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Domingo, 30 de janeiro


 — Vovó, por que dói tanto? — Perguntei, enquanto ela passava os dedos gentilmente pelo meu cabelo, sorrindo para mim. Do mesmo jeito que Ken fazia.

— Oh, minha querida, eu sei como é. O primeiro coração partido parece ser o mais doloroso — ela respondeu com uma voz suave e cheia de compreensão. — A dor é intensa porque você está vivendo algo novo e desconhecido. É como se o mundo inteiro estivesse mudando e você não soubesse como se ajustar a ele.

Eu olhei para ela, ainda com lágrimas nos olhos, tentando absorver suas palavras.

— Mas como posso superar isso? Como posso parar de sentir essa dor?

A vovó colocou uma mão carinhosa em meu rosto, enxugando uma lágrima que escorria pelo meu rosto.

— Com o tempo, querida. A dor vai diminuir, e você vai aprender a lidar com ela. O que importa é que você se permita sentir, e que se rodeie de pessoas que te amam e te apoiam. A dor vai ensinar algo a você, e um dia, você vai olhar para trás e ver que, apesar da dor, você se tornou mais forte e mais sábia.

Eu respirei fundo, tentando me acalmar com suas palavras. Embora a dor ainda fosse intensa, a presença da minha avó e seu carinho me davam um pouco de alívio.

— A imagem dele beijando a Emma não sai da minha cabeça. Eu queria tanto estar no lugar dela. Mas eu não o julgo; talvez se eu fosse mais bonita...

A vovó me olhou com um olhar de ternura e um toque de firmeza.

— Sua beleza não é o que define seu valor. O amor verdadeiro não se baseia apenas na aparência. Muitas vezes, o que sentimos como dor é um reflexo da nossa insegurança e da nossa autoimagem. É importante que você saiba que você é especial exatamente do jeito que é, e muito bonita também. O que aconteceu com Ken e Emma é uma parte da vida, mas não define quem você é ou o que você merece.

Ela me abraçou, e eu me deixei envolver pelo conforto de seus braços.

— Mas eu o amo tanto.

A vovó apertou meu abraço, como se quisesse me proteger de toda a dor que eu estava sentindo.

— Eu sei, querida. O amor que você sente é real e profundo, e é natural que seja doloroso ver a pessoa que você ama com outra pessoa. Mas o amor verdadeiro não é apenas sobre estar com alguém, mas também sobre aprender e crescer com as experiências que a vida nos oferece. Às vezes, o amor nos leva a caminhos difíceis para que possamos nos conhecer melhor e nos tornar mais fortes.

Ela me olhou nos olhos, com um olhar cheio de compreensão e compaixão.

— O que você está passando é difícil, mas lembre-se de que você é capaz de superar isso. Dê-se o tempo e o espaço que precisa para se curar. E não se esqueça de que você merece ser amada e respeitada por quem você é. 

Eu respirei fundo.

— Agora, você precisa comer. Desde que chegou aqui ontem, não comeu nada. Só ficou deitada.

— Não estou com fome, vó. Mas, muito obrigada.

— Vamos, por favor. Tente.

Eu não queria deixá-la triste ou preocupada. Eu podia ser um desastre em muitas coisas, mas não podia ser uma péssima neta também. Ela não merecia.

— Eu vou tentar. — Falei, tentando esboçar um sorriso para tranquilizá-la.

Minha avó me ajudou a levantar e me levou até a cozinha, onde preparou um prato simples. Eu me sentei à mesa e, mesmo sem vontade, me esforcei para comer. O sorriso dela ao me ver comendo me trouxe um pouco de conforto.

Enquanto eu comia, a conversa fluía de maneira suave e reconfortante. Ela falava sobre o passado, histórias e memórias que sempre me faziam sentir mais segura. Depois de um tempo, comecei a me sentir um pouco melhor. Não completamente, mas um pouco mais forte.

Depois que terminei de comer, coloquei os talheres de lado e respirei fundo. Minha avó percebeu o movimento e sorriu, satisfeita.

— Viu só? Um passo de cada vez. — Ela falou com aquele tom carinhoso e calmo que sempre conseguia me alcançar, mesmo nos momentos mais difíceis.

— Obrigada, vó. — Minha voz saiu baixa, mas sincera. — Quando vô volta?

— Você sabe como ele é, quando ele está com os amigos, perde a noção do tempo. 

Ela se levantou e começou a arrumar a cozinha, mas sem tirar os olhos de mim. Havia algo reconfortante na maneira como ela sempre estava presente, sem fazer perguntas demais ou pressionar. Apenas estando ali.

— Acho que vou descansar um pouco. — disse, me levantando devagar.

— Claro, querida. Descanse o quanto precisar. — Ela sorriu, secando as mãos no avental. — Se precisar de mim, estarei aqui.

Caminhei até o quarto, ainda sentindo um peso no peito, era fácil fingir que está bem quando já faz parte da rotina. Deitei na cama e olhei para o teto, tentando organizar meus pensamentos. A imagem de Ken e Emma ainda pairava na minha mente, a cena deles se beijando, como um filme que não parava de rodar, trazendo com ele uma dor cortante.

Tudo estava desmoronando de uma só vez. Eu não conseguia mais segurar as lágrimas. Meu peito doía tanto que parecia impossível respirar, como se o peso de tudo estivesse me sufocando. Senti o calor das lágrimas escorrendo pelo meu rosto, e quanto mais eu tentava controlar, mais forte elas vinham.

Eu chorava por Ken, por Emma, pelo meu coração partido. Chorava pelo medo constante de sair na rua, pelas noites sem dormir, pelos pesadelos que não me deixavam em paz. Chorava por não conseguir estudar e pela pressão crescente que sentia a cada dia com o vestibular se aproximando. Chorava por cada parte de mim que parecia estar se quebrando, por cada esperança que aos poucos parecia desaparecer.

— Por que está acontecendo tudo isso? — sussurrei para o vazio, minha voz quase inaudível entre os soluços. Senti minhas mãos tremerem, apertando o cobertor em busca de algum tipo de consolo que nunca chegava.

Era como se o peso de todas as coisas acumuladas estivesse me esmagando de uma vez. Eu não sabia mais como suportar aquilo, não sabia mais onde encontrar forças para continuar fingindo que estava bem.

Tudo O Que Eu Queria · Ken RyugujiOnde histórias criam vida. Descubra agora