Tudo O Que Eu Queria · Ken Ryuguji

27.

Sábado, 12 de fevereiro

Fiz questão de ligar para cada um. Tudo estava se prolongando mais do que eu gostaria. Mas, ultimamente, todos estão ocupados, e eu não conseguiria resolver isso sozinho. 

Cheguei à casa do Mitsuya mais cedo do que o resto do grupo. Bati na porta, e ele abriu rapidamente, como se já estivesse me esperando.

— Entra aí — disse, dando espaço.

Sentei no sofá, olhando ao redor. Não sabia por onde começar, nem o que falar primeiro. A verdade é que minha cabeça estava uma bagunça.

— Todo mundo já tá vindo? — perguntou ele, se jogando na poltrona ao lado.

— Sim, vão chegar logo — respondi, mexendo no celular.

Mitsuya me olhou, como se sentisse o peso das coisas em mim.

— Cara, o que tá pegando? Você não tá bem.

Soltei um suspiro. Eu sabia que precisava abrir o jogo, mas encontrar as palavras certas parecia impossível naquele momento. Mitsuya não tirava os olhos de mim, esperando que eu dissesse alguma coisa.

— Tá complicado. — falei finalmente. — Harumaki... ela tá mal. Tem muita coisa que eu não sabia sobre ela, sobre o que ela passou. E agora... tem a Emma também.

Ele franziu o cenho, visivelmente confuso.

— O que rolou com a Emma?

Eu hesitei por um momento, tentando encontrar as palavras certas.

— Ela me disse que me ama — confessei, sentindo o peso daquelas palavras de novo, como se tudo estivesse caindo sobre mim de uma vez. — E eu... cara, eu não sei o que fazer. Eu me importo com ela, de verdade, mas...

Mitsuya ficou em silêncio por um momento, processando tudo. Então, ele soltou um suspiro profundo.

— Sabe Draken, você é durão, mas prefere se magoar ao invés de magoar outra pessoa. — sorriu.

 Eu fiquei em silêncio, absorvendo as palavras de Mitsuya. Ele me conhecia bem demais.

— Talvez você esteja tentando proteger todo mundo — ele continuou, o tom mais calmo —, mas no fim das contas, vai acabar se machucando mais ainda. E, cara, se você não for sincero agora, tanto com a Emma quanto com a Harumaki, isso só vai piorar.

Eu olhei para ele, sentindo o peso das palavras. Ele estava certo. Eu queria evitar magoar as pessoas que eram importantes para mim, mas ao fazer isso, estava me enterrando cada vez mais nesse ciclo de incerteza e culpa.

— Mas como eu vou fazer isso sem estragar tudo? — perguntei, exasperado. — Parece que, de qualquer jeito que eu escolha, alguém vai acabar magoado.

Mitsuya suspirou, cruzando os braços enquanto pensava.

— Isso não vai ser fácil, mas não dá pra viver fugindo dos problemas. Se a Harumaki tá mal, você precisa estar lá por ela de verdade. E se você sente algo diferente pela Emma... então precisa ser honesto sobre isso.

— Eu tentei ser honesto com Emma, mas, ela me lembra da promessa e sempre fala o quão bom é estar comigo e estarmos juntos.

Mitsuya assentiu, absorvendo o que eu disse, e suspirou antes de responder.

— Eu entendo. A promessa pesa, né? — ele disse calmamente. — Mas, Draken, às vezes as coisas mudam. O que você prometeu naquela época pode não ser o que você sente agora. E isso não significa que você tá sendo desleal ou quebrando sua palavra. Só significa que as pessoas crescem, mudam, e é natural que os sentimentos também mudem.