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Segunda-feira, 24 de janeiro


— Desculpe por ter faltado a semana inteira sem ter avisado, senhor — falei, fazendo uma reverência.

— Tudo bem, o fato de você nunca ter faltado desde que ingressou aqui me permite deixar passar dessa vez e não escrever nenhuma observação na sua ficha.

— Obrigada.

— Mas qual é a justificativa? — O diretor se encostou na cadeira, me encarando.

Eu não tinha muitas opções. Se eu não explicasse, os professores poderiam começar a me monitorar mais de perto, ou isso poderia afetar minha reputação perante eles. Manter minha ficha limpa era a prioridade.

— Espero que não seja inconveniente pedir isso, mas será que poderia manter isso confidencial entre o senhor e os professores? Não quero que isso atrapalhe meu desempenho e meu foco nos estudos.

— Claro, com certeza.

Suspirei, tirando o casaco e mostrando meu braço, que permanecia todo cheio de hematomas. Não era possível mostrar os da perna, já que estava de calça.

— Eu caí.

— Oh, meu Deus. Você foi ao médico?

— Não, senhor. Fui tratada em casa, por isso não tenho justificativa médica.

O diretor franziu o cenho ao ouvir minha resposta. Sua expressão mostrava uma mistura de preocupação e ceticismo.

— Entendo... Mas cair a ponto de precisar faltar uma semana inteira é algo sério. Você tem certeza de que está bem agora? — Ele perguntou, me observando atentamente.

Assenti, tentando manter uma expressão neutra.

— Sim, senhor. Ainda estou me recuperando, mas já me sinto bem o suficiente para voltar às aulas. Não queria causar preocupações desnecessárias. — respondi, mantendo meu tom o mais calmo possível.

Ele continuou me encarando por alguns instantes, como se estivesse ponderando a situação. Finalmente, ele suspirou.

— Tudo bem. Vou confiar na sua palavra desta vez. Mas, se precisar de algo, não hesite em nos procurar, certo? Não queremos que isso interfira nos seus estudos — disse, mantendo o tom profissional.

— Obrigada, senhor. Agradeço a compreensão — respondi, inclinando-me em uma reverência novamente.

Estava caminhando em direção à saída quando ele me chamou novamente. Virei-me em sua direção.

— O ranking com os novos resultados das provas e atividades da semana foi atualizado. Fico feliz em ver que está se empenhando tanto. Agora você está em 3º lugar. Meus parabéns.

— Sério? — perguntei, surpresa. — Obrigada, senhor. Continuarei trabalhando duro.

Ele sorriu, assentindo, e me despedi com outra reverência antes de sair da sala.

Saí da sala do diretor com o coração acelerado. Mesmo que ele tivesse aceitado a explicação, eu sabia que não podia deixar minha guarda baixa.

Caminhando pelos corredores silenciosos, minhas mãos ainda tremiam levemente, enquanto minha mente corria com pensamentos sobre como eu tinha conseguido escapar dessa situação.

Ser a terceira no ranking ainda não era o bastante. Eu estava tentando me equilibrar entre manter o foco nos estudos, esconder o que aconteceu e dar um jeito de superar, já que eu estava tendo pânico frequente em relação a isso. Estava exausta. Ainda, sentia que estava andando sobre uma linha fina, onde qualquer deslize poderia acabar com tudo.

Ao chegar no pátio, vi de longe Baji e Chifuyu me esperando. Ao me verem, eles trocaram olhares cúmplices e começaram a caminhar na minha direção.

— Como foi lá com o diretor? — Baji perguntou, com um sorriso travesso.

— Nada demais. Só fiz uma reverência e disse que cai, e ele deixou por isso mesmo. — Respondi, tentando soar casual, mas Chifuyu franziu o cenho.

— "Cai"? Sério? — Ele cruzou os braços, desconfiado. — Ele acreditou nisso?

— Ele não tem motivos para duvidar, tenho um bom histórico, não acham? — Tentei afastar o desconforto com uma risada, mas eles continuaram me olhando.

— Você está se esforçando demais para parecer tranquila. — Baji comentou, dando um leve empurrão no meu ombro. — E olha que eu conheço todas as suas artimanhas.

— Qual é, eu só precisava de um descanso. Olha, me sinto bem melhor. — Menti, tentando soar convincente.

Eu não conseguia dormir, no máximo uma hora antes de ter um pesadelo, voltava a dormir e eles se repetiam, era um looping sem fim. E, para piorar, eu ainda não conseguia me concentrar nos estudos, o que só aumentava meu pânico.

Eles continuaram me observando em silêncio, trocando olhares que mostravam que não estavam comprando a minha desculpa. Baji franziu as sobrancelhas, enquanto Chifuyu cruzava os braços, como se estivesse tentando entender o que estava acontecendo.

— Vocês são muito paranoicos, garanto que está tudo bem. Vamos, o intervalo já está acabando. Encontro vocês no almoço. — Falei já me despedindo. 

Enquanto caminhava pelos corredores, o som das conversas e risadas dos outros alunos parecia distante, quase abafado pela minha própria sensação de desconexão. Entrei na sala de aula e me sentei no meu lugar habitual. O professor começou a explicar um novo conceito, mas minha escrita saíam desenhadas com rabiscos e frases aleatórias, sem nenhuma conexão com o que estava sendo ensinado.  

O dia parecia interminável, e a sensação de estar fora de lugar só aumentava. Cada vez que eu tentava focar no que estava sendo dito, uma nova onda de memórias e emoções invadia minha mente, me impedindo de me concentrar. As perguntas e os olhares curiosos dos colegas ao meu redor eram um lembrete constante de que algo estava errado, embora eu tentasse não mostrar.

 Tentava encontrar um pouco de paz, mas cada vez que fechava os olhos, a cena do beco voltava à tona, acompanhada de uma sensação de pânico e desamparo.

Eu também me sentia sem apetite, não conseguia comer. Toda vez que tentava, eu só mastigava e não conseguia engolir, era desesperador. Mas me esforçando, conseguia beber líquidos.

 Escutei o som do meu celular vibrando no fundo da mochila. Era uma mensagem de Ken:

"Baki baki ni ore. Eu não acredito que comecei a assistir e gostar de uma série de vôlei. Mikey perguntou se eu estava doente."

Aquilo me tirou um sorriso. Respondi rapidamente:

"Você está começando a ter bom gosto. Me agradeça."

Senti um leve alívio ao pensar que, apesar de tudo, alguns momentos normais ainda eram possíveis.

Tudo O Que Eu Queria · Ken RyugujiOnde histórias criam vida. Descubra agora