ou xingando e até pensamos na possibilidade de existir uma maquina do tempo para voltarmos ao passado, oque na minha opinião é só uma perda de tempo e para quê perder tempo ? Nossas vidas são sempre tão curtas. E mesmo sabendo e pensando tudo isso eu estava totalmente arrependida por ter dito aquilo,  não só aquilo estava arrependida por não ter ficado quieta e sentada lá no jardim junto com a Gylla e Lucca, se eu tivesse feito aquilo nada disso estaria acontecendo agora. 

Meeth pareceu surpreso demais e ficou quieto, ele engoliu em seco e olhou para baixo.

- Então aquilo naquele dia foi mesmo uma confissão ? - Ele disse em um tom baixo.

Ele me olhou parecia indignado a expressão no rosto dele era uma mistura de negação e surpresa.

- Você gosta de mim ? - Perguntou ele.

Eu engoli em seco e coloquei as mãos na cintura e olhei para o lado.

- Você é surdo ? - Indaguei em um alto tom de voz. - Eu disse que menti!

- Se eu fosse chutar um momento o qual estava mentindo. - Disse ele. - Eu diria que é agora.

Senti uma sensação fria no estômago e meu coração palpitou mais forte de repente. Senti minhas mãos tremerem e cerrei os punhos. Que droga que merda estava acontecendo comigo?

- Você acredita no que quiser. Quem sou eu para mudar alguma coisa na sua vida ? - Eu soltei uma gargalhada forçada. -  Ainda mais na sua vida pessoal não é mesmo ?

Ele começou a se aproximar o sorriso irônico parecia que não queria mais sair de seu lábios ele colocou as mão nos quadris.

- Então é por isso que está tão bravinha ? - Ele gesticulou rindo. - Diga, então é por isso ?

Estava me sentindo contrariada, estava sendo difícil me segurar para não pular no pescoço dele. Me sentei na cama e olhei para ele.
Eu já tinha apresentado algumas peças de drama quando era criança. E uma das peças a minha personagem que era a antagonista era confrontada pelo protagonista e da mesma forma que ela era confrontada ela confrontava o protagonista essa era minha melhor aposta no momento para conseguir vencer a discussão e sair com meu ego menos ferido.

Eu olhei para ele e ri.

- Então esse é o seu argumento ? - Perguntei. - Quanta ilusão, você gosta de se auto iludir ? Que tal ser um pouquinho menos egocêntrico Miss Universo ?

-  Oquê ? Eu egocêntrico ? - Ele pareceu cair na provocação. - Isso é só uma desculpa, para me desviar do principal assunto, que você gosta de mim ?

Eu ri, me levantei e passei por ele e assim andei ao redor dele e parei na frente dele o olhando de cima a baixo e o olhei nos olhos por fim.

- Pensando bem, me lembro de uma vez... - Pausei a frase por um tempo tentando parecer esquecida. - Uma vez não, foi mais de uma. Que um certo alguém teve alguns ataques de ciúmes e também uma certa vez que alguém brigou comigo por não sentir ciúmes dele.

Meeth semicerrou os olhos e balançou a cabeça para ambos lados desacreditando do que ouvia.

- Não seja ridícula. - Ele disse. - Isso nunca aconteceu, são apenas coisas da sua cabeça e da sua visão distorcida sobre o mundo.

- Se é o caso. - Gesticulei. - Farei do seu argumento o meu.

- Ótimo! - Ele saiu do meu quarto e bateu a porta.

Soltei um suspiro e me joguei sobre a cama. Por que esse tipo de coisa estava acontecendo ? Por mais que eu me negasse a pensar na resposta, ou por mais que eu tentasse dizer para mim mesma que não sabia a resposta, eu sabia qual era. Isso estava acontecendo por que eu era idiota o suficiente para me apaixonar por alguém que inalcançável para mim.
Tirei minha blusa de moletom peguei meu sobretudo preto e meu cachecol de mesma cor e os vesti, com Meeth em casa eu não podia nem mesmo chorar em paz mesmo que eu tivesse essa vontade não era oque eu queria fazer. Eu queria apenas ficar sozinha e esquecer de tudo isso.

Ouvi a campainha de casa e não fiz questão de ir atender, o barulho cessou. Esperei algum tempo e resolvi descer as escadas. Queria ir para algum lugar, qualquer lugar. Meu tio não chegaria antes das oito então eu não o preocuparia bastava chegar antes dessa hora. Assim que desci as escadas Meeth estava de braços cruzados na sala e Moon estava sentado no sofá. "Não sabia que ele se teletransportava." Pensei.

- Ele disse que veio ver como você estava por que te viu chorando com um garoto de puxando pelo braço. - Disse Meeth arqueando uma sobrancelha. 

Soltei um suspiro e revirei os olhos. Fui em direção a porta e a abri. Então quando eu trombei em alguém na hora que Lucca estava me guiando tinha sido Moon por isso ele tentou puxar minha roupa.

- Vem Moon. - Chamei.

- Não valeu. - Disse.- Se você está bem para mim já basta. Se quiser que alguém vá com você chame Gylla, ou aquele outro garoto que estava com você.

- Obrigada pela sugestão vou fazer isso. - Disse.

Peguei meu celular e liguei para Lucca. 

- Oi. - Ele disse.

- Lucca você se importaria em sair comigo agora ?

Coloquei no viva voz.

- Poderia repetir? - Indaguei.

- Claro, onde quer ir ? - Indagou ele.

Fiquei mais do que agradecida por ele ter me dado uma resposta descente e não dito algo a mais como sempre, tirei do viva voz e saí de casa fechando a porta deixando Moon e Meeth para trás.
Por que eu estava estragando minha relação com meu melhor amigo, também ? Talvez por que eu não ficava satisfeita apenas por estragar  relação apenas com uma das pessoas que eu gostava, talvez eu só ficasse satisfeita quando conseguisse afastar todo mundo de mim.




Dyed Storm - Dois amores impossíveisOnde histórias criam vida. Descubra agora