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Quarta-feira, 25 de fevereiro


Hoje, amanheci melhor. Senti que o peso e o ressentimento estavam finalmente se dissipando. Ter conseguido uma vingança e resolvido tudo com a Emma me dava uma sensação de alívio, mas, na verdade,

Tudo o que eu queria

Ainda estava longe de mim.


— Boas notícias, pessoal! — Yuto sorriu enquanto pegava uma pasta de sua bolsa.

Nossos olhos brilharam e começamos a sorrir.

— Ela já vai sair de lá? — Takemichi perguntou animado.

— Não. — Toda a nossa alegria desmoronou. — Mas ela conseguiu desabafar pela primeira vez desde que chegou lá. Ou seja, agora está mais perto de melhorar do que nunca.

Eu suspirei, sentindo um alívio tão grande, e todos ao meu redor sentiram o mesmo.

— Bem, ela disse que queria que vocês soubessem disso também, pois isso a deixava mais confiante. Então decidimos transcrever o que ela disse, para que vocês pudessem ler também.

Yuto nos entregou a pasta, e eu a abri com as mãos trêmulas, sentindo uma mistura de alívio e nervosismo. Todos se aproximaram, curiosos e ansiosos para ler o que Harumaki havia dito.

— Aqui está — falei, puxando a folha de papel e começando a ler em voz alta.


"M: Como foi sua infância?

 H: Foi boa, minha família sempre fez de tudo por mim... mas, ao mesmo tempo, acho que sempre me senti um peso. Minha mãe sempre me dizia que eu era forte, mas eu via o quanto ela se preocupava. O tempo todo. Sabe, me sentia como se estivesse sempre falhando com ela, como se todo o esforço que ela fazia não fosse o bastante para me fazer... sei lá, normal.

M: Você se via como diferente?

H: Sim, eu me sentia assim. Na escola, era pior. Eu não era muito boa em fazer amigos, e sempre havia aqueles que me tratavam mal, zombavam de mim. Sofri bullying por muito tempo, e eu... nunca quis contar para minha mãe, sabe? Não queria preocupá-la ainda mais. Mas, acho que ela via os machucados quando eu chegava em casa.

M: Deve ter sido difícil carregar isso sozinha.

H: Era. Eu me isolava. Tinha dias em que eu só queria desaparecer. Mas, ao mesmo tempo, sentia que se eu falasse sobre isso, se admitisse que estava sofrendo, estaria decepcionando minha mãe, mostrando que eu não era forte como ela acreditava.

M: Então você sentia que tinha que manter essa fachada de força, mesmo quando estava machucada por dentro?

H: Exato. E conforme o tempo passava, aquilo foi se acumulando, até que eu não sabia mais como lidar. E então minhas notas começaram a cair, e minha mãe me olhou com aquele olhar. O mesmo olhar de quando ela me contou que o cara que ela estava apaixonada, sumiu da vida dela ao saber da minha existência. 

M: Esse olhar, você acha que estava relacionado a uma decepção, ou algo mais profundo?

H: Eu acho que era uma mistura de decepção e tristeza. Como se ela visse em mim tudo que deu errado na vida dela, mas nunca pudesse dizer isso em voz alta. Acho que ela esperava que eu fosse a compensação por todas as perdas que ela teve, e isso me sufocava.

M: Você se sentia responsável pela felicidade dela?

H: Sim. E quanto mais eu falhava em ser essa filha perfeita, mais me afundava nesse sentimento de ser um peso. As pessoas da escola só reforçavam isso, me faziam sentir como se eu não fosse boa o suficiente para ninguém, nem para minha própria família.

Tudo O Que Eu Queria · Ken RyugujiOnde histórias criam vida. Descubra agora