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Terça-feira, 08 de fevereiro


Eu, Mikey e Takemichi andávamos em direção a uma lanchonete. Era por volta das 18h14, e, por um momento, as preocupações pareciam distantes. A conversa fluía tranquilamente enquanto falávamos sobre motocicletas, um dos poucos assuntos que ainda trazia um pouco de paz para mim.

— Eu vi uma nova Harley na loja do centro outro dia. — Comentei. — É uma máquina. Bem mais potente do que qualquer coisa que vimos nos últimos anos.

— Harley, hein? Aquelas são incríveis. Já pensou em trocar a sua, Kenzinho? — Mikey falou animado.

Eu ri, balançando a cabeça. — Nem pensar. Minha moto ainda tem muito chão pela frente. Mas seria bom testar uma dessas. Quem sabe um dia.

Takemichi, que ouvia a conversa em silêncio, finalmente se pronunciou, parecendo mais aliviado por estarmos falando de algo diferente de lutas e gangues.

— Vocês dois realmente são obcecados por motos, hein? — Ele disse com um sorriso. — Eu mal sei andar numa bicicleta direito, quem dirá uma moto.

Eu e Mikey rimos.

— A gente precisa te ensinar, Takemichi. — Mikey disse, empurrando Takemichi de leve no ombro. — Você nunca vai entender a liberdade até pilotar uma de verdade.

 Andávamos por uma área mais vazia, onde ficam os armazéns dos mercados próximos. Quando escurece, não se vê ninguém por aqui — é perigoso. Mas não para mim, para o Mikey, ou para os membros da Toman, exceto pelo Takemichi, claro. Sempre passamos por aqui. A lanchonete ficava a duas quadras, depois dessa parte deserta.

Quando dobramos a esquina para atravessar a rua, os vimos. Todos eles. Estavam no antigo estacionamento de um mercado que foi demolido.

— Mikey, eles não iam atacar só na quinta? — Takemichi perguntou, com a voz trêmula.

Vi Takemichi dar alguns passos para trás, se escondendo atrás de mim. Eles se aproximavam lentamente, mas havia um que se destacava. Ele era alto, tinha o cabelo preto com uma mecha loira, e tinha um cigarro na mão. Caminhava com as mãos nos bolsos, como se estivesse apenas passeando.

Quem é esse?

— Que chato. — Ele disse, parando na nossa frente, enquanto os outros membros da Moebius ficaram a poucos metros, observando.

Mikey deu um passo à frente, o olhar fixo e sem desviar. — Te conheço?

Os membros da Moebius começaram a se posicionar ao redor, formando um círculo quase perfeito. Eles nos cercaram devagar, como predadores cercando a presa. Senti Takemichi se encolher mais atrás de mim, claramente tenso.

— Não importa quem eu seja. Mas, eu sou o responsável pela Moebius agora. Meu nome é Hanma.

— Então você é o desgraçado que controla tudo por baixo dos panos? — Mikey respondeu, sua voz era firme.

— Você realmente é um pé no saco, Mi... — Hanma tentou continuar, mas foi interrompido por um chute rápido de Mikey. No entanto, Hanma foi ágil e conseguiu bloquear, segurando o chute com o antebraço.

Eu e Takemichi ficamos surpresos, mas não éramos os únicos. Todos ali, inclusive Mikey, estavam com expressões de choque. Hanma apenas sorriu, um sorriso largo e provocador começando a se formar em seu rosto.

— Ele conseguiu parar o chute do Mikey? — Takemichi disse.

O sorriso de Hanma se alargou, revelando um prazer cruel. Ele olhou para Mikey com uma mistura de desdém e diversão, como se a situação fosse um jogo para ele.

Tudo O Que Eu Queria · Ken RyugujiOnde histórias criam vida. Descubra agora