Fora do Ginásio

Chorei por causa de mulher

— FLÁVIA! — Lorrane berrou. É a quinta vez que eu chamo ela!

— Pelo amor de Deus, apague a luz e me deixe aqui! — A menor pediu com a voz rouca e  lampejos da noite anterior passaram por sua mente e definitivamente, virar um litro de gim não foi uma boa ideia. Nossa mas eu extrapolei ontem, meu Deus do céu.

— O Chico me mata se eu chegar no CT sem você, agora vem, anda! Já pro banheiro! — Lorrane falou e agarrou o pequeno pé da amiga e saiu puxando da cama.

— Vai, Flá! — Jade falou mais baixo. — Já deixei os remédios separados aqui para você tomar, em alguns minutos você vai estar bem!

O problema é que assim que chegou no banheiro e sentiu o cheiro do queijo assando na cozinha, a pequena Flávia correu para vomitar, e além de tudo, uma bela ressaca! Depois do banho, a coitada foi obrigada a ouvir um relatório depreciativo sobre sua situação deplorável na noite passada, com direito a chorar com a cabeça encostada na janela do carro, umas quinze ligações para Sunisa, muitos áudios, minha sorte é que estão todos em português e alguns saíram até em árabe, nem eu sei o que eu disse.

Chico estava com um sorriso psicopata no rosto e tudo o que a menor queria era correr, apoiar as mãos no chão, saltar e cair no quentinho da sua cama, mas a realidade era ainda mais humilhante. As luzes do ginásio a incomodavam, a música que Jade tinha colocado a incomodava, a cara risonha do treinador perante tantas desventuras lhe incomodava. Hoje vou dar o meu mínimo e esse vai ser o meu máximo, o melhor é ficar em silêncio e torcer para acabar logo!

— Ótimo, agora, preciso que vocês deem mais quinze voltas correndo. — Chico falou e bateu palma.

Há cada passada dada, Flávia sentia como se suas tripas estivessem querendo escapulir pela boca. Na cabeça dela, ainda tentava processar os últimos acontecimentos. Como é que eu dei esse mole? Logo eu! Sou a personificação do pegar e não se apegar, sou cria do Rio de Janeiro, já arrasei tantos corações por aí! Homens e mulheres, todos arrasados! Para ontem, ter ficado desse jeito! Chorei por causa de mulher! Pelo amor de Deus... Mas também, como não ficar triste com a partida dela? Sério, quem é mais irritante que ela? E quem tem um beijo tão bom? Sofrer por mulher com toda certeza é muito pior do que sofrer por homem!

— Terra para Flávia, terra para Flávia! — Chico berrava. — Corrida lateral, Flávia, lateral! — Ele seguia berrando e batendo palmas.

XXX

— Graças a Deus o último dia aqui! — Biles falou ao levantar da cama e abrir as cortinas, esqueci que meu docinho não gosta de claridade... Perdão amor!

— Você poderia pelo menos disfarçar... — Rebeca falou se espreguiçando.

— Amor, mas eu não aguento mais me sentir como uma náufraga aqui! Tudo o que fizemos envolveu isso e você não quis me acompanhar nem na metade das coisas legais! — Biles falou enquanto saltava na cama, caindo com cuidado em cima da esposa, que já estava sorrindo e deslizando as mãos pelas costas nuas da menor.

— Eu não tenho culpa se as coisas que você quer fazer envolvem a morte a todo custo! Teve o passeio na banana e depois o passeio na rosquinha. — Rebeca falou séria mas não conseguiu se conter ao encarar a esposa sorrindo largo. A brasileira tinha batido  o pé falando que não iria, mas depois de muita adulação, acabou indo. — O salto de parapente em Maafushi e eu já digo, nunca mais, nunquinha vamos fazer aquilo de novo! Pensei que ia desmaiar lá em cima e a pior de todas, o mergulho com os tubarões-lixa! Se o seu pai sonhar que topei ir nessa loucura com você, ele vai me matar! — Rebeca falou séria e ganhou um beijo que a fez sorrir. Ela me ganha muito com esses beijinhos despretensiosos!