Sufocado.

732 44 3
                                    

- E então oque era a coisa séria que queria me dizer ? - Indagou ele revelando sua mistura de sentimentos, entre preocupação e curiosidade.

Me sentei no sofá após e olhei para baixo entrelaçando meus dedo em meu colo ao ouvi-lo e me lembrei do rosto do meu tio pela manhã na hora que o acordei. Ele parecia exausto sua barba estava por fazer ele parecia querer estar ligado a uma bateria 220 volts, para poder trabalhar 25 horas por dia, mas isso não é possível e hoje de manhã parecia que ele havia esquecido disso, quer dizer não só hoje de manhã mas já a algum tempo. Parece que a vida dele depende de trabalhar compulsivamente.

- Diz logo Lili, você está me deixando nervoso.

Deixei meus devaneios e lembranças de lado, olhei para Meeth e furtei seus olhos e sua atenção para mim.

- Meu tio. - Disse. - Ele vem se matando de trabalhar. Ele não se permite nem mesmo ter uma noite de sono, parece que viver a base de cafeina é o novo estilo de vida dele.

Meeth respirou fundo e se sentou no sofá ao meu lado. Ele continuou me olhando em silêncio.

-  Meeth...- Falei. - Eu estou preocupada com meu tio.

Ele engoliu em seco. Mesmo não olhando eu sabia oque era aquele baixo som que se repetia inúmeras vezes após ele ter me escutado. Ele estava esfregando constantemente a unha do indicador na palma da mão, como se ele estivesse com pó de mico no local. Talvez ele mesmo não tivesse percebido e isso fosse um ato involuntário um tic nervoso, mas isso não me importava no momento, o importante mesmo era que entregava seu nervosismo e se estava nervoso deveria estar mentindo mesmo que sua expressão facial não demonstrasse nada.

- Deve ser apenas uma fase. - Disse ele. - Talvez ele esteja trabalhando em um projeto  novo.

 Meeth estava mentindo, arrumando um álibi para não me contar algo importante. Algo que eu sentia que necessitava saber. Mas ele não queria, ou talvez queria mas não devesse me contar. Eu estou decidida a descobrir. É do meu tio que estamos falando, do meu amado tio, aquele mesmo tio que me aceitou em sua casa quando meu pais não me quiseram em casa com uma desculpa boba que aqui o estudo era melhor. Se eles realmente achassem e quisessem que eu tivesse um estudo melhor por que só me mandaram para cá no meu último ano escolar e não antes ? 

Meu tio me ajudou, ele sempre me ajudou mesmo que pouco por que quando era criança tinha poucas oportunidade de o ver, apenas em feriados depois que ele se mudou para Tomsk.

Eu sempre tive problemas  em casa com a minha mãe, sua irmã. Não importava o quão longe ele estava; ele me ligava sem minha mãe saber e me escutava chorar e me escutava reclamar dos meu problemas, mas depois de um tempo minha mãe descobriu e tirou o telefone fixo de casa e eu só pude vê-lo em reuniões familiares, que aconteciam apenas duas vezes no ano. Eram as datas que eu mais aguardava no ano. E atualmente morar com meu tio é um sonho que se realizava, eu não quero perder isso e também quero ajudar meu tio. Quero retribuir mesmo que um pouco tudo que ele sempre fez por mim. Senti meu olhos ficarem marejados e aquela irritante dor na garganta que significa que o choro ia começar logo. 

- Você está mentindo para mim. - Falei. - Eu não gosto de mentiras, me sinto traída.

- Lili eu não estou... - Ele começou a falar mas o interrompi.

- Não continue. Ou vai mentir para mim de novo ? - Indaguei.

Ele respirou fundo e suspirou. Meeth fechou os olhos e colocou a mão na testa e a desceu para baixo deixando suas bochechas vermelhas. Ele desviou o olhar de mim e focou na tv, mesmo que ela estivesse desligada, ele abriu a boca e fez menção de dizer algo mas logo a vontade de falar desapareceu e ele permaneceu quieto encarando a tv como se fosse a mulher mais linda do mundo.

Dyed Storm - Dois amores impossíveisOnde histórias criam vida. Descubra agora