Encontro.

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Christy.

Não demorou até que ele me visse, a expressão no rosto dele foi de total paralisia, ele congelou em um instante. A surpresa não veio como um espanto, porém estava claro o impacto que ele havia sofrido, uma situação que você não sabe exatamente o que fazer, porém não parecia atrelado ao medo. Será que ele estaria agora questionando sua sanidade mental?

Temo que se deixá-lo mais tempo dessa forma, ele vá realmente enlouquecer.

Me aproximei, ele ainda estava imóvel. Então, ele começou a vir de maneira lenta na minha direção. A cada passo, eu lembrava mais daquele dia, dos detalhes. Até mesmo o cheiro daquele armário escuro ao qual ele havia me colocado. Ao qual ele havia concordado em me deixar lá. Lembro do pavor que eu senti, do medo de ser esquecida, de morrer de fome... O medo que eu passei naquelas sete horas, nada na minha vida havia sido igual... perdi a noção de tempo.

Coloquei a mão na garganta, lembro o quanto a minha garganta doeu de tanto gritar aquele dia, pedindo que alguém me tirasse de lá, mas aquela parte da escola nao era usada. Tive anseio de que eu pudesse ter sido mordida por algo, um rato, uma aranha ou qualquer outro inseto. Finalmente estávamos de frente, sem ninguém passando entre nós e a uma distância bem curta. Permaneci em silêncio, assim como ele. Aquele rosto bonito pelo qual me apaixonei, e aquela expressão indiferente que me fez o odiar...

Os segundos se passaram e ele continuava em silêncio, devia estar cogitando se eu era realmente real.

Não é como se eu pudesse dizer, "Hey Jow, sou eu, Chris. Voltei dos mortos!" Ou ainda, "Sabe aquela estória de morte e tudo mais?! Era mentira, te enganei! Haha."

Ele levou a mão ao meu rosto, resisti ao impulso de me afastar, a mão dele estava gelada. O toque dele sempre era assim, havia me esquecido. O contato visual que fizemos desde o momento que nos vimos, não havia sido desfeito nem por um instante.

- Eu consigo te sentir... - Ele sussurrou. - É real...?

Ele começou a chorar antes que eu pudesse responder.Coloquei a mão acima da dele. Ao vê-lo assim, compreendi o que a Lili queria dizer, de repente toda a raiva que eu sentia dele se foi, Joey realmente me amava. Isso não justificava nenhuma das coisas ruins que ele havia me feito, mas o amor dele por mim era real, isso mudava ao menos um pouco minha perspectiva sobre ele...

- Joey, eu estou viva. - Falei.

- Não pode ser. - Ele negou. - Todo mundo sabe que você morreu, eu devo estar louco...

- É verdade. - Falei. - Eu...

- Eu devo estar vendo você através da Lilian, porque estão vivendo situações parecidas. Porque Gylla as odeia... - Ele me puxou para um abraço. - Mas o importante é que estou te vendo...

Joey me apertou contra seu tórax, levantei o rosto para respirar, e o abracei também.

- Joey, sou eu mesmo... - Falei. - Você não chegou a me ver morta, chegou?

Ele me abraçou ainda mais forte, dei dois tapinhas na costa dele, se ele me apertasse mais que isso, ficaria difícil para respirar. Senti lágrimas quentes deslizarem sobre meu ombro. Ele continuou em silêncio, estava apenas soluçando.

- Alguém que você conhece foi ao meu velório?! - Disse. - O boato que eu havia morrido circulou, e eu não fiz nada para impedir. Desculpa por isso, por ter lhe feito sofrer.

- Então você está realmente viva? - Ele disse com a voz rouca.

Assenti com a cabeça.

- Você não morreu por minha causa? - Ele se afastou e olhou nos meus olhos.

- Você me fez ter vontade. - Falei. - Mas não sou idiota.

- Desculpa. Nunca me arrependi tanto na minha vida, não estou arrependido só por aquele dia. - Ele baixou a cabeça por um tempo, então respirou fundo e olhou nos meus olhos novamente. - Desculpa por tudo, por tudo aquilo que fiz de mal para você, e também pelas coisas que deixei de fazer, coisas que como em posição de seu namorado eu deveria ter realizado. Devia ter encarado a Gylla desde o início e te defendido. Assumido nosso relacionamento, teríamos sofrido juntos... mas estaríamos juntos.

Pressionei meus lábios tentando evitar que toda aquela emoção viesse á tona. Nunca esperei essas desculpas vindas dele, sabia que não iria acontecer, mas no fundo sempre foi algo que eu desejei, algo que eu precisava. O nosso relacionamento foi construído em cima de tantos erros, que quando estávamos juntos eu esperava que Joey consertasse as coisas com o tempo. Mas o tempo só deixou as coisas erradas mais aparentes e esses erros desgastaram nosso relacionamento.

- Sim você deveria... - Falei. - E eu devia ter exigido isso de você, eu não deveria ter aceitado aquela situação.

- Seu erro foi mínimo perto do meu, eu...

- Nós dois erramos. - Admiti colocando a mão no rosto dele. - Mas eu estava tão apaixonada por você...

- Chris, eu ainda estou apaixonado por você. - Ele colocou meu cabelo atrás da orelha. - Eu te amo, nunca deixei de amar...

- Joey...

- Sei que te magoei, mas não lembre só dos momentos ruins que passamos, ou o que fizemos de mal um para o outro. - Ele disse acariciando meu rosto com o polegar. - Ao invés disso, lembre dos nossos momentos bons... o que nos fez se apaixonar um pelo outro.

Me lembrei de quando o vi pela primeira, de maneira superficial só queria ficar próxima dele porque ele era lindo, quando ele começou me dar atenção foi como um sonho se realizando... mas depois Gylla, assim como eu e Joey, fizemos do sonho um pesadelo.

- Julgando pela sua expressão não está lembrando dos bons momentos...

- Impossível lembrar só dos bons momentos. Muita coisa aconteceu, e uma coisa levou a outra.

- Você está certa, como sempre esteve... eu deixei que outras coisas influenciasse no nosso relacionamento, e não foi apenas isso que nós trouxe a situação atual. Muitos erros foram cometidos, e por isso eu peço perdão. - Ele disse. - Mas sabe Chris, fomos felizes nos momentos que esquecemos tudo isso, e sem esses impedimentos podemos ficar juntos novamente e dessa fazer as coisas de maneira certa.

- Você fala como se fosse fácil esquecer tudo. - Disse. - Assim que te vi, só conseguia pensar como você havia me deixada trancada lá...

- Nunca vamos esquecer aquele dia, isso é fato. Porém, a partir de agora cabe a nós seguir em frente, ou se apegar a algo que já passou e ficar parados no tempo.

Ele pareceu pensativo, uma onda de nostalgia me invadiu, sempre que ele fazia essa expressão algo estava por vir. Joey segurou minha mão, e começou a caminhar. A mão dele, assim como antes e como sempre, estava fria.

- Você está certo. - Concordei. -Mas essa não é uma tarefa fácil, tão pouco rápida de ser concluída. Onde estamos indo?

- Para isso existe o tempo, você vai pensar menos vezes nisso... até que um dia eventualmente vai esquecer e seguir sua vida normalmente. No caso, a nossa vida.

- Claro, também essa não é uma afirmação errada, mas por enquanto ainda me sinto presa aquele dia. - Parei de andar, porque ele parou.

- Até aqui. - Ele disse se sentando em um banco. - Uma maneira de aliviar a tensão das coisas ruins que ocorreram, é se lembrar das boas.

Me sentei ao lado dele. Estávamos longe do movimento em excesso do parque.

- Podemos conversar de maneira mais tranquila aqui... - Observei. - Já esteve aqui? Você soube exatamente onde vir...

- Já sim, mas não vem ao caso. - Ele disse. - Chris, a questão é que agora pode me ouvir melhor, tenho algo importante para dizer...

Assenti com a cabeça.

- Feche os olhos...

- Não vou cair nessa, Joey... - Falei rindo. - O que soa como uma ação estranha vinda de você, muito infantil...

- Não é isso, idiota. - Ele riu e colocou a mão na boca. - Opa!

- Mal me reencontrou e já estava me tratando assim... - Disse batendo no ombro dele.

- Isso significa que a intimidade não se perdeu tanto assim...

- Não sei...

- Poderia ter simplesmente concordado, não?! - Ele arqueou as sobrancelhas.

- Não, é claro que não... - Disse rindo.

- Voltando, feche os olhos.

- Okay, vou concordar contigo. - Falei fechando os olhos.

- O objetivo é se lembrar dos bons momentos. - Ele disse. - Aquele dia, antes da Gylla chegar. Eu e você, saímos juntos no intervalo, deixamos os outros para trás.

- Eu me lembro. - Abri os olhos. - Você me ensinou, como...

A beijar.

- Vou ensinar de novo... - Ele me interrompeu. - Feche os olhos.

- Não preciso aprender novamente. - Disse.

- Chris...

Fechei os olhos. Senti a mão dele no meu rosto, um arrepio percorreu da minha nuca até a minha coluna. A respiração dele chegou até a minha pele.
Os lábios dele tocaram os meus, havia esquecido como era o beijo dele. A maneira como ele movia os lábios. Começando sempre de maneira sutil, com selinhos lentos e silenciosos. Senti a mão dele em minha cabeça, seus dedos adentrando em meus cabelos. Ele me deu um longo selinho e se afastou, o mesmo puxou levemente meus cabelos, me fazendo inclinar meu rosto para o lado, senti os lábios dele arrastarem sobre a minha pele, do meu pescoço ao meu ouvido.

- Mantenha os olhos fechados, até que eu peça para abri-los. - Ele sussurrou sobre meu ouvido.

Senti um arrepio, meu impulso foi me afastar, mas ele me conteve. Respirei fundo.

- Se lembre daquele dia, que depois do intervalo não voltamos para a aula...

- Foram tantos... - Respondi rindo.

- Estou falando daquele dia, que fomos para a sala de astronomia.

Joey teve a brilhante idéia de ir para aquela sala. Que segundo ele, como sempre estava escura não haveria câmeras, e a desculpa para me levar até lá, foi a clássica "quero lhe mostrar algo."

- Lembra como você ficou contra o quadro? Você estava de frente para mim, primeiro eu ergui sua perna.

Senti o toque gelado da mão dele sobre meu joelho nú, a mão dele subiu pressionando minha pele, até chegar dentro da barra do meu shorts.

- Lembro que a motivação para te levar até lá, foi ciúmes. Muitos garotos olhavam para você. - Sussurrou ele. - Resolvi que iria começar a deixar algumas marcas em você, naquele dia...

Ele beijou meu pescoço.

- Por isso, os chupões...

Senti o calor da boca dele sobre a minha pele... tentei afastá-lo e ele cedeu quase no mesmo instante... nunca tentei censurar nenhuma de suas investidas antes de conhecer Dominik, mesmo que as marcas pudessem me trazer problemas em casa. Depois que conheci Dominik odiaria que ele visse algo assim em mim, agora não seria diferente, mas Joey antigamente nunca cedia, ele continuava todas as vezes que eu resistia que ele deixasse essas marcas.

- Sem marcas dessas vez... - Ele disse.

- De preferência... - Sussurrei.

Dyed Storm - Dois amores impossíveisOnde histórias criam vida. Descubra agora