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Quinta-feira, 10 de fevereiro


Ontem, a maioria dos caras acordou tarde, só depois das 16h. Eu saí da casa da Maki às 4h30 e fui direto para casa tentar dormir. "Dormir"... toda essa situação me deixava inquieto, a ponto de não conseguir fechar os olhos. Sempre que os fechava, me lembrava do olhar frio dela.

Não fui à escola de novo. Precisava de respostas e de ajuda. Precisava ir a um lugar específico.


— Oh, olá, Ryuguji! Por favor, entre. — Ela disse, dando espaço para que eu entrasse.

— Muito obrigado, senhora.

— Não precisa dessa formalidade. Pode me chamar apenas de Nakamura. — Ela apontou para que eu me sentasse no sofá.

Eu obedeci.

— Um momento, vou pegar algo para você beber. Acabei de preparar um chá ótimo.

A casa da senhora Nakamura era simples, mas acolhedora. Quadros antigos nas paredes, alguns vasos de plantas nas janelas e o cheiro suave de chá recém preparado no ar.

Ela voltou alguns minutos depois, com uma bandeja nas mãos. Colocou-a sobre a mesa de centro e me ofereceu uma xícara de chá.

— Obrigado. — disse, pegando a xícara.

Ela se sentou à minha frente, cruzando as mãos sobre o colo, me observando com aqueles olhos cheios de sabedoria e gentileza.

— Veio falar da minha neta? — comentou, em um tom calmo.

Eu hesitei por um momento, olhando para a xícara de chá nas minhas mãos. Como eu deveria começar?

— Sim...

Ela se inclinou um pouco para frente, o olhar cheio de compreensão, e depois sorriu suavemente.

— Ela não costuma fazer isso comigo também.

— O quê? — perguntei, curioso.

— Conversar sobre os problemas e o que a incomoda. Desde pequena, nunca teve o hábito de se abrir. Acredito que ela só tenha feito isso uma única vez — disse, soltando um leve suspiro. — E foi sobre você.

— Sobre mim?

— Ela te viu beijando outra garota. Chegou aqui muito abalada e chorou o dia inteiro. — completou, com uma tristeza discreta no olhar.

A revelação dela me atingiu como um soco no estômago. Fiquei paralisado, as palavras dela ecoando na minha cabeça. Eu me lembrei do dia em que isso aconteceu, mas nunca imaginei que Harumaki tivesse visto.

— Eu... não sabia que ela tinha me visto — murmurei, desviando o olhar, sentindo a culpa crescer dentro de mim.

Eu respirei fundo, tentando processar aquilo.

— Não precisa se preocupar e se culpar tanto, Ryuguji. Está tudo bem, tudo vai se resolver. — Ela sorriu, seu olhar parecia tão gentil. Igual ao da Maki.

O peso da responsabilidade caiu sobre mim, mas junto com ele, a vontade de consertar as coisas também crescia.

— Obrigado — respondi, minha voz um pouco mais firme, mas ainda carregada de incerteza. — Eu só... não quero machucar ela de novo.

A senhora Nakamura assentiu lentamente, seu sorriso suave permanecendo.

— O primeiro passo é esse, Ryuguji. Sei que algo está errado, ela anda distante, mas também sei que não vai me contar — sorriu com carinho — ela acha que somos velhos e não quer preocupar nem a mim, nem o avô. Acredita que ela reuniu todos os amigos do Ryota para jogarem bingo duas vezes por semana?

Tudo O Que Eu Queria · Ken RyugujiOnde histórias criam vida. Descubra agora