Terça-feira, 24 de fevereiro
— Feliz aniversário. Aproveitando a hospedagem? — perguntei, tentando aliviar o clima pesado da sala de visitas.
Pah Chin gargalhou do outro lado do vidro, sua risada alta reverberando pelo pequeno espaço, mas era uma risada carregada de uma amargura que eu conhecia bem.
— Não é exatamente o resort dos sonhos, mas... já estive em lugares piores — ele respondeu com um sorriso torto, dando de ombros como se quisesse parecer despreocupado. Mas eu sabia que, lá no fundo, aquilo pesava nele.
Mikey estava ao meu lado, quieto, apenas observando. Ele sempre foi assim nesses momentos, absorvendo tudo, tentando ler nas entrelinhas. Pah Chin e ele tinham uma conexão forte. E agora, com ele preso, eu sabia que Mikey sentia o peso da ausência do amigo.
— E vocês? Como tá a vida aí fora? — Pah Chin perguntou, os olhos brilhando de curiosidade, mas com aquele desejo de se conectar de novo, de sentir que ainda fazia parte do nosso mundo.
Contamos tudo o que tinha acontecido nas últimas semanas.
— Harumaki, né? Coitada, ela é uma boa menina, foi super gentil comigo. Espero que tenham espancado todos eles.
— Se você visse, ficaria orgulhoso — Mikey respondeu, com um sorriso despreocupado. — Kazutora apareceu também. Consegui bater um pouco, mas o Baji impediu.
— Deixaram esse cara sair do centro de detenção juvenil? E onde ele tá agora? — Pah Chin perguntou curioso.
— O Baji levou ele pra longe do alcance do Mikey. Ontem ele nos disse que pediu para o namorado da mãe internar ele também. Baji levou o Kazutora inconsciente pra lá. — Suspirei. — Não queria que ele fosse espancado igual aos outros.
Pah Chin escutava atentamente, seu olhar focado em nós enquanto absorvia as informações. Ele parecia aliviado ao ouvir que Kazutora não estava mais a solta e que havia algum cuidado envolvido.
— É bom saber que pelo menos ele não tá por aí causando mais problemas — disse Pah Chin, um tom de satisfação na voz. — O Baji sempre teve uma maneira própria de lidar com as coisas. Não é fácil, mas pelo menos ele tenta fazer o que acha certo.
Mikey assentiu com um gesto de cabeça.
— E quanto a você, Pah Chin? Como está se adaptando aqui?
Pah Chin fez uma careta, mas sorriu de volta, um sorriso que parecia misturar um pouco de humor com resignação.
— Bem, já me acostumei com a rotina. Não é a vida que eu queria, mas é o que eu tenho agora. E vocês, parece que estão todos lutando bastante. Continue assim.
Houve um momento de silêncio enquanto refletíamos sobre o que ele disse. A conversa seguiu, com Mikey e eu atualizando Pah Chin sobre outros detalhes menores, mas importantes.
— A Toman tá crescendo, mesmo que a maioria dos membros da moebius tenham saído, mas nada disso é o mesmo sem você. — Mikey disse.
— É, eu imagino — Pah Chin murmurou, sua expressão ficando séria por um momento. — Mas vocês têm que continuar. Não dá pra deixar tudo desmoronar só porque eu tô fora.
Eu soltei um suspiro pesado, sentindo a pressão daquela responsabilidade também. Mikey e eu estávamos lidando com tanto... mas Pah Chin, preso ali, estava vivendo uma realidade ainda mais difícil.
— A gente vai continuar. Mas não é a mesma coisa sem você, Pah. — Eu disse, a sinceridade evidente na minha voz.
— Vai passar rápido — ele disse, tentando soar otimista. — E quando eu sair, a Toman vai estar ainda mais forte. Só... não façam nada estúpido até lá, tá?
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Tudo O Que Eu Queria · Ken Ryuguji
FanfictionEm meio ao caos e às aventuras de uma gangue de delinquentes, surge uma história de amor entre um garoto confuso e uma garota emocionalmente estável. No entanto, o caminho do amor deles não é fácil. Uma terceira pessoa entra em cena, tornando tudo a...